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Como é o trabalho do "único compositor de novelas bíblicas do mundo"

Daniel Figueiredo é o responsável pelas trilhas épicas da Record - Claudio Damatta/Divulgação - Claudio Damatta/Divulgação
Daniel Figueiredo posa ao lado dos instrumentos
Imagem: Claudio Damatta/Divulgação

Rodolfo Vicentini

Do UOL, em São Paulo

07/02/2017 04h00

Se você já assistiu "Os Dez Mandamentos" e "Terra Prometida", da Record, certamente reparou na trilha épica das novelas. A percussão pesada, os violinos grandiosos e as flautas dialogando com o tema bíblico são responsabilidade de Daniel Figueiredo, o homem de confiança da direção musical da emissora. "Pelo que eu pesquisei, sou o único compositor de novelas bíblicas do mundo", diz o músico.

O trabalho exaustivo também ganha ares épicos em sua descrição. "É muita viagem. A gente acaba pegando o ritmo quando está no meio do furacão", conta ele ao UOL. "A quantidade de músicas é descomunal. Um artista comum faz um álbum por ano e compõe umas cinco faixas, por exemplo. A gente faz 300, sabe? Eu já fiz, de um dia para o outro, seis temas épicos. Minha mulher já me pegou dormindo na cadeira duas vezes", relembra, aos risos.

Daniel já trabalhou com grandes nomes do mercado, como Beth Carvalho e Aline Barros, concorreu ao Grammy Latino e foi autor e intérprete dos vídeos oficiais da seleção brasileira e das cidades-sede da Copa do Mundo de 2014. Mas foi nas trilhas que ele se encontrou. "Quando a pessoa é artista, ela tem que trabalhar a sua carreira. E eu não estava trabalhando a minha".

A pesquisa musical é uma das armas do compositor. "Quando ouvia alguma coisa de música celta ou iraniana, eu ficava louco e queria gravar. Isso me ajudou a ter intimidade com estilos do mundo inteiro. É uma pesquisa constante que todo produtor tem que ter. O diretor pode pedir algo como: 'Preciso de uma música celta com um pouquinho de estilo africano e um toque de eletrônico'. E você tem que fazer", brinca.

Os irmãos William e Sami Bordokan ajudam Daniel no processo. A dupla é especialista em instrumentos étnicos, principalmente da região do Oriente Médio. "Eu tenho alguns [instrumentos], que eu toco em um momento de calamidade, porque não sou expert. É inacreditável, eles tocam centenas de instrumentos, e todos muito difíceis. Eles trabalham em quase todas as novelas comigo".

Em março estreia na Record a novela "O Rico e Lázaro", que se passa quase um milênio após a cronologia de "Os Dez Mandamentos". "Nesse caso, consigo dar uma modernizada, uso diferentes timbres e introduzo o piano também. Muda muito de novela para novela".

O contato de Daniel na Record é sempre o diretor artístico da novela, que dá palpites e direciona o compositor quando necessário. "A opinião é sempre certeira e os diretores têm conhecimento musical muito interessante. Sou uma ferramenta do diretor, um contratado da empresa. E também peço muito a opinião do público, acompanho as redes sociais. Essa interatividade é muito importante".

Era um garoto que não amava Beatles, mas Rolling Stones

Daniel conta que começou a se interessar por música por causa dos Rolling Stones. "Porque eu achava os Beatles muito caretas", resgata na memória. "Depois fui para Scorpions, hard rock e parti para o jazz fusion. E aí veio o rock progressivo com Pink Floyd e Yes".

Acompanhando a vida do músico, o rock volta a dar as caras com o projeto "Guitar Heroes", uma reunião com diversos guitarristas interpretando temas compostos por Daniel. "A maioria são trilhas já utilizadas em outras novelas que eu fiz, como 'Os Mutantes' e 'A Lei e o Crime'".

Entre os instrumentistas escolhidos estão Paul Gilbert (Mr. Big), Marcos Kleine (Ultraje a Rigor), Greg Howe e Jennifer Batten (ex-Michael Jackson). "Se eu tiver tempo, o álbum sai no primeiro semestre deste ano".

Arte vs. entretenimento

Em um toque mais filosófico, Daniel aborda a diferença entre a arte e o entretenimento. "Você tem que respeitar primeiro o entretenimento para depois pensar a arte", decreta.

"Raramente as duas vão andar juntas. Toda a produção, a velocidade e o formato devem vir primeiro para depois se encaixar na arte. A arte não tem formato ou limite, então em poucos lugares vai se encaixar".

"A arte você faz na sua casa, para você, mas a partir do momento em que vai para o entretenimento tem que respeitar certas regras", define Daniel.