Uma drag queen no pop: Pabllo Vittar quer ser a diva que você respeita
Do alto de uma pilha de manequins usados, Pabllo Vittar capricha no carão de diva pop. A imagem é capa de seu primeiro disco, "Vai Passar Mal", que viralizou rapidamente nas plataformas digitais, desde que chegou ao mundo, nas primeiras semanas deste ano.
No meio de tantos corpos de plásticos, a drag queen de 22 anos, conhecida como vocalista da banda do programa da Globo "Amor e Sexo", até poderia ser uma novidade descartável, mas sua voz aguda incomum, que mesmo quando canta sobre amores platônicos, não deixa de fazer "sarrar a bunda", garante o caminho inverso.
A atriz Maísa (aquela do "Bom Dia & Cia") se declarou fã e Ludmilla não resistiu e dançou a música "Todo Dia", em um vídeo publicado no Instagram, com especial dedicação na coreografia quando chega o refrão: "Não espero o Carnaval para ser vadia / Sou todo dia, sou todo dia".
Para uns, a música, escrita e também cantada em parceria com o rapper Rico Dalasam, foi motivo para textões no Facebook, problematizando o uso da palavra "vadia". Para outros, não houve dúvida: é o refrão definitivo do Carnaval.
"Se vadia é correr atrás dos direitos, ser quem você é, e usar seu corpo como forma de expressão de arte da maneira que você acha legal, então sou vadia mesmo", ela explica, séria -- faceta que essa maranhense não segura por muito tempo.
Agudinho na igreja
Sorridente, faladeira e narcisista assumida --"Sou escorpião com leão, bebê"--, Vittar nasceu em Santa Inês, a 250 km de São Luís, com nome ainda mais artístico e ornado: Phabullo.
O fiel produtor, Rodrigo Gorky, do Bonde do Rolê, chegou a fazer campanha para que ela usasse o nome da certidão quando lançou em 2015 o primeiro hit, "Open Bar", versão que Pabllo fez em 10 minutos para uma das músicas mais tocadas naquele ano, "Lean On", de Major Lazor. A cantora não cedeu. "Me chamavam de Fábulo Fabuloso na escola. Eu odiava", conta.
O dom e o tom da sua voz foi descoberto ao entoar cânticos em uma igreja da cidade. Enquanto isso, sua personagem feminina nascia escondida no quarto da mãe. “Rolava umas roupinhas. Mas lace front [tela que imita o couro cabeludo na parte da frente da peruca], amor, não sabia nem o que era. Fui saber mesmo quando assisti ‘Ru Paul’s Drag Race’ [competição de drag, comandado por Ru Paul].”
Aos 14 anos, mudou-se para São Paulo. "Mas acabei trabalhando no Habib's, em vários fast-food, em tudo, menos de cantor". Acabou parando em Uberlândia, em Minas Gerais, onde mora até hoje. Cursou dois períodos do curso de design na UFU (Universidade Federal de Uberlândia), mas desistiu quando aos 18 os shows finalmente começaram a ficar mais frequentes. "Quer saber, bebê? Beijo, vou seguir meu sonho", relembra.
Hoje, passa por lá de vez em quando só para dar o "close". "Beijar uns 'crushes' antigos. Quando eu era de lá, ninguém queria. Agora todos eles me querem."
Com base na dance music, sem deixar de reverenciar o arrocha e o forró, "Vai Passar Mal" é um esmerado disco pop para nenhum fã de Anitta e Ludmilla botar defeito. Tem participação de Diplo (produtor bombado do Major Lazor, que já trabalhou com Madonna) no reggaeton "Então Vai", e composição de Pablo Bispo (de "Essa Mina é Louca", de Anitta) em "K.O." O restante, tem o dedo da cantora, que escreve desde pequena. "É minha terapia."
Ela diz não ousar se comparar, mas Anitta é sua maior inspiração para uma carreira fora dos nichos. "A gente está ali sempre dando a cara à tapa, até porque não é muito comum ter uma drag cantora, no programa da Globo. Não vamos mais calar a boca", ela defende. "Mas a música que eu faço não tem gênero, faço música para todo mundo conseguir se encaixar. Recebo vídeo de criança, de idoso. Senão não faz sentido, sabe? Não tem nexo".
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