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Ghost sobre unir pop e metal: "Sabbath e Led foram deuses quebrando regras"

Banda sueca Ghost durante show em 2013 na Arena Anhembi - Manuela Scarpa/Divulgação
Banda sueca Ghost durante show em 2013 na Arena Anhembi
Imagem: Manuela Scarpa/Divulgação

Rodolfo Vicentini

Do UOL, em São Paulo

12/05/2017 04h00

A banda Ghost segue por momentos um tanto turbulentos. Se na parte musical o grupo sabe claramente o que quer e alcança um sucesso merecido por arriscar a sair do tradicional, os bastidores estão um mar bravio. A recente ação judicial de ex-membros – antigos Nameless Ghouls – contra o vocalista Papa Emeritus, que obrigou a banda a trocar todos os integrantes com exceção do frontman, quase destruiu o conceito inicial do projeto: não ter identidade.

O líder Tobias Forge - que até então nunca teve o nome confirmado, apesar das especulações - foi acusado de não pagar os músicos que o acompanharam de 2011 a 2016 e de tratar a banda como um “projeto solo”.



Desde “Opus Eponymous”, o grupo introduziu uma sonoridade particular ao realizar “missas” ao vivo com personagens criativos e um vocalista visualmente impressionante. As diferentes versões dos três Papa Emeritus no decorrer da década chamaram a atenção dos ouvintes, afinal, o Ghost troca de vocalista ou é o mesmo cantor que incorpora diversos personagem, como um David Bowie do metal?

O início da turnê deste ano, com novos Nameless Ghoul, se deu no final de março, e neste sábado (13) o sexteto se apresenta no Maximus Festival, em São Paulo, ao lado de Linkin Park, Slayer, Prophets of Rage e mais.

Falando abertamente sobre o lado mais pop do último álbum, “Meliora”, e do EP “Popestar”, que reuniu covers de Echo & The Bunnyman e Eurythmics, um dos Nameless Ghoul conversou com o UOL sobre o que esperar do próximo projeto, do Papa Emeritus IV e de fazer música que não seja cópia de algo: “Rolling Stones, Black Sabbath e Led Zeppelin chegaram ao título de deuses quebrando regras”.

O músico preferiu não comentar sobre o processo que rola na justiça da Suécia. Como as identidades não são reveladas, não é possível saber qual integrante da banda realizou a entrevista, mas a segurança sobre os temas e a certeza do que a banda quer levam a crer que o integrante está há algum tempo escondido sob o nome do Ghost.

Veja a seguir os principais temas da conversa:

Apresentação no Brasil

Infelizmente, faz um tempo que não vamos ao Brasil, quase três anos. Desde a primeira vez que fomos, no Rock in Rio 2013, sempre tem sido um lugar especial. O público brasileiro, como todos falam, é inacreditável. Você quer um público brasileiro toda noite, é muito forte para uma banda uma energia dessas. Neste show vamos tocar músicas inéditas que nunca tocamos aí ainda, acho que a maioria do set.

Pop + metal

No geral, o metal é muito pragmático, repetitivo e conservador. Não tem o que você pode fazer sobre isso, é um estilo musical muito estabelecido. Toda banda pode dar um passo adiante, mas eu fico orgulhoso que somos uma banda que talvez chegue a um lugar que outras não estiveram. Muitas bandas são basicamente criadas para ser uma cópia de outras. Algumas pessoas gostam disso, outras querem uma banda que soe exatamente como AC/DC e se comporte e pareça com eles. Uma banda cover. E isso é ok.

Mas não é o que eu quero ser, quero ser um pouco mais autônomo, porque é a partir daí que você cria histórias do rock, quando tenta não se conformar com as regras. Acho que o rock é a ideia de quebrar regras. Rolling Stones, Black Sabbath e Led Zeppelin chegaram ao título de deuses quebrando regras. Então não entendo porque bandas de metal seguem a mesma coisa. Mas tudo bem, fui criado ouvindo metal e cresci no metal alternativo, então sei como funciona.

Indústria fonográfica atual

Não sou um grande fã de música pesada desde meados dos anos 90. Desde quando o nu metal chegou, desisti. Eu realmente não gosto de nu metal, não adianta. E toda banda que tem a tendência de soar como nu metal acaba sendo difícil ouvir. A única exceção é System Of A Down, eles ousam a pensar fora da caixa. Fora disso, acabo ouvindo bandas mais tradicionais. Sou muito velho nisso (risos), mas gosto de Opeth e Mastodon também é uma boa banda.

Fora do metal

Eu ouço muitos outros estilos musicais.  Agora tem um negócio que eles chamam de synth wave... eu, particularmente, chamo de “horror music”. Tem uma banda que acompanha a gente na turnê, Zombie, que toca nesse estilo. Basicamente, é bateria, base e teclado. Muitas pessoas prestaram atenção nisso por causa do tema do [seriado] “Stranger Things”. Gosto muito dessa coisa parecida com John Carpenter [diretor, músico, roteirista e compositor; responsável pelos filmes “Halloween” e “O Enigma de Outro Mundo”].

Uma artista hoje que me conquistou foi a Sia, ela é fantástica. Mas não sou muito fã da música de hoje, se eu pudesse experimentar os anos 60, 70 e 80 de novo seria fantástico.

Novo álbum

O próximo álbum ainda está no processo, mas posso garantir que será mais sombrio. Quando o trabalho sair, acredito que os shows serão mais na linha do que eu tenho em mente pelos últimos oito anos. Porque quero que os shows sejam mais teatrais, sinistros. Já o novo Papa... não posso falar muito sobre ele. Ele será diferente de qualquer um anterior, posso garantir.