Por que "Songs in the Key of Life" é um dos maiores discos da história
Desiludido com os rumos da política e do governo do então presidente Gerald Ford, Stevie Wonder pegou o mundo de surpresa em 1975. Milionário aos 24 anos, o astro viajou a Gana para realizar trabalhos filantrópicos, sinalizando que este poderia ser o fim de uma trajetória na música.
Sua gravadora, a Motown, precisou agir rápido: convocou Stevie e colocou à sua mesa um indecoroso contrato de US$ 13 milhões, que garantia a ele 20% de royalties sobre as vendas de seu próximo trabalho e total liberdade artística.
Stevie aceitou o investimento, o maior já feito até então em uma estrela da música, e o retorno veio à galope.
“Songs in the Key of Life”, primeiro registro duplo do cantor, não só foi direto ao topo das paradas como se tornou um dos maiores e mais grandiloquentes —no bom sentido— álbuns da história da música.
Sucesso comercial, foi lançado no dia 28 de setembro 1976, há exatos 40 anos, e ainda surpreendente em seu mergulho profundo na mente de Stevie Wonder, que tirou o título ao disco de um sonho.
"De todos os meus álbuns, 'Songs in the Key of Life' é o que mais me deixou feliz", disse Stevie em entrevista à revista "Q", em 1995. "Só por estar vivo naquela época, sendo pai e com Deus me dando toda a energia e força que eu precisava."
Entenda a seguir por que o 18° trabalho de estúdio de Stevie Wonder entrou para o rol dos maiores de todos tempos.
Estilo visionário
Stevie Wonder mudou o curso da chamada black music com "Songs In The Key Of Life”. O álbum sofisticou seu estilo e o elevou a um patamar de sofisticação inédito. Não por acaso, o álbum costuma ser comparado a “Sgt. Pepper's...”, dos Beatles, por seu estilo visionário. Falando sobre suas experiências de vida, da espiritualidade ("Have a Talk With God") ao seu lado engajado ("Village Ghetto Land”), passando por um novo amor fraternal (“Isn't She Lovely?”), Stevie explora à exaustão timbres nos sintetizadores, flertando com vários outros estilos: rock (“As”), jazz (“Sir Duke”) e até com a música barroca em melodias e harmonias ("Pastime Paradise"). Não bastasse seus tantos predicados, a obra provou que não havia limites para o soul —nem para qualquer outro gênero.
Exército de músicos
Com o orçamento hollywoodiano, “Songs in the Key of Life” contou com nada menos do que um exército de 130 músicos para construir 17 faixas. Além de cantor, compositor e produtor, Stevie Wonder funcionou como uma espécie de maestro durante dois anos em estúdio. Para dar personalidade ao conjunto, cada música traz uma formação diferente. Entre os convidados estão nomes experientes de estúdio e algumas lendas. Enquanto o guitarrista George Benson toca em "Another Star", o jazzista Herbie Hancock emenda os teclados em “As” e a estrela pop Minnie Riperton constrói harmonias em “Ordinary Pain"
Samplers famosos
Mesmo se você nasceu nos anos 1980 e não tem lá muito interesse pelo soul ou pela música dos anos 1970, “Songs in the Key of Life” já deve ter ecoado bastante na sua cabeça. O álbum é um dos mais sampleados de sua época por artista de rap. Para citar apenas dois exemplos: o megahit "Gangsta's Paradise", de Coolio, trilha do filme "Mentes Perigosas", nada mais é do que adaptação da sofisticada "Pastime Paradise". Já "Wild Wild West", de Will Smith, incluída em "As Loucas Aventuras de James West", tem instrumental e melodias emprestados de "I Wish", favorita entre rappers.
Disco de cabeceira do pop atual
Prince já afirmou que “Songs in the Key of Life” é o melhor disco já gravado. Fã confessa, Mariah Carrey vai na mesma linha. Whitney Houston disse que seu estilo de cantar seria outro se não tivesse escutado a obra. Na atual geração, a admiração não é menor. É um disco que está na cabeceira (ou no player digital) de, por exemplo, Beyoncé, Lady Gaga, Pharrell Williams e Janelle Monáe. A indústria também se curvou ao trabalho. Sucesso de crítica, deu a Stevie Wonder quatro Grammys e o levou a ser incluído no acervo da Biblioteca do Congresso americano. Barack Obama, por sinal, já o citou como um dos seus álbuns prediletos.
Sucesso comercial
A carta branca que a Motown deu a Stevie Wonder não veio sem uma boa dose de desconfiança. Natural. O lançamento do projeto atrasou, causando angústia entre fãs e executivos da gravadora. Nara era mais importante em 1976 do que o novo disco do artista. Como parte da estratégia de marketing, Stevie chegou a andar com uma camiseta trazendo a inscrição “Estamos quase terminando”. A loucura foi tanta que o “Songs...” conseguiu o feito de recebeu disco de platina antes mesmo de chegar oficialmente às lojas. Com quatro singles de sucesso, o álbum vendeu mais de 10 milhões de cópias apenas nos Estados Unidos, recebendo certificado de diamante, algo raro para um disco duplo.
Parte gráfica luxuosa
A embalagem de “Songs in the Key of Life” é quase tão grandiosa quanto o projeto em si. A versão original, em LP, traz um luxuoso libreto de 24 páginas com as letras e arte do álbum. Como cereja do bolo, especialmente para os colecionadores, o disco trazia em em edição especial um EP com quatro faixas inéditas: "Saturn", Ebony Eyes", "All Day Sucker" e "Easy Goin' Evening (My Mama's Call)", posteriormente incluídas nas versões em CD e digital. Essa edição em vinil, em bom estado de conservação, pode chegar facilmente a R$ 500.
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