Cantora do ano, Céu quer se misturar: "Adoraria trocar ideia com Anitta"
O ano para Céu foi uma montanha-russa de emoções. Apontada como representante da 'nova MPB', quando surgiu há dez anos com o hit "Malemolência", a cantora aumentou seu holofote e agregou tribos distintas com seu quarto disco, "Tropix", um dos mais premiados do ano.
Diante de um 2016 pesado e repleto de perdas na música, a paulista de 36 anos fica até sem graça em festejar: "É estranho porque eu não tenho o que reclamar", diz, com uma risada tímida.
Sem ser uma mera intérprete e na direção de seu próprio caminho, Céu foi eleita a artista do ano pela Associação Paulista de Críticos de Arte, a APCA, e saiu do Grammy Latino deste ano com dois prêmios.
Disco cintilante e tropical, de clima noturno e tomado por timbres eletrônicos, "Tropix" venceu como melhor álbum de pop contemporâneo (em língua portuguesa) e melhor engenharia de gravação (de toda a América Latina) para a produção pilotada pelo marido, o baterista Pupillo, pelo músico francês Hervé Salters e com o toque do irmão Diogo Poças.
O trabalho também encantou o júri especializado no Prêmio Multishow em quatro categorias - Gravação, Versão do Ano (para "Chico Buarque Song", da obscura banda Fellini), e Fotografia e Direção pelo clipe de "Perfume do Invisível", que entrou na trilha da novela "Velho Chico". Foi a grande vencedora da noite, embora o fervo do evento girasse em torno de artistas mais midiáticos, eleitos com voto popular, como Luan Santana, Anitta e Henrique & Juliano.
Mas mesmo com Ivete Sangalo sentada atrás dela - "sou louca por ela" - a cantora sentiu, na prática, o abismo cultural da crítica versus público. "Sou de uma geração muito difícil em termos de música e mercado. A geração da transição", observa.
Eu adoraria estar mais confortável, trocar uma ideia com a Anitta e conversar com o Wesley Safadão. A gente se 'agalerar' e aprender um com outro. É engraçado, estou em um nicho ali, me sinto meio inadequada. Eles devem sentir a mesma coisa: 'O que é aquilo?'
Uma cantora de música brasileira
Quando Céu decidiu cantar, aos 14 anos, Marisa Monte talvez fosse a única compositora a conseguir conectar ainda as duas pontas, entre o popular e a dita música autoral.
Introspectiva na época, ela se sentia atraída pela música e pela "maloqueragem". "Sempre fui amiga dos mais podres na escola. Aprontava, mas era quieta, sabe? Nem era boa aluna".
Não demorou para escolher uma viagem a Nova York como sua grande universidade. Queria descobrir sua própria voz, ironicamente, distante da família de músicos. "Eu fui a ovelha negra nesse sentido", relembra.
Seria natural seguir os passos do pai, Edgard Poças, que abriu caminhos na criação de jingles publicitários — e criou o grupo infantil Balão Mágico, em 1982. Ela chegou a fazer alguns trabalhos na área, mas decidiu: "O que eu escolhi fazer é muito pessoal. [Se trabalhasse na publicidade] eu começaria a fazer uma coisa mercadológica", explica. "Mas foi mais do que isso, foi assim que eu percebi que eu queria compor. Isso eu ainda não sabia".
Descobriu na composição sua melhor análise. Entre o trabalho de garçonete e apresentações em barzinhos, voltou dos Estados Unidos com as canções "Malemolência" e "10 Contados" na mala. Conhecidas dos fãs, as músicas se tornaram carros-chefe do primeiro álbum.
Intitulado apenas com parte de seu nome composto - Maria do Céu - o disco foi lançado com relativo sucesso no Brasil, mas vendeu muito mais na América do Norte, graças à distribuição do selo Starbucks - aquela mesma rede de cafeteria.
Com o barulho na cena, recebeu logo um convite para gravar em inglês. Mas a proposta que faria qualquer outra cantora chorar de emoção, foi recebida com frieza por Céu. "Eu disse que eles estavam pensando na pessoa errada. Meu empresário ficou me cutucando embaixo da mesa", ela ri. "Eu sou tão louca pela música brasileira - eu acredito tanto, sabe? Achei um insulto na época."
A decisão não a impediu de emplacar turnês nos Estados Unidos e Europa, integrar programação de festivais como Coachella, Roskilde e Montreaux Jazz Festival, e até tocar em TV aberta - motivo de orgulho para quem tenta caminhar no lado inverso das divas.
"Eu tenho uma vida normal de qualquer dona de casa. Faço compras, faço mercado, levo minha filha na escola", explica. Rosa, de 8 anos, é um dos motivos para que agora Céu agende menos datas em outros países. "E eu ainda não fui para o Brasil praticamente inteiro. É louco. Eu já toquei no Canadá, Europa inteira, e nunca consegui chegar a Maceió".
Mesmo que sua música entre em trilha de novela e ela seja chamada para um ou outro programa, é neste momento que Céu sente falta do caminho do meio — embora ela seja a artista mais próxima desse intermédio.
"Existe um limbo muito grande entre o artista pequeno e o gigante. As coisas estão muito polarizadas. Não tem muitas casas de show de médio porte, e entrar na rádio é impossível se você não paga jabá. Essa é a real".
Na "ralação" de sempre, "Tropix" segue na estrada até ano que vem. Principalmente agora que ela vê mais pessoas cantando suas canções no gargarejo dos shows. Para aquela adolescente tímida, sem jeito de estrela, é uma conquista e tanto. "Isso sim, pra mim, é retorno."
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