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George Michael nunca mais foi o mesmo após perder namorado brasileiro

George Michael "morreu em casa e em paz" no dia de Natal - Julio César Guimarães/Arquivo Pessoal
George Michael "morreu em casa e em paz" no dia de Natal
Imagem: Julio César Guimarães/Arquivo Pessoal

James Cimino

Colaboração para o UOL, em Los Angeles

26/12/2016 13h13

Foi uma vinda ao Brasil que mudou completamente a vida do cantor George Michael, que morreu neste dia de Natal de 2016 aos 53 anos por insuficiência cardíaca.

A despeito de toda a especulação que se possa fazer sobre seu estado de saúde e sobre seus constantes problemas com drogas, o coração de Michael se despedaçou mesmo quando ele perdeu o amor de sua vida, Anselmo Feleppa, um estilista brasileiro que ele conheceu quando tocou no Rock in Rio de 1991.

Feleppa morreu em 1993 vítima de Aids, e Michael nunca mais foi o mesmo. Especialmente na música. Em 1996 ele lançava "Older", um disco em que demonstrava maturidade musical e no qual não se colocava como sex symbol. Acima de tudo, um álbum triste.

George Michael - Reprodução/Louis de Fillipis/The Sun - Reprodução/Louis de Fillipis/The Sun
George Michael e o estilista brasileiro Anselmo Feleppa
Imagem: Reprodução/Louis de Fillipis/The Sun

A canção de abertura, "Jesus to a Child", foi inspirada em Anselmo. O disco todo é dedicado a ele. Mas "Older", apesar de sombrio, é um dos melhores trabalhos de Michael, ficando logo atrás de "Faith" e "Listen Without Prejudice". Também foi o último álbum relevante de uma carreira que, embora não tenha se encerrado, nunca mais teve o mesmo brilho.

Foi nesta época que aquele ícone heterossexual dos anos 1980 e 1990, a quem a atriz Brooke Shields prometeu sua virgindade, saiu do armário. Aquele 1,83m de homem espremido em um jeans rasgado, com topete dourado, óculos de aviador, brinco de argola com pingente de crucifixo que todos os homens de todas as orientações sexuais usaram, tocando violão e dizendo "eu quero seu sexo", era gay.

De repente, os versos da canção "Freedom! '90" fizeram todo sentido: "Acho que há algo que você devia saber / É hora de encerrar esse show / Há algo em meu íntimo, há alguém que esqueci de ser / Tire essa foto da moldura, não pense que eu vou voltar / Só quero que você entenda que muitas vezes as roupas não fazem um homem". 

De repente, "Father Figure" deixou de ser uma canção sobre uma menina que procurava a figura paterna em seu namorado e passou a sugerir que aquele eu lírico, na verdade, fazia parte de uma história gay fetichista. Tudo ficou diferente. Tudo ficou dúbio, mas também tudo ficou claro.

Uma vida solitária

Sair do armário no fim dos anos 1990 ainda não era fácil, mesmo no mundo da música. Especialmente para um cantor que construiu sua imagem seduzindo hordas de mulheres. E como "Older" não foi um sucesso, facilmente os executivos das gravadoras tiraram Michael de seu panteão de deuses.

A depressão do cantor era evidente em músicas como "You Have Been Loved". Seu desprezo pelo estilo de vida em Hollywood também aparecia em "Star People". Mas o maior golpe veio quando George resolveu "fazer sexo em público", como sugerem os versos da canção "Outside", lançada em 1998.

Foi naquele ano que Michael foi preso por um policial à paisana de Beverly Hills por praticar "ato libidinoso" em um banheiro público. Após se declarar culpado, pagar fiança e prestar serviços comunitários, Michael decidiu ir a público e dar sua versão dos fatos. Disse em entrevista ao apresentador David Letterman que foi seduzido pelo policial. "Ele fez o jogo do 'eu mostro o meu, você me mostra o seu e depois eu te levo preso'."

A piada ganhou proporções reais no clipe de "Outside", no qual ele aparece vestido de policial dentro de um banheiro público e exibindo cenas de casais gays e heterossexuais praticando "atos libidinosos" e sendo perseguidos pela polícia norte-americana.

O policial que o prendeu, porém, não gostou e resolveu processar George Michael em US$ 10 milhões por calúnia, difamação e por considerar que o cantor estaria lucrando às suas custas com a música. O caso não foi concluído, mas o popstar chegou a dizer que, na época, estava deprimido pela morte da mãe e de Anselmo quando buscou sexo em público. Era uma fuga. Mas George Michael nunca conseguiu fugir de verdade.

Em 2004, veio outra canção, "Please, Send me Someone to Love (Anselmo's Song)", em que George Michael se refere ao seu grande amor e faz um triste apelo. "Querido, querido, não, não posso te substituir / Tem um buraco em meu coração, um buraco deixado por você / Me dê algo que me tire desta tristeza / Por favor, mande alguém pra eu amar."

Apesar de ter sofrido muito por Anselmo, Michael nunca quis ser visto como uma figura digna de pena. E continuou a ter relacionamentos com outros homens.
Teve um casamento de 13 anos com o produtor musical Kenny Goss, de quem se separou em 2009, e atualmente estava namorando com o cabeleireiro Fadi Fawaz, que foi quem tristemente encontrou o interprete de “Last Christmas” morto em sua cama, na manhã de Natal.

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