David Coverdale: Em respeito à minha idade, nossas turnês serão mais curtas
O amor, em suas diversas variáveis, não é estranho ao inglês David Coverdale. Mas uma das modalidades, em especial, foi colocada em xeque em sites e blogs no ano passado: o vocalista do Whitesnake, que apresenta seus sucessos nesta quinta (22) em São Paulo, estaria se aposentando de seus adorados palcos.
Na verdade, e para o suspiro dos fãs, tudo não passou de um mal-entendido em uma entrevista. Um “telefone sem fio”. “Eu nunca vou me aposentar da música”, diz ao UOL, por telefone, um lépido Coverdale, falando de sua casa/estúdio em Incline Village, no Estado de Nevada.
Não que nada tenha mudado para ele: “É importante para mim impor um limite nas turnês, em respeito à minha idade. Nesse ano já fiz 10, 12 semanas de shows. Eu não vou fazer mais turnês longas. Mas, desde que consiga aguentar fisicamente, vou continuar.”
Completando 65 anos nesta quinta, Coverdale é um dos símbolos mais duradouros do hard rock. Dono de timbre grave e rasgado, ideiais para refrães ganchudos, foi um dos principais responsáveis pela transição do gênero, antes mais cadenciado e blueseiro, para o estilo de arena nos 1980. Tão amado quanto odiado.
Nos anos 1970, antes de embalar corações “metaleiros” –e propagandas de cigarros Hollywood—, David era um vendedor de roupas em boutiques do norte inglês. Tirou a sorte grande ao ser aprovado em uma audição do Deep Purple, que então procurava um substituto para Ian Gillan.
O sucesso veio logo na estreia em disco: “Burn”, um dos grandes clássicos do Deep Purple e da década. Parte desse repertório costuma ser revisitado ainda hoje por Coverdale em shows e estúdio. Mas, segundo ele, reviver os tempos clássicos não é opção.
Primeiro: o cantor ficou extremamente magoado com a intransigência do ex-guitarrista Ritchie Blackmore, que em abril se recusou a subir no palco com os ex-colegas para ser induzido ao Rock in Hall of Fame. “É muito difícil dizer isso, por que ele foi meu ‘professor’, mas fiquei abalado e a ainda estou ‘puto’.”
Segundo, ele teria que abrir mão do Whitesnake: “Não há nada mais inspirador do que uma multidão gritando loucamente por músicas que amam. Cantando os riffs e cada palavra que compus. E ainda ser inspirado por músicos incríveis. Por que eu acabaria com tudo isso?”
Romântico até o último fio de cabelo dourado, Coverdale tem uma fixação histórica pela palavra/conceito “amor”. A saber: "Fool for Your Loving", “Is This Love”, “Love Ain't No Stranger”, "Guilty of Love", “Give Me All Your Love"… Só para citar cinco títulos de suas músicas. E apenas com o Whitesnake. Um manancial (sem fundo) de inspiração.
“Quando era criança, antes de ser músico. eu costumava escrever poemas. Algo em mim me fazia expressar de forma diferente da dos meus amigos. Assim que aprendi uns acordes na guitarra e piano, alguns desses poemas começaram a virar música", relembra.
“Era muito necessário para mim. E ainda é. Mas eu raramente sento para escrever uma música de amor. É só o que acontece. Eu adoro árvores, tenho uma grande preocupação com as questões climáticas. Mas a coisa mais inspiradora de todas na minha vida é o amor.”
Política
Também cidadão americano, Coverdale, que se diz politizado, mostra polidez ao se deparar com a seguinte e capciosa pergunta: o que seria pior, a recente saída do Reino Unido da União Europeia ou uma eventual vitória de Donald Trump nas urnas?
“Se a gente tivesse uma taça de vinho, eu te daria uma resposta. Eu raramente uso minha posição de artista para falar de política. Todos esses velhos fdp fazem acordos que não beneficiam nenhum de nós”, tergiversa, para em seguida elogiar o democrata Obama.
“Fiquei desolado há pouco tempo, por que não pude conhecer o Obama. Ele esteve com meu filho, mas eu estava ocupado e não pude ir. Eu adoro o Obama. Ele será conhecido como um dos melhores presidentes que esse país já viu.”
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