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Villa Mix Festival chega ao Rio e capital do samba se rende ao sertanejo

Anderson Baltar

Colaboração para o UOL, no Rio

14/11/2016 09h52

Um domingo de novembro pouco usual no Rio de Janeiro. Para todos os cariocas, o dia foi marcado por uma longa e insistente chuva que caiu durante quase todo o tempo. Para pouco mais de 60 mil pessoas, foi o dia em que a capital do samba se rendeu ao sertanejo. Pela primeira vez, a cidade recebeu o Villa Mix Festival, um dos maiores festivais de música do país e cujo line-up costuma ser quase todo voltado para o estilo que lidera as paradas de sucesso em todo o Brasil.

A primeira edição carioca do Villa Mix, realizada no Parque Olímpico, trouxe uma particularidade: ao lado de artistas como Jorge & Mateus, Simone & Simaria e Matheus & Kauan, subiram ao palco atrações de outros gêneros, como os pagodeiros Sorriso Maroto e Thiaguinho, o forró de Wesley Safadão, o pop-rock de O Rappa, o funk de Anitta e o som eletrônico de Alok e Jetlag.

"O Villa Mix Festival começou como um evento de música sertaneja e, hoje, é um evento de música brasileira e que exalta o que temos de melhor no cenário nacional. O Rio de Janeiro é uma das cidades mais importantes do Brasil e não poderia ficar de fora do nosso calendário. O carioca já abraçou o sertanejo e o line-up está ainda mais diversificado para deixar o evento com a cara do Rio e do público carioca", explicou Marlus Marcelus, diretor do festival.

Vocalista de um dos principais grupos de pagode do país, Bruno Cardoso, do Sorriso Maroto, disse que o evento é a grande prova de que o público carioca é aberto e sabe receber qualquer estilo musical. Para ele, há espaço para todas as tendências e tribos. "Muitos falam que o sertanejo está invadindo o Rio de Janeiro, mas o samba sempre terá o seu espaço. Estamos muito felizes de estarmos aqui, dividindo o palco com tanta gente boa e das quais também somos fãs", afirmou.

A dupla Matheus e Kauan, que têm menos de dez anos de carreira e tem emplacado sucessos em rádios cariocas, faz coro. "O Rio é uma cidade muito eclética e que sempre nos recebeu muito bem. Tanto que gravamos aqui o nosso DVD mais recente, que será lançado em janeiro. É um privilégio tocar para uma multidão tão grande quanto essa", disse Matheus.

Samba e sertanejo: convivência pacífica

O mercado da Cidade Maravilhosa é tido como um dos mais difíceis de se conquistar pelos artistas sertanejos. Dados de uma recente pesquisa divulgada pela Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro apontam que a música sertaneja é ouvida regularmente por apenas 12% dos cariocas. Porém, é um público em expansão, já que nas principais rádios populares o gênero tem dividido as execuções com o samba, o pagode e o funk, ritmos mais identificados com a cidade.

O Villa Mix aconteceu em parceria com uma das emissoras de rádio líderes de audiência do Rio. "A Maratona da FM O Dia já era um evento grandioso na cidade e, neste ano, unimos a força do evento a do Villa Mix Festival. Isso só veio a somar o para todos nós", afirmou Marcelus.

Nem o atraso na programação tirou o bom humor do público, que se divertiu com as atrações, independentemente de gênero musical. Um dos momentos mais quentes da noite foi a apresentação de Wesley Safadão, que levou as fãs à loucura com seus hits. À beira do palco, as espectadoras mais afoitas arremessavam telefones celulares para que o cantor tirasse selfies com elas ao fundo.

No show de Safadão, mais uma prova do ecletismo da edição carioca do Villa Mix. Ivete Sangalo participou como convidada especial e trouxe a escola de samba Acadêmicos do Grande Rio, que a homenageará no Carnaval 2017. Acompanhada da bateria de mestre Thiago Diogo, do intérprete Emerson Dias e de passistas da escola, ela cantou o samba da agremiação, fazendo o festival virar uma sucursal da Marquês de Sapucaí.

A julgar pela opinião do público, a mistura do Villa Mix Rio deu certo. "Não existe rivalidade entre samba e sertanejo. O carioca gosta de tudo e se diverte com tudo. O clima está ótimo e me esbaldei de tanto dançar", afirmou a representante comercial Graziella Quesada. O administrador André Galdino disse que prefere samba, mas também curte sertanejo. "Não há ritmo melhor para curtir e paquerar as meninas. Mas eu adoro samba, seja em roda, seja nas quadras das escolas".

Até os não-cariocas se sentiram à vontade. A curitibana Yasmini Milani prefere sertanejo, mas afirma "que um sambinha sempre vai bem". Mesmo vindo de uma cidade onde a música sertaneja predomina, Yasmini viajou até o Rio na expectativa do baticum. "O Rio sempre será a cidade do samba", afirmou, antes de dar uma leve sambadinha.