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"É confortável tocar com bandas de metal", diz guitarrista do Linkin Park

Brad Delson, Mike Shinoda, Joe Hahn, Chester Bennington, Rob Bourdon, Dave Farrell - Divulgação
Brad Delson, Mike Shinoda, Joe Hahn, Chester Bennington, Rob Bourdon, Dave Farrell Imagem: Divulgação

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

13/05/2017 04h00

Após vender milhões e encher de dígitos suas contas bancárias, os integrantes do Linkin Park têm hoje uma preocupação recorrente: tentar, seja como for, sair da zona de conforto. A banda, atração principal neste sábado (13) no Maximus Festival, em São Paulo, tanto fez que acabou mudando o jeito de compor em seu sétimo álbum de estúdio, “One More Light”, que chega ao mercado na semana que vem.

O responsável pela nova fase? Rick Rubin, produtor, que há sete anos não trabalha mais com o grupo. “Antigamente, começávamos apenas com a música e colocávamos o vocal no fim, geralmente como nas produções do hip hop”, explica ao UOL, por telefone, o guitarrista Brad Delson.

“Um dia, o Rick veio e perguntou: ‘vocês já pensaram em fazer o contrário? Começar com o vocal?’. Mas nós o ignoramos totalmente na época (risos). Estávamos muito confortáveis. Não tínhamos por que fazer aquilo. Decidimos retomar essa ideia agora.”

Pelo menos uma das músicas desse novo álbum, “Talking to Myself", deve ser apresentada no Brasil, onde a banda, tão associada ao pop e rock alternativo, tocará depois de nomes de peso como Ghost e Slayer. Nada demais para quem sairá em turnê este ano com o rapper Snoop Dogg. “É confortável tocar com bandas de metal.”

Veja o vocalista Chester Bennington gravando nova mu?sica do Linkin Park

Virgula

UOL - Como vocês se sentem tocando em um festival com bandas de heavy metal?

Brad Delson - Uma das coisas legais de estar no Linkin Park é poder congregar os vários tipos de influências diferentes que temos. Nós nos sentimos muito confortáveis com tantos artistas diferentes pisando no mesmo palco. Já estivemos em outros festivais de metal. Este ano, em outubro, vamos tocar com o Snoop Dogg na Califórnia. Sempre funcionou. Por termos influências diversas, sempre curtimos tocar com artistas diferentes de nós.

Há fãs que reclamam de a banda supostamente estar ficando mais pop, perdendo a essência dos primeiros discos. Concorda?

Sempre nos preparamos para seguir nossa inspiração. Nosso último álbum, por exemplo, tem muito de metal experimental. Ele é único, e foi mundo divertido gravá-lo. Para o nosso próximo, nós nos focamos muito nas nossas composições, em construir músicas com boas melodias e compartilhar esse sentimento em estúdio. Todas as músicas começam com uma ideia ou sentimento. E, agora, a gente escreve a letra e as melodias primeiro, e em cima delas vamos construindo o arranjo e a sonoridade.

Poucas bandas venderam tanto como o Linkin Park neste século. Vocês nunca tiveram um disco malsucedido. Como manter a motivação depois de tanto sucesso?

Acho que aprendemos coisas novas quando envelhecemos. Somos muitos afortunados por tudo que aconteceu conosco. Mas você está certo. Quando você grava muitos discos, existe uma armadilha de tender a fazer algo que seja familiar, na sua zona de conforto. Nós tentamos evitar isso nos desafiando. Nesse novo disco, mudamos o jeito de compor as músicas nas nossas cabeças.

Normalmente, começamos só com a música e depois colocamos o vocal no fim, como geralmente são as produções hip hop. Há muito tempo atrás, começamos a trabalhar com o Rick Rubin, e um dia ele veio e perguntou: ‘vocês já pensaram em fazer o contrário? Começar com o vocal?’. Mas nós o ignoramos totalmente na época (risos). Estávamos muito confortáveis. Não tínhamos por que fazer aquilo. Decidimos retomar essa ideia agora, e foi tão diferente! Um desafio tão interessante que parecia que estávamos gravando um álbum pela primeira vez.

O que os fãs podem esperar do novo disco?

Músicas muito próximas umas das outras, como se conversassem entre elas. Não é um disco “grandioso”, no sentido de ser uma viagem psicodélica. As faixas soam como feitas por alguém que entrou em estúdio e colocou seu coração nelas. Particularmente, estou orgulhoso de como elas soaram.

O rock parece estar perdendo cada vez mais espaço nos meios de comunicação, no Brasil e no mundo. Qual futuro ele tem?

Música é música. Quando alguém faz algo com significado, que tenha paixão envolvida e que seja bom, ele vai sempre ter possibilidade de se conectar com as músicas. A música está evoluindo, como qualquer outra forma de arte. As pessoas escolhem o estilo que lhes interessa, e certos artistas são sempre melhores que os outros. Para nós, o que vale é falar menos e fazer mais coisas que nunca fizemos antes.

Apesar de estar na estrada há duas décadas, a banda ainda tem de lidar com o rótulo de “new metal”? Faz sentido falar de “novo metal” hoje em dia?

Esse era um rótulo que havia quando nós começamos. Eu não sinto mais que ele parte da gente. Acho que as pessoas perceberam, escutando nossos álbuns, que assumimos várias formas diferentes. Nossa intenção é sempre compor grandes músicas. Estar em um “lugar” honesto, pessoal e emocional. Sentimos que, quando conseguimos isso, somos capazes de nos conectar com o público.

É incrível quando isso acontece. Por exemplo, nós estreamos uma música ao vivo, “Talking to Myself”, do disco novo, no último sábado na Argentina. Depois fomos para o Chile e decidimos abrir o show com ela. De repente, toda a plateia começou a pular e cantar a letra. Foi chocante!. A música ainda nem havia sido lançada. Isso, para nós, é o elogio mais gratificante.