Disco do ano, música em game, festivais: o que é que o BaianaSystem tem?
Felipe Branco Cruz
Do UOL, em São Paulo
27/10/2016 06h00
Os integrantes do BaianaSystem ainda nem acreditam, mas tiveram seu novo álbum "Duas Cidades" eleito, na última terça-feira (25), o disco do ano no Prêmio Multishow. "Como assim nosso disco venceu o de Elza Soares?", questiona o vocalista Russo Passapusso. Formada há sete anos em Salvador, o grupo é figurinha presente nos principais festivais do país, está escalado para o Lollapalooza 2017 e, neste ano, teve uma música sua, "Playsom", integrada à trilha sonora do popular jogo "Fifa 16". Afinal, o que é que o BaianaSystem tem?
A mistura da icônica guitarra baiana com a cultura dos soundsystems (os famosos paredões de som, muito comuns no Norte e Nordeste) cria uma sonoridade tão peculiar que preenche uma demanda por sons inovadores que todo festival de música procura. Não é à toa que a banda passou a ser escalada em diversos eventos, dentro e fora do Brasil, desde o New Orleans Jazz Festival, em Nova Orleans, até o Fujirock, no Japão. "Depois de um festival, nosso som nunca mais fica igual. Aprendemos outros sotaques", diz o cantor.
Boa parte das composições da banda fala sobre festas populares e, desde a sua fundação, o BaianaSystem toca no Carnaval de Salvador. "O trio elétrico é um soundsystem ambulante", diz o guitarrista Roberto "Beto" Barreto, que já foi integrante do Timbalada. "Embora a guitarra baiana tenha sido criada por Dodô e Osmar [inventores do trio elétrico do Carnaval baiano] há 50 anos, ainda percebo nas pessoas um estranhamento com o som".
Esse estranhamento, segundo Beto, fica bem evidente no exterior. "As pessoas pediam para tirar foto com a guitarra baiana, principalmente no Japão", lembra o guitarrista, que tem como influências desde Led Zeppelin e Yes a Armandinho, Pepeu Gomes e Sergio Dias.
Mistura de ritmos
Além de vencer o disco do ano no Prêmio Multishow, a banda também foi celebrada com um troféu de melhor hit por "Playsom". "É uma música leve, minimalista e foi absorvida pelo público infantil e adolescente", diz o Passapusso. "Os jovens funcionam como curadores. Eles ouvem o que está rolando no videogame e a coisa acontece. Trabalhamos muito com música tradicional e a cantiga. É uma coisa do interior da Bahia, onde você junta os filhos e os amigos e começa a brincar. A mesma coisa aconteceu no videogame".
Apesar da celebração no evento, o BaianaSystem não participou da noite de celebração. "Não fomos porque estamos numa loucura de gravar o primeiro clipe da banda, mas tomamos um susto quando vimos o prêmio na televisão. "Esse disco foi fruto da união com o produtor Ganjaman. Fico feliz em ver que as pessoas estão reconhecendo o novo som que vem da Bahia".
Segundo o cantor, o BaianaSystem surgiu pela insatisfação dos integrantes com os rumos da música baiana. "Queríamos fazer algo diferente. Algo estrambólico. Desmembramos a música, usamos a guitarra, a percussão, o frevo, o reggae e o dub. Na banda, a guitarra baiana é uma voz e eu sou a outra voz".
Agora, o grupo quer voar mais longe. "Queremos transformar o BaianaSystem em um movimento musical tão forte quanto os que foram capitaneados pelo O Rappa, Nação Zumbi, Planet Hemp e Sepultura, que misturavam diversos ritmos em suas músicas".