Disco póstumo celebra Sabotage e subverte destino cruel do rapper
Morre o homem, fica o som. Sabotage está vivo e atualíssimo no tão aguardado segundo álbum, lançado neste fim de semana nas plataformas digitais.
O disco póstumo leva o nome do rapper e remonta sua última semana de vida, em janeiro de 2003, quando havia começado as gravações do sucessor de “Rap é Compromisso” (1999), disco que o colocou na pista, na MTV e serviu como bússola para o futuro do rap nacional. Havia passado apenas quatro dias enfurnado no estúdio, quando teve a vida interrompida a tiros.
A costura de tantas vozes gravadas – mas poucas completas – foi operada pelo trio de produtores que ajudou a pavimentar o caminho do rapper. Rica Amabis e Tejo Damasceno (do Instituto) e Daniel Ganjaman (que depois de produzir ‘Rap é Compromisso’ ficou conhecido por sua parceria com Criolo), regem o trabalho com sagacidade e sem saudosismo.
Embora parte do novo trabalho seja conhecida em versões demos e lançamentos pontuais, "Sabotage" passa ao largo de soar datado. As letras do Maestro do Canão continuam atuais e afiadas, e navegam agora em bases feitas especialmente por seus contemporâneos.
Maior prova é “Mosquito”, que abre o álbum com batida moderna do Tropkillaz e vocais dos filhos de Sabotage. A nova versão tem rimas ainda mais frenéticas:
"Catou papel pra viver / Na moral, foi difícil / Depois que o homem inventou o revólver / Todos corremos perigo”. É o cartão de visita mais fiel ao que Sabota estaria fazendo hoje.
“Superar”, com participação do rapper Shyheim, do grupo americano Wu-Tan Clan, mantém o peso dos graves e abre as portas para os convidados celebrarem a vida do rapper em todas as 11 faixas.
A inédita “Maloca é Maré” ganha reforço de Funk Buia, do Z'África Brasil, e Rappin Hood. Já o “O Gatilho” tem harmonização de Céu, arranjo de violão e os versos contundentes de Sabotage: “Voando, sai os homens avoados, descabelado / Mesmo fato de achar tumultuado / Acorda cedo, lava o rosto, disposto / Faço a prece / Um tormento, um momento, o arrebento, ele é a febre”.
A sonoridade de “Rap é Compromisso” é revisitada em “Canão Foi Tão Bom”, com participação de DBS Gordão Chefe, Lakers e Negra Li; e “País da Fome: Homens Animais”, continuação de “País da Fome”, do clássico disco de estreia.
“Quem Viver Verá”, também conhecida como “Favela é Um Bom Lugar”, foi gravada um dia antes de Sabotage morrer, e é elevada a outro patamar com rimas do Dexter e as batidas do DJ Cia, do RZO.
“Sabotage” é a prova viva do compromisso firmado pelo rapper quando saíra da favela do Canão para o mundo. Expandir os horizontes do gênero no Brasil, sem deixar de contar a realidade social da periferia, ainda é a meta.
A lição foi feita pelos seus contemporâneos e, graças ao esforço de seus parceiros, o disco que demorou 13 anos para ser lançado subverte o destino cruel que tirou a vida de um dos maiores talentos do rap nacional. Pelo menos por 50 minutos.
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