James Taylor e Elton John encontram fãs maduros e cheios de agregados em SP
A reunião de dois grandes da música não só funciona comercialmente como costuma tocar intimamente o público. E foi assim que James Taylor e Elton John encerraram a turnê conjunta pelo Brasil na noite desta quinta-feira (6) com um show em São Paulo, depois de passar por outras três capitais: Curitiba, Porto Alegre e Rio de Janeiro.
Diante de seu maior público, um Allianz Parque lotado mesmo em dia de semana (os shows no estádio do Palmeiras comportam quase 50 mil pessoas), o americano e o britânico apresentaram seus sucessos para fãs maduros, mas repletos de agregados.
Mesmo experimentando o auge da carreira nos anos de 1970/1980, os cantores puderam observar uma plateia cheia de pais e filhos com idades que partiam desde os 8 (limite mínimo para entrar acompanhado) até seus contemporâneos, na faixa dos 70 anos.
Guilhermino Figueira, 57, levou o filho Gabriel, 19, para ver de perto pela primeira vez os dois artistas. Multi-instrumentista, o jovem, que sempre gostou das músicas que o pai ouvia, tinha outras duas atrações à parte para assistir quase grudado ao palco: as bandas cheias de estrelas da música que acompanham James e Elton. "São seres especiais, quase extraterrestres", destaca Guilhermino, que garantiu ingressos na área VIP meses antes.
Trilha sonora da vida
Júlia é da segunda geração de fãs de carteirinha de Elton John da família Simões. Aos 23 anos, ela se preparava para assistir ao segundo show de seu artista preferido, que tinha visto pela primeira vez em 2009, também em São Paulo. "Eu tinha 15 anos e logo depois fui fazer intercâmbio na Pensilvânia (EUA). As músicas dele marcaram muito essa época da minha vida. Agora vou voltar para lá para fazer mestrado e de novo vai ser a minha trilha sonora."
Tanto amor por Elton John tem explicação. A mãe, Márcia, 60, tinha na juventude um grupo musical com outras quatro amigas. Com elas, gravou a música "Skyline Pigeon". Quarenta e três anos depois, elas estavam juntas de novo para assistirem ao mestre. Para Maria Cristina Mesch, 60, que também integrava o grupo Criluma, a música era a mais aguardada da noite. "Fui para Las Vegas no ano passado só para assistir ao show dele. O cara, quando é bom, não tem idade. A música dele é atemporal, é eterna."
"É o John Mayer da época do meu pai"
Elton John fechou a noite. Mas para muitos presentes o que mais importava era James Taylor, que iniciou os trabalhos no estádio. "É o John Mayer da época do meu pai", brinca Luisa Auda, 14, que estava ali depois de implorar para que a família fosse ao show.
Ela costuma tocar e cantar "Fire and Rain" para o pai no violão. "Não ter vindo ao show do Justin Bieber é uma conquista para mim, daquelas de anotar no caderninho", explica a adolescente, que prefere bandas das antigas, como Queen, Nirvana e AC/DC.
Nascidos em 1965 e 1970, respectivamente, os pais Rogério e Cassiana mostram orgulho de compartilhar o gosto musical da filha. "James Taylor é daquela época que você sabia todas as letras de cor", relembra o pai, sobre a própria adolescência.
Experiência aos 9 anos
Com 9 anos, Sofia Bassi estava feliz de acompanhar os pais e ter a chance de ver um show de Elton John tão novinha, e aquela nem era a primeira vez da jovem no estádio. Ela já tinha estado ali antes para assistir ao show de Katy Perry. Com os pais, foi ver Judas Priest e Kiss no Monsters of Rock. "Achamos importante mostrar um pouco de tudo para ela decidir o que realmente gosta", explicam os pais, Luciana e Marcelo, 44, que estavam ali para relembrar a trilha que embalou o namoro. "Ela só conhece Elton John, mas também vai gostar do James Taylor", apostavam.
De São Paulo a Salvador com James Taylor
Quando soube que James Taylor viria tocar em São Paulo Cecilia Alvim, 37, teve certeza de que era a hora de cumprir uma promessa: a de levar o pai de 68 anos a um show do maior ídolo dos dois. Morando em Florianópolis, ela viajou até São Paulo só para acompanhar o pai, Alexandre, e a madrasta, Vanda Borges, 67, que é pianista e fã de Elton John. A combinação perfeita para uma noite em família.
"Meu pai tem todos os discos. Tenho mais cinco irmãos, mas já está combinado que, na hora de dividir a herança, os vinis do James Taylor são todos meus. Podem pegar os do Beatles, todos os outros. Aquele lobo na capa do 'Never Die Young' (1988) marcou a minha infância", relembra, sobre sua memória favorita.
Já o pai, Alexandre, tem outra memória favorita. "Em 1971, fui de Fusca de São Paulo a Salvador ouvindo o primeiro trabalho do James Taylor em fita cassete. São 2.000 quilômetros. Foi ida e volta ouvindo aquela mesma fita, não me cansava", relembra. Hoje, a paixão já foi passada até para os netos. "Festa em casa é ao som dos vinis de James Taylor e o piano do Elton John."
James Taylor: dedo quebrado e português afiado
Nem o dedo quebrado conseguiu atrapalhar o show redondo e simpático entregue por James Taylor ao público paulistano. Mesmo repetindo o discurso em português dos outros três shows anteriores, o americano provou que estava bastante preparado para voltar ao país que revigorou sua carreira em 1985, quando tocou no Rock in Rio. "Estou muito feliz de estar de volta ao Brasil. Mas desculpe, eu não falo português." Modesto.
O discurso de James seguiu todo em português para contar talvez a parte mais lamentável para quem esperou 16 anos por sua volta (o último show dele por aqui tinha acontecido no Rock in Rio de 2001): um dedo quebrado o impediu de tocar violão. "Mas Dean Parks será eu esta noite", disse, já aproveitando para apresentar seu substituto no instrumento. As frases estavam em um caderninho. Teve até um "merda", em português mesmo, para fazer graça.
"Only a Dream in Rio" veio com a tradução completa no telão, com letras verdes em um fundo amarelo. Foi também uma das músicas que mais emocionaram o cantor de 69 anos, até mais do que "You've Got a Friend", cantada em coro pelo estádio já cheio. Até a mulher de James Taylor apareceu no telão, curtindo a ode ao país verde e amarelo.
Dançando na chuva com Elton John
Pontualidade britânica? Elton John se adiantou e os primeiros acordes de seu piano soaram às 22h, apenas 30 minutos depois de James Taylor deixar o palco. Ainda bem. O show, que estava marcado para as 22h10, acabou tendo 30 minutos secos. Às 22h30, uma chuva torrencial desabou sobre o estádio e assim ficou até o final do show, à 0h.
Quem aguentou desde o comecinho debaixo d'água foi logo recompensado com dois hits na sequência: "Rocket Man" e "Tiny Dancer". Mas em se tratando de Elton John é impossível fazer economia de sucessos. Quando você pensa que não tem mais o que tocar, lá vem ele com outro.
Destaque para "Don't Let the Sun Go Down on Me", dedicado a um dos fãs presentes no estádio e também a George Michael, parceiro de Elton na música e que teve sua foto projetada no telão. "Eu tenho um amigo brasileiro muito próximo, Rodrigo Francisco. Hoje o pai dele está aqui presente e foi muito cortês comigo. Essa música eu dedico a ele", disse Elton em uma das poucas conversas com o público.
Se a chuva atrapalhou? Depende. A força da água barrou o mar de celulares/câmeras até mesmo na execução da romântica "Your Song". Quem estava na pista e não escolheu se espremer em um dos cantos cobertos do estádio aproveitou o espaço extra para, literalmente, dançar na chuva. E, apesar das poucas palavras, Elton compensou os molhados com seu carisma, botando ainda mais força no piano, que animou aquela "Wonderful Crazy Night" (em português, maravilhosa noite louca), que batiza seu último disco.
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