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Após músicas em novelas, Bian levanta bandeira para lésbicas e um novo pop

Aos 21 anos, Bian investe no pop eletrônico e se torna ídolo gay teen - Larissa Dare
Aos 21 anos, Bian investe no pop eletrônico e se torna ídolo gay teen Imagem: Larissa Dare

Tiago Dias

Do UOL, em São Paulo

07/10/2016 10h20

A voz de Bian já passeou pela TV --na trilha das novelas "Malhação" e "Verdades Secretas"-- e deu outro tom para "Sorry", hit de Justin Bieber, em uma versão intimista, apenas com voz e piano. Mas a cantora carioca de 21 anos tem dado pequenos passos para que seu timbre suave dê visibilidade a um único personagem: ela mesma.

Às voltas com a produção de seu primeiro disco, Bianca --seu verdadeiro nome-- tem formado ouvintes fiéis que já a veem como um ídolo teen e, em uma causa especial, gay. Bian é lésbica assumida em uma cena aberta e diversificada, mas em que as mulheres de ainda não costumam expor claramente sua militância.

"Há poucas mulheres lésbicas falando sobre iisso. É muito importante frisar e falar sobre representatividade. Dentro da nossa diversidade, esta ainda é uma luta", defende.

Sua bandeira está justamente nas canções românticas que escreve desde os 14 anos, e que têm sido, cada vez mais, direcionadas sempre a uma mulher. Assim foi em "Hands" e "Move On". Todas em inglês.

Lançada no mês passado, "Move On" ganhou um lyric vídeo mais explícito, com um casal de mulheres se pegando dentro de um carro. Para Bian, não se trata de direcionar a carreira para um nicho, mas sim colocar a Bianca em primeiro plano.

"Isso também está na minha vida pessoal, é uma luta diária minha. Na fila do banco, na conversa com amigos e nas entrevistas. Eu vou lutar por igualdade das mulheres gays, porque ainda é uma luta mesmo dentro do mundo gay", explica.

Tom dissonante

Mas Bian não é só uma bandeira. Desde o início do ano, ela tem trabalhado em cima de texturas sônicas e criado, ao seu modo, um pop eletrônico e experimental. A produção esmerada segue o que tem sido feito lá fora por artistas e projetos como The xx, Lykke Li e Alt-J, das quais ela é assumidamente fã.

O experimento tem a ajuda do produtor Guto Guerra, que através do programa "Música na Mochila", do canal a cabo Bis, viajou pelo mundo para pesquisar sonoridades e conhecer novos instrumentos.

Assim, tem sido comum Bian usar, na mesma música, bateria eletrônica alemã e uma marimba de vidro, vinda da praia da Pipa, em Natal. "Estou estudando produção musical e me identificando com uma estética minimalista. Tenho gostado muito de misturar música eletrônica com instrumentos acústicos e exóticos".

O tom sai dissonante se comparado à cena pop brasileira hoje e ao próprio som mais folk que ela fazia no início da carreira, com "Chained" e "What If", quando ainda assinava como Bianca. "Eu nem pensei em ser mais pop, foi uma questão mesmo de identidade, de um processo de amadurecimento, natural do crescimento", observa. "A mudança foi tão significativa, que eu achei mais sincero mudar o nome também".

O visual passou a ser mais andrógino e dark, e as letras, mais confessionais, embora a dor do amor seja sempre um tema universal, sem distinção de sexo, credo ou cor. "A temática é a vivência, qualquer pessoa pode interpretar isso".