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"Quem vai ser o vilão?" Filme reúne irmãos para lembrar começo do Oasis

Documentário revela bastidores do auge do Oasis no Reino Unido - Divulgação - Divulgação
Documentário revela bastidores do auge do Oasis no Reino Unido
Imagem: Divulgação

Tiago Dias

Do UOL, em São Paulo

07/12/2016 17h35

Assim que começou a trabalhar em “Supersonic”, o documentário oficial do Oasis, o cineasta britânico Mat Whitecross se viu no epicentro da relação mais conturbada do rock n’ roll. A rivalidade entre os irmãos Noel e Liam Gallagher pôs fim a uma das maiores bandas de rock dos anos 1990 e também movimentou os bastidores da produção, enterrando o sonho de gravar as entrevistas com os dois juntos.

Ainda assim, o diretor não escapou da mira de Liam na primeira das entrevistas, em Londres: “Ok, quem vai ser o vilão aqui? Ele ou eu?”. “Liam tem uma persona muito grande. É como se colocasse um tigre dentro de uma jaula pequena. É difícil contê-lo. No estúdio ele ficava andando de um lado para o outro, me questionando: ‘Qual é a sua pauta?’. Eu disse que não havia “pauta”, queria apenas que eles fossem honestos.”

Sete anos depois de sua dissolução, o Oasis é um dos grandes destaques da SIM - Semana Internacional de Música de São Paulo, que acontece até domingo (11). A reunião da banda em tela grande será exibida pela primeira vez no país em duas sessões no sábado (9). Mas, para os adoradores, a volta definitiva nos palcos pode não estar tão distante assim. Após vivenciar esses momentos (separadamente) com os irmãos, Whitecross sente-se bastante livre para palpitar sobre o futuro.

“Acho absolutamente que vai acontecer”, garantiu ao UOL. “Mas só vai acontecer quando eles acharem as razões certas. [Se reunir] pelos fãs ou porque eles querem fazer. Não pelo dinheiro, porque ambos já são homens muito ricos”.

A fase abastada dos rockstars tampouco interessou Whitecross. “Supersonic” investiga apenas os dois primeiros anos da banda, tempo necessário para que os irmãos de origem humilde, que seguiam a tradição da classe trabalhadora londrina, se transformassem em novos ídolos da juventude.

pré-estreia supersonic - Jeff Spicer/Getty Images - Jeff Spicer/Getty Images
Liam Gallagher e o diretor Mat Whitecross na pré-estreia de "Supersonic" em Londres, em outubro
Imagem: Jeff Spicer/Getty Images

Apaixonado por britpop, o cineasta havia dirigido uma ficção sobre o Stone Roses, "Spike Island", e havia acabado de arquivar um projeto sobre o The Clash quando um produtor lhe abordou: "Você gosta de Oasis?". Na cabeça do britânico, que vivenciou o auge do Oasis com devoção e posters da banda na parede, a pergunta só poderia significar uma coisa: "Achei que eles estavam voltando para uma nova turnê", ele relembra. Na verdade, era um convite para conhecer Noel, na época às voltas de um projeto sobre os primeiros anos da banda.

Saiu do encontro com um convite para embarcar no projeto e uma promessa feita pelo guitarrista: "Não vou amarrar suas mãos". "Eu não conseguiria fazer um filme com qualquer tipo de proibição. Eles são rock n' roll, eles não ligam para essas coisas. Todas as decisões, boas ou ruins, foram feitas por mim", garante.

Com material de arquivo escasso, em uma época em que a internet ainda engatinhava, Whitecross pediu ajuda aos fãs para conseguir imagens da época e contou com acesso irrestrito ao baú de memórias da família Gallagher. A mãe de Liam e Noel, Peggy, tem destaque no filme e serve para lembrar os filhos do laço que ainda os une.

O cineasta prefere não escolher seu personagem favorito nessa disputa, mas acredita que tenha encontrado o grande arco dramático de "Supersonic". "Eles me pareciam prontos para falar do passado de uma maneira como nunca tinha acontecido. Eles falam coisas generosas, mas de vez em quando também falam coisas horríveis um sobre o outro. Eu fiquei surpreso mesmo como cada um falou do outro com certo carinho", conta.

Uma religião

Com o auge da banda como norte, “Supersonic” começa e termina com imagens dos dois shows históricos do Oasis no parque Knebworth, quando 250 mil pessoas se apertaram para ver Liam, Noel, Bonehead, Guigsy e White confirmarem o status da banda britânica mais popular desde os Beatles.

“Neste país, o Oasis é como uma religião, um time de futebol. Pessoas têm a marca da banda tatuada nas costas. Eles são mais populares do que o hino nacional. É uma das maiores coisas que tivemos aqui. E se tornaram grande em um curto período de tempo”, explica.

A razão de tamanho sucesso em tão pouco tempo é uma pergunta em aberto no filme. “Você pode creditar ao talento de Noel, ao carisma de Liam, mas acontece que eles trabalharam muito duro. O Oasis era um tipo de antidoto, ou antítese do que acontecia antes, da época do grunge, e todo aquele pessimismo que Kurt [Cobain, líder do Nirvana] cantava. Captou uma sensação de euforia e de esperança que existia nas pessoas”.

Evento sobre música traz filmes, shows e palestras

Até domingo (11), a 4ª edição da Semana Internacional de Música de São Paulo vai discutir e celebrar a música no âmbito mercadológico, mas também artístico. Entre as palestras, o evento recebe os representantes do South by Southwest, um dos eventos mais importantes do mundo musical (sexta, 9, às 14h), e promove um encontro para se discutir a liberdade de gênero na cena brasileira (sábado, 10, às 14h).

Além de “Supersonic”, a Mostra Audiovisual terá a exibição do documentário “One More Time With Feeling”, sobre o músico Nick Cave. Os eventos são gratuitos e acontecem diariamente no Centro Cultural São Paulo.

A abertura da convenção acontece nesta quarta-feira (7), a partir das 18h, no Auditório Ibirapuera, com shows de Mahmundi e Elza Soares com Liniker.

SERVIÇO:

SIM São Paulo
De 7 a 11 de dezembro de 2016
Local: Centro Cultural São Paulo
Rua Vergueiro, 1.000, tel. 3397-4002. Grátis (retirar ingressos 1 h antes)
Programação completa: http://www.simsaopaulo.com/pb/agenda-2016/