Rick Bonadio foge de polêmicas em livro para "não revelar podres de bandas"
O produtor Rick Bonadio sabe de muita história que já aconteceu dentro e fora das paredes de seu Midas Studios, na zona norte de São Paulo. O local, que ele criou há 18 anos, já foi testemunha de gravações de bandas como Titãs, CPM 22, Ira! e até do Smashing Pumpkins, além de artistas que revelou, como Mamonas Assassinas, Charlie Brown Jr., NX Zero e Fresno.
Ele sabe de polêmicas que envolvem diversos artistas grandes e que poderiam estar na autobiografia "Rick Bonadio - 30 Anos de Música". Poderiam, mas não estão. Há motivo: ele ainda está no mercado e não quer se queimar com os atuais e futuros clientes. "Sei de muita coisa, mas não coloquei nenhuma no livro. Não quis fazer um relato tipo 'Bruna Surfistinha' ou 'Andressa Urach' e revelar os podres dos meus clientes", ressalta, acrescentando que o livro serve como motivação "para mostrar para a molecada que é possível ser produtor no Brasil".
O livro, escrito em parceria com o jornalista Luiz Cesar Pimentel, funciona quase como um acerto de contas do produtor com o seu passado e um registro de suas conquistas profissionais. "Queria mostrar para as pessoas que o meu estúdio foi fruto do meu trabalho, e não um presente do meu pai", disse. "Foi uma terapia. Revistei muitas coisas que não estavam bem resolvidas em minha vida, como a três maiores tragédias que passei: a morte dos Mamonas Assassinas, a do meu pai e a do Chorão", contou o produtor, que recebeu a reportagem do UOL no Estúdio 1 do Midas.
A conversa se desenrolou no mesmo sofá vermelho onde o vocalista do Charlie Brown Jr., Chorão (que morreu em 2013), compôs "Só os Loucos Sabem", do álbum "Camisa 10 Joga Bola Até na Chuva" (2009). "O Chorão chegou aqui com a música pronta, faltava só a letra. Essa faixa foi a última a entrar no disco e, quando eu ouvi o riff, insisti para que ele a gravasse", lembra.
Rick já não estava trabalhando mais com o Chorão quando ele morreu. "Soube de sua morte pela internet", lembra. "Não sabia que ele estava enfrentando esse problema [com as drogas]". O produtor, no entanto, lembra que drogas sempre foram comuns no meio artístico. "A droga sempre teve influência sobre os artistas, no sentido que ajudava na criatividade e na performance. A bebida também ocupava esse espaço".
"Transformei o emo em sucesso"
O produtor lembra que já trabalhou com muita gente com falta de talento. "Já trabalhei com um cara muito ruim e o deixei muito bom", conta, sem citar nomes. "Uns 50% dos artistas com os quais eu trabalhei não tinham nenhum talento. No começo, eles têm a real noção de que precisam de um produtor e de um empresário. Daí fazem sucesso e vem a ingratidão, a arrogância, o erro e a queda", comenta Rick.
Como jurado do "X-Factor Brasil", Rick afasta as comparações com o temido jurado Simon Cowell, da edição britânica do programa, e aponta a falta de experiência de palco como a maior dificuldade dos artistas atuais. "Sou um cara do business. O Simon é um showman, bem diferente de mim. Na TV, vejo muitos concorrentes cantando bem, mas nunca se apresentaram ao vivo. Falta essa vivência atualmente".
Com o reconhecimento nacional, Rick também virou alvo de críticas, grande parte disparada pelas bandas com as quais não trabalha mais, como NX Zero e Fresno. A maioria delas, surgida nos anos 2000, o acusou de "pasteurizar o som" e empacotá-las dentro do movimento musical emo.
"Isso aí é crítica de artista. Eu peguei os caras emos e os transformei em sucesso. Eu nem sabia o que era o movimento emo. Simplesmente contratei bandas que faziam um puta som no Hangar 110 [casa de shows em São Paulo] e fiz elas fazerem sucesso nacional. E é isso que um produtor faz", dispara ele, dizendo que "gostaria mesmo de gravar a Ivete Sangalo".
Confira alguns trechos da obra:
- "Olho em volta e perto da mesa de som tem um monte de restos de noitada, seda de pontas de baseados e embalagens com sobras de comida. Percebendo minha curiosidade e certo fascínio, um técnico coloca um pouco de gasolina na fogueira: 'É que os Titãs estão usando o estúdio à noite'".
- "De Guarulhos, onde eles moravam, até o estúdio, havia um monte de matagais com mamonas. Daí eles tiveram a ideia [do nome da banda Mamonas Assassinas]. Era muito boa, pois tinha um duplo sentido com peitões, que foi o que usamos na capa do disco, pois todos éramos muito fãs da Mari Alexandre".
- "Quando lancei o Charlie Brown Jr. tinha duas rádios onde eles poderiam tocar, a 89FM e a Jovem Pan [...]. Na 89 tudo rolou legal, mas na Jovem Pan, o Tutinha, figura excêntrica e dono da rádio disse que se recusava a tocar [...]. Peguei todos os recibos de promoção que Virgin havia feito na Jovem Pan, rasguei tudo e mandei para ele, por motoboy, junto com um recado de que iria quebrar a cara dele. Só que um tempo depois, o público começou a pedir loucamente o Charlie Brown e ele teve que tocar, sem que a gravadora pagasse um centavo de promoção".
- "Eles chegaram na mesma loja que eu havia trabalhado, no bairro do Pari, e, quando foram abri-la, não se sabe até hoje o que aconteceu. Só sei que meu pai levou tiros no peito, na cabeça, e o meu irmão também levou dois ou três tiros".
- "Cocaína é a droga do palco e do hotel, após os shows. Raras bandas não têm um histórico com o pó, de algum ou de vários integrantes. No estúdio, ela não é muito usada. Quando vão gravar, o cardápio muda para maconha e skunk. Aí é marofa sem fim".
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