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Missão impossível: Nelson Motta escolhe as 101 músicas que tocaram o Brasil

O compositor Nelson Motta lança o livro "101 Canções que Tocaram o Brasil" - AgNews
O compositor Nelson Motta lança o livro "101 Canções que Tocaram o Brasil" Imagem: AgNews

Felipe Branco Cruz

Do UOL, em São Paulo

21/10/2016 06h00

Não foi uma missão fácil. Foi praticamente impossível. Entre inúmeras obras primas da nossa música, o compositor e crítico musical Nelson Motta assumiu a controversa responsabilidade de eleger 101 delas. O resultado está no livro “101 Canções Que Tocaram o Brasil”, lançado recentemente, escrito em colaboração com o jornalista Antônio Carlos Miguel.

“Foi um dos trabalhos mais difíceis que eu já fiz na vida. E olha, eu já trabalhei com Raul Seixas e Tim Maia”, disse Motta ao UOL. “Me disseram que seria moleza fazer esse livro. Não foi”, completou. Para chegar ao resultado, Motta pesquisou quais músicas apareciam mais vezes em diversas listas de 100, 50 melhores, publicadas em revistas como "Bizz" e "Rolling Stones", além de grandes jornais.

Capa do livro "101 Canções que Tocaram o Brasil", de Nelson Motta - Divulgação - Divulgação
Capa de "101 Canções Que Tocaram o Brasil"
Imagem: Divulgação
O livro faz parte da coleção "Brasil 101", lançado pelo selo "Estação Brasil", da editora Sextante, que já lançou também o título "101 Brasileiros que Fizeram História", escrito por Jorge Caldeira.

A lista é abrangente e foi feita em ordem de lançamento. Ela vai desde a marchinha “Ó Abre Alas”, o samba “Pelo Telefone”, passeando por “Carinhoso”, “Desafinado”, “Samba da Bênção”, encerrando com os rocks e MPBs “Metamorfose Ambulante”, “Maracatu Atômico” e “À Procura da Batida Perfeita”.

Segundo o autor, seria impossível fazer a lista das “100 melhores de todos os tempos”. “Seria muita pretensão. Um suicídio. Estava fora de questão. Foi por isso que resolvemos fazer as canções que ‘tocaram o Brasil’”, explicou.

Com o critério em mente, ficou um pouco mais “fácil” eliminar algumas músicas e incluir outras. “Músicas que foram acusadas de breguice resistiram ao tempo. Meu gosto pessoal também entra em algum momento, mas eu tentei deixá-lo de lado, já que o objetivo não era uma lista das músicas que eu mais gosto”, afirmou.

Além da lista, o livro também mostra curiosidades sobre a composição de cada faixa e o momento histórico em que ela foi lançada. Em “Lanterna dos Afogados”, dos Paralamas do Sucesso, por exemplo, Motta conta que a faixa foi composta em apenas 10 minutos.

Embora tente incluir canções de todas as regiões do Brasil, desde o Rio Grande do Sul, até o Norte e o Nordeste, há uma prevalência de sambas e composições cariocas. “Acho impossível suplantar o samba. Existem diversos ritmos e gêneros populares, mas o samba é o nosso DNA”, afirmou Motta. “E o Rio de Janeiro foi a capital federal durante quase todo o período em que essas músicas foram lançadas. Tudo acontecia aqui”.

Nelson Motta compositor também na lista

Mas para Motta, autor de diversos hits do cancioneiro popular, difícil mesmo foi incluir suas próprias músicas na lista. “Minhas músicas aparecem em várias listas. Decidi incluir duas: ‘Dancing Days’, um hit eterno da era disco no país, e “Como Uma Onda”, composta em parceria com o Lulu Santos”, contou. “Para escrever sobre elas, eu tive que olhar para mim como se fosse uma outra pessoa. Me senti o Pelé, falando na terceira pessoa”, brincou.

Sobre “Dancing Days”, Motta escreveu: “Da noite para o dia, [as Frenéticas] viraram as grandes estrelas da disco music brasileira, não como imitações da disco americana, mas com elementos de rock and roll, escola de samba e teatro de revista, além de uma linguagem irreverente e provocativa”.

Com Lulu Santos, o autor revelou que “Como Uma Onda” foi feita para o longa-metragem “Garota Dourada”. Sobre ele mesmo, Motta escreveu no livro: “A letra de Nelson é inspirada no verso ‘A vida vem em ondas como o mar’, de Vinicius de Moraes no poema ‘Dia da criação’. Para que não soasse pretensiosa e metida a filosófica, foi acrescentado o subtítulo irônico de ‘Zen surfismo’, que sintetiza a mistura de leituras de Jorge Luís Borges, filosofia budista e a Bíblia com o hedonismo de surfistas e gatinhas de praia, os personagens de Garota dourada”.

Motta admite 101 músicas é muito pouco. Portanto, no final do livro, ele publicou um posfácio com um "Bônus Track". A lista, com outras 100 músicas, é tão boa quanta a primeira, comprovando a ideia de que seria impossível fazer apenas uma lista das 100 melhores.

Neste bônus track, o autor justificou porque deixou de fora faixas como "É o Amor", de Zezé Di Camargo e Luciano, "Sozinho", do Peninha e "Dia de Domingo" e "Me Dê Motivo", de Sulivan e Massadas, entre outras. E conclui: "Das modinhas e choros ao funk e o tecnobrega, a música brasileira acompanha os movimentos do país com canções que conta a história de um tempo e dos sentimentos dos brasileiros com qualidade, quantidade e diversidade".