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"'Despacito' é mais do que ganhar dinheiro", diz cantor Luis Fonsi

Luis Fonsi e Daddy Yankee se apresentam no Billboard Latin Music Awards, na Flórida - Sergi Alexander/Getty Images/AFP
Luis Fonsi e Daddy Yankee se apresentam no Billboard Latin Music Awards, na Flórida Imagem: Sergi Alexander/Getty Images/AFP

Michele Miranda

Colaboração para o UOL

08/06/2017 11h32

"Despacito" conquistou o mundo, está em primeiro lugar nas paradas americanas há quatro semanas, teve 1,8 bilhão de visualizações no YouTube, teve 400 milhões de execuções no Spotify, remix de Justin Bieber e do Major Lazer, dentre outros feitos. O que faltava era uma versão oficial em português. Pois é, não falta mais. A releitura da canção que, originalmente, é uma parceria entre os porto-riquenhos Luis Fonsi e Daddy Yankee, vai chegar à pista de dança brasileira já nos próximos dias, em dueto com Israel Novaes.

Para cantar em português, Fonsi contou com uma ajuda especial: a de Erika Ender, que assina a faixa original ao lado do cantor. Nascida no Panamá, ela é filha de baiana e fala português com tempero bem nacional.

"Sempre quis fazer uma versão em português de 'Despacito', porque é um idioma bonito, que amo", disse o músico ao UOL, por telefone, nesta quinta (8). "E o mais legal é que a minha parceira na composição (Erika) é panamenha e brasileira, então existe uma conexão direta com a canção na hora de fazer a tradução. Ela me ajudou muito com a pronúncia do português, porque eu queria que ficasse o mais autêntico possível. É comum que alguém tente cantar no idioma que não é o seu e o resultado fique muito esquisito", diz ele. Mas o exigente Fonsi, que tem 19 anos de carreira, um Grammy [por "Aqui estoy yo", de 2008] e agora um mega hit no currículo, comemorou o resultado: 

"(Ficou) incrível! Não tive o prazer de cumprimentar Israel [Novaes] pessoalmente. Tivemos que gravar a canção separados, por um único fator: tempo. Estou fora de casa há muito tempo, com turnê, viagens promocionais pela Europa e tive que gravar fora do estúdio. Faz dois dias que ouvi a parte dele e já ouvi a música totalmente pronta. Acho que hoje precisamente estão finalizando no estúdio. Então, nos próximos dias ou na próxima semana, a versão brasileira de ''Despacito' já estará pronta. Espero que o público goste", conta o porto-riquenho que se mudou aos dez anos para Miami. 

Versão brasileira pronta, português com sotaque baiano, dueto com sertanejo de Goiânia… O flerte com o nosso país já está mais do que consolidado. Então quando Fonsi vai pisar por aqui?

“É a pergunta que também tenho feito a mim mesmo. Tenho muita vontade de conhecer o Brasil com a minha música, obviamente, mas sempre quis visitar o país não só profissionalmente. Acho que graças a ‘Despacito’, vou muito em breve. Tenho muitos planos de fazer shows. Saber que está em primeiro lugar no Brasil é um privilégio”, diz ele, sem saber se vai cantar a versão em português ou em espanhol quando vier.

“Em três semanas, começo uma turnê pela Europa, depois América do Sul [Argentina e Chile], México e Estados Unidos. Tenho fé que vamos incluir o Brasil neste itinerário”, acredita.

Quem é Anitta?

Alçado ao posto de expert em hit, depois de levar uma canção em espanhol - a primeira desde “Macarena” em 1996 - ao topo das paradas americanas, Fonsi diz saber muito bem quem é Anitta. Depois de uma parceria com Maluma em “Sim ou não” e no caminho oposto ao do cantor, Anitta lançou “Paradinha”, música em espanhol, na última semana de maio, e bateu recorde no Spotify como melhor estreia de todos os tempos, com 500 mil reproduções. Fonsi está atento ao sucesso da cantora e faz sua aposta.

“Acho que vai ser um hit, a música tem uma sonoridade incrível. O Brasil sempre influenciou muita gente. Quero seguir colaborando com grandes artistas daí”, diz o cantor, opinando sobre o fato de haver tantos nomes de peso, como Justin Bieber e Ed Sheeran, flertando com os ritmos latinos, em especial o reggaeton: “Anitta, Sia e outros artistas incorporaram o reggaeton e o ritmo latino urbano. Mesmo que o produto final não seja reggaeton. Foi o que aconteceu comigo em ‘Despacito’. É o que está funcionando hoje em dia, é o que as pessoas querem escutar, é o que os artistas querem cantar e assim funciona o mundo: vamos criando novos sons”.

Embora seja o ritmo do momento, o reggaeton vem sendo muito criticado por conta de letras como “Felices los 4” e “Cuatro babys”, de Maluma, em que ele é acusado de misoginia e machismo, além de o ritmo frequentemente trazer clipes com mulheres de pouca roupa. Fonsi, que construiu sua carreira como um cantor romântico, e agora se rendeu à influência do reggaeton, diz evitar esse tipo de esteriótipo.

“Não falo da música de outros artistas. Cada artista tem sua maneira de se expressar. Existem coisas das quais eu gosto, há coisas que não me identifico. Sempre segui uma linha de escrever letras muito respeitosas, algumas canções são mais profundas, outras são mais sensuais, como no caso de ‘Despacito’. Mas em nenhum momento insulta a mulher, pelo contrário: é uma canção que celebra a mulher”, diz ele, que convidou a miss universo do Porto Rico em 2006, Zuleyka Rivera, para protagonizar o clipe de “Despacito”.

No fim do ano, Fonsi vai lançar um disco novo, sobre o qual ainda faz muito mistério de data, título e as faixas. Embora insista em dizer que “só existe um ‘Despacito’ e uma ‘Macarena’” em todas as entrevistas que tem dado pelo mundo, para evitar a cobrança por novos hits, ele encara sua trajetória como uma vitória para a música latina.

“‘Despacito’ para mim é muito mais do que ganhar dinheiro. O mundo inteiro está cantando em espanhol, conhece mais o meu país, nossos artistas e nossa maneira de dançar. Todos os latinos ganhamos quando a música mais tocada no mundo é em espanhol. Não mudaria nada nesses 20 anos. Foi uma carreira construída passo a passo, me preparei muito, cresci e aprendi, escrevi canções importantíssimas, vivi momentos inesquecíveis. Na verdade, estou preparado para o que estou vivendo com ‘Despacito’ graças a essa construção”.