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Osesp cancela participação de maestros convidados; regente escreve carta

Osesp com a regente Marin Alsop durante apresentação Sala São Paulo - Alessandra Fratus/Divulgação
Osesp com a regente Marin Alsop durante apresentação Sala São Paulo
Imagem: Alessandra Fratus/Divulgação

Jotabê Medeiros

Colaboração para o UOL

09/02/2017 19h31

O maestro Celso Antunes, 55, que durante quatro anos foi regente associado da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo), acusa a direção artística da orquestra de tê-lo afastado da programação de "forma arbitrária" e contrária à sua vontade pessoal. Antunes não foi demitido: seu contrato de regente associado expirou em dezembro de 2016.

Em carta aos músicos da orquestra, Antunes explicou que foi informado, por meio de sua agente, que a participação dele em concertos com a Osesp em abril fora "sumariamente cancelada pela direção da casa", apesar de terem sido acertados em fevereiro de 2014.

"A razão apresentada parece ser falta de verbas", acrescentou Antunes em sua carta. "Em junho do ano passado, ciente da gravíssima situação do Brasil no momento, eu já havia aceito uma redução da ordem de 25% em meu cachê. De modo a poder colaborar ainda mais com a orquestra, aceitei todo o tipo de mudanças no repertório, de modo a chegar a uma proposta realizável em um panorama de crise", escreveu.

De fato houve uma queda substancial de repasses de verbas para a Osesp, que demitiu funcionários da área administrativa recentemente. Em nota oficial, a Fundação Osesp atribuiu o cancelamento às "restrições orçamentárias atuais" e afirmou ainda que outro regente teve sua participação cancelada, o canadense Fabien Gabel. "O maestro Celso Antunes continua sendo um artista prestigiado e, como regente associado nos anos 2012 a 2016, estabeleceu uma relação muito profícua com a Orquestra", diz a nota.

"Contudo, a Fundação Osesp, como todas as instituições culturais do país, vem procurando fazer ajustes para se adaptar às restrições orçamentárias atuais. Esperamos poder reconvidá-lo nas futuras temporadas, mas, por ora, medidas pontuais se fazem necessárias." Segundo a nota, o orçamento para projetos artísticos em 2017 é 27% menor do que em 2016. Os concertos foram mantidos, mas sob o comando da regente assistente Valentina Pellegi.

O diretor artístico da orquestra, Arthur Nestrovski, foi procurado para falar sobre o caso, mas não respondeu até a publicação deste texto.

Sem interesse

Ao UOL, Antunes contou que não demonstrou acreditar em uma possível reação da regente titular da Osesp, Marin Alsop, ao seu afastamento. "Não faço a menor ideia do que pensa a titular, afinal, ela nunca esteve presente em um ensaio meu, que dirá a um concerto", disse o maestro.

"Ela nunca demonstrou o menor interesse pelo meu trabalho. Meu contato com ela é inexistente. Importante: fui nomeado regente associado pelo Conselho da Fundação, não por esta senhora", disse ele.

Antunes falou ainda que escreveu a carta aberta à equipe "a fim de evitar qualquer impressão de que haja má vontade" em relação aos músicos.

Regente formado pela Musikhochschule de Colônia, na Alemanha, Antunes trabalha regularmente com alguns dos principais corais da Europa, entre os quais o SWR Stuttgart Vocal Ensemble, o BBC Singers, em Londres, e o Vlaamse Radio Koor, em Bruxelas. Trabalhou com maestros como Simon Rattle, Zubin Mehta e Mariss Jansons.