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"Ó o gás!" Música que explodiu vendas de botijão vira hino do Carnaval

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Até os funcionários da Ultragáz fizeram a dancinha do gás
Imagem: Reprodução

Tiago Dias

Do UOL, em São Paulo

27/01/2017 20h10

Aquela velha música do caminhão de gás nunca mais será a mesma. O som metálico de um botijão, que antes avisava que o caminhão de gás estava passando na sua rua, agora é o chamamento oficial para o Carnaval.

Nas últimas semanas, o “Funk do Gás” rodou a internet, ganhou coreografia e grudou na cabeça da mesma maneira que o jingle original fez ao ser introduzido pela marca Ultragáz em 1989.

A música em estilo modal e minimalista se tornou um case na publicidade brasileira ao substituir a buzinada nada sutil dos caminhões nas ruas. Era tocada em eterno loop através de um chip, ligado diretamente no alto-falante. “Tinha mais delicadeza que a buzina, e chegava mais longe”, explica ao UOL o compositor original da música, Hélio Ziskind.

Produtor de jingles marcantes dos anos 1990 e de músicas do extinto programa infantil “Cocoricó”, Hélio gravou a música com violinos, flauta e um sintetizador, que emulou o timbre metálico do botijão.

As empresas de gás logo passaram a imitar e algumas chegaram a usar a mesma canção em seus caminhões. Foi só então que a marca passou a fazer parte da música, na voz de Vania Bastos.

O efeito da suave melodia espantou a empresa logo no primeiro mês da mudança. “As vendas dobraram tanto em Heliópolis quanto no Morumbi. Entre os ricos e os pobres a música tinha se comunicado muito bem”, conta Ziskind.

Do caminhão para a internet

“Era o som da minha infância”, relembra Alessandro Santos, 19, de Vitória da Conquista, na Bahia. O estudante de administração até então era apenas um entre tantos produtores amadores que brincavam em criar um funk em cima do jingle.

A primeira versão do "Funk do Gás" foi divulgada por ele em setembro do ano passado, mas bombou mesmo meses depois, quando ele imaginou seu remix sendo tocado por algum DJ do festival Tomorrowland.

Como a zoeira não tem fim, ele desenvolveu uma introdução à música para acompanhar o movimento dos braços do DJ Hardwell, que realmente havia se apresentado no Tomorrowland, e incluiu um meme antigo que passeava nos MSNs da vida nos idos anos 2000. "Era um áudio curto de um cara gritando 'ó o gás'. Coloquei no remix com a base de funk e sincronizei", conta.

Compositor analisa funk

Hélio ouviu o funk pela primeira vez apenas nesta semana. Ao UOL, ele deu seu veredito: “Ele fez uma coisa interessante com o som do botijão. Recriou a ideia do original”. Mas no momento em que a melodia atinge a velocidade máxima do batidão, o produtor desabafou aos risos: “Vira uma massa, o Carnaval vai lá e engole tudo, aí não é mais comigo. Acho muito siderado, mas quem sou eu? O cara teve 5 milhões de visualizações”, brinca. “De qualquer maneira, foi meu momento japonês da Federal”.

Se a analogia a Operação Lava-Jato for válida, o vendedor Renan Vinícius, 25, seria o principal delator. Viciado no vídeo postado meses antes por Alessandro, o morador de Cubatão, baixada santista, em São Paulo, deu o toque de Midas que o meme precisava durante uma festa de aniversário. “Já estava todo mundo com ‘umas na mente’. Aproveitei que tinha uma galera e sugeri: ‘Vamos gravar a dancinha do gás’.”

Namorada, primos, amigos entraram na onda. Em 48 horas, o vídeo, até então restrito nas páginas de amigos, chegou a 1 milhão de visualizações. "Tomou conta da geral. Até porque eu publiquei que era a dança do Carnaval", conta Renan, sem deixar de pedir uma parte do crédito. "A dança na hora do pancadão foi totalmente loucura nossa."