"A Melhor Banda de Todos os Tempos": A redenção dos Titãs em um disco

A entrada do novo século foi complicada para o rock brasileiro. No fim de 2000, o baterista d'O Rappa, Marcelo Yuka, ficou paraplégico após ser baleado em uma tentativa de assalto. Em fevereiro seguinte, Herbert Vianna, líder dos Paralamas do Sucesso, sofreu um grave acidente de ultraleve, que também o deixou paraplégico. No mesmo ano, Cássia Eller morreu, após parada cardíaca, no auge de sua carreira. Ao menos para os Titãs a preocupação naquela época era apenas ser "A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana".

O 11º disco do grupo foi uma espécie de reestreia, já que nos seis anos após o último trabalho de inéditas, "Domingo" (1995), a banda lançou diversas versões e pouco conteúdo novo, além de discos solo de Nando Reis, Paulo Miklos e Sergio Britto. Ainda sim, havia 40 canções separadas para o novo trabalho, já previamente ensaiadas e arranjadas pelo produtor norte-americano Jack Endino.

Foi quando aconteceu o maior baque da história da banda. Era 18h35 do dia 11 de junho de 2001. Enquanto o guitarrista Marcelo Fromer atravessava a Avenida Europa, no centro de São Paulo, uma motocicleta o atingiu. O motoboy Erasmo Carlos estava com a carteira vencida, chamou uma ambulância e fugiu. Marcelo morreu dois dias depois. Seguindo o que a banda acreditava ser o pensamento do músico, optaram por continuar com a gravação.

Tony Belloto, o guitarrista remanescente, se recusou a gravar as partes de guitarra que Fromer havia deixado prontas, fazendo com que Endino e Emerson Villani, do Funk Como Le Gusta, assumissem provisoriamente o posto. Até que o pai de Endino morreu em Seattle, forçando-o a abandonar as gravações por uma semana e deixando o produtor Paul Ralphes no lugar. Pouco antes da masterização do disco, o baterista Charles Gavin estava em Nova York quando aconteceram os atentados de 11 de setembro. Ele não sofreu nenhum ferimento, mas a coincidência assustou.

O clima de recomeço e de redenção ficou assustadoramente claro e nenhuma frase definia melhor este momento do que "tão forte somos todos outros Titãs", parte da letra de "O Mundo é Bom, Sebastião", terceira faixa do disco. Mas para o autor da música, Nando Reis, as coisas já não eram tão fortes assim há algum tempo.

Nando atuava como compositor solo dentro de um coletivo de artistas. Jack Endino já sentia a diferença de sintonia entre o compositor e os outros integrantes. "Nando e eu trabalhamos mais do que nunca para fazer com que suas músicas funcionassem como músicas dos Titãs". Ainda assim, Nando é o Titã com menos faixas em "A Melhor Banda de Todos os Tempos..." e o que menos canta no disco. Meses depois do lançamento, ele se desligou da banda alegando "incompatibilidade de pensamento".

Em bancas de jornal

O lançamento de "A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana" foi em outubro de 2001, e teve 250 mil unidades encartadas em uma revista-pôster à venda nas bancas de jornal. Era uma estratégia que a então gravadora Abril Music usava com diversos artistas para driblar os custos de distribuição e a lei que proibia a venda de discos nas bancas.

Foi neste disco que a banda acusou o peso da idade de seus integrantes, estampando nas letras as preocupações pessoais com o seu futuro de um jeito que jamais havia sido feito nos discos anteriores. A temática da morte é bem presente, apesar de ser um trabalho escrito antes da partida de Marcelo Fromer.

As guitarras ficaram mais limpas e baixas, os solos são preteridos para passagens melódicas mais concisas e diretas, mantendo o direcionamento pop rock construído com Jack Endino no disco "Domingo".

A faixa-título, que também é o primeiro single do trabalho, soa uma atração a parte. Nela, os Titãs ironizam toda a indústria da música, sem deixar escapar eles próprios. "Isso" --que foi tema da novela "O Beijo do Vampiro"-- e "O Mundo É Bom, Sebastião" também se tornaram singles de sucesso, mas o grande destaque do álbum foi "Epitáfio", tema da novela global "Desejos de Mulher", que ganhou diversos prêmios e fez linha direta com o entorno em que o disco foi gravado.

Disco de ouro

O álbum ganhou disco de ouro ao vender cem mil cópias, apesar de não ter vendido tão bem quanto os álbuns anteriores. O lançamento foi seguido pela turnê "A Melhor Banda", virando ainda um DVD "Luau MTV", gravado em 2001 e lançado em 2002, ainda com Nando Reis no baixo.

Apesar dos problemas e das vendas aquém do esperado, foi o disco que criou a base do que seria o Titãs dali em diante, fortalecendo a união dos integrantes, rejuvenescendo seu público e mantendo a imagem criativa que a banda construiu.