Mais visto que Emicida e Projota, Hungria bomba com "rap universitário"
"Então quer me taxar de boy, não sabe o meu passado. Quem disse que o favela não pode morar no Lago?", canta o brasiliense Hungria Hip Hop na música "Lembranças", fazendo referência à região classe alta da capital federal. Sem camisa, usando correntes, pulseira e relógio de ouro, ele surge em meio a imagens de crianças jogando futebol na várzea e carrões envenenados.
Referências à própria trajetória podem ser vistas na maioria dos clipes do jovem de 25 anos, variando apenas o veículo e alguma sacada na letra. Uma mina de cliques, essa espécie de rap ostentação/superação registra, em média, 19 milhões de visualizações em cada música. Mais --e muito-- do que trabalhos recentes dos respaldados Criolo, Emicida e Projota.
Mas por que não se fala tanto de Gustavo da Hungria Neves, que tem anos de estrada, um álbum, um EP e duas coletâneas no currículo? A explicação pode ser geográfica. "São Paulo e Rio é onde realmente acontece tudo. Isso influencia, sim. Mas eu vou romper essa barreira de Brasília e levar meu som para o Brasil todo", promete ele, que cresceu na periferia de Cidade Ocidental, no entorno de Brasília, e não tem planos de se mudar do Planalto Central.
Diferentemente de colegas, Hungria aposta em um rap "good vibe", mais melódico e com seus momentos de auto-tune (o software que afina a voz). Em vez de meter o dedo na desigualdade social e mazelas do crime, ele, filho de um funcionário público com uma ex-empregada doméstica, gosta é de olhar o lado bom da vida.
"No Brasil, tem muito aquele estilo de rap mais gangsta, muito agressivo, com aquele discurso que cresceu durante os protestos contra o governo. Nada contra, mas meu estilo chegou rasgando essa regra. Como que dizendo que rap não é só aquilo", entende.
"Eu nasci numa quebrada em que a violência era grande demais. Mas deixo isto bem claro: não tenho como cantar o crime, porque não vivo o crime. Não tenho como cantar sobre a fome, porque, graças a Deus, minha família é estruturada e nunca deixou faltar pão na mesa."
Apesar dos clipes estrelados por carrões e cercado de mulheres, o rapper refuta o rótulo da ostentação, com o qual diz não se identificar em nada. Quer ainda tirar da Wikipédia a alcunha de "playboy do rap", atribuída a ele mesmo. "Já tentei mudar essas paradas, mas não consigo."
Sobre o funk de São Paulo, a influência, ele diz, está na realidade da periferia paulista, não na sua música. "Respeito muito, mas minha referência é outra. Sou totalmente desvinculado da ostentação. Tem gente que fala dos carrões. Mas, cara, meu sonho, assim como o da molecada da minha área, a princípio, não era ser formado. Era ter o primeiro carro", lembra ele. "Ostentação, para mim, é ostentar sorriso."
Rap de balada
As rimas paz e amor de Hungria, quase uma apropriação universitária do rap, costumam ser criticadas pelos puristas. Mas ele dá de ombros. Ter tomado as rédeas da carreira em 2013, após deixar os projetos Sentinela e Son d'Play, é o que mais importa no momento. Foi quando, enfim, conseguiu fazer o que mais preza: falar o que der na telha e sem palpites.
"Eu nunca trabalhei. Já fui estagiário. Porém, nunca gostei do trabalho. Uma vez, quando me vi na frente do computador, decretei que meu sonho não podia morrer ali num escritório. Tinha que ir mais além e correr atrás do que queria", conta Hungria, que cursou até o quarto semestre de administração e, agora, pretende preservar a imagem.
Após a entrevista, sua assessora pediu ao UOL para não divulgar os veículos que ele tem na garagem --um deles, inclusive, aparece no videoclipe de "Lembranças". "Eu sou um cara normal, cara. Gosto de tomar minha minha cerveja, minha vodca. Fico louco na madrugada, tudo isso. Não sou diferente de ninguém de onde vim."
A conta bancária e a preocupação com a mãe, no entanto, parecem estar acima da média. Recentemente, Hungria vendeu uma moto por causa dela. "É perigoso, né? Minha família fica muito preocupada. Tive que vender para deixar minha mãe dormir (risos)".
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