Em livro, cantor do A-ha relembra quando tentou se isolar dos fãs no Acre
Em 1989, no auge da fama do A-ha, o vocalista Morten Harket, com apenas 28 anos, procurava algum lugar no mundo onde o hit “Take On Me” não fosse conhecido. Morten olhou para o mapa e escolheu o Acre. Ele acreditava que estado brasileiro era tão afastado e isolado que finalmente encontraria por lá o tão almejado sossego. Poucos dias antes, a banda tinha feito suas primeiras apresentações no Brasil, na Praça da Apoteose, no Rio de Janeiro, e também no Palestra Itália, em São Paulo.
A surreal história da visita do artista mais famoso do mundo na década de 80 abre o livro “My Take On Me”, autobiografia de Harket, lançada recentemente no Brasil pela Faro Editorial.
Com outros dois amigos, Harket alugou um pequeno avião e voou para o meio da Floresta Amazônica. O piloto pousou em uma clareira e eles desembarcaram a espera de um guia - que nunca apareceu porque arrumou uma garota e esqueceu da chegada daqueles excêntricos estrangeiros.
Em seu lugar veio um taxista que ouviu o ronco do motor do avião e foi checar se havia alguém por ali precisando de carro. Finalmente eles chegaram ao hotel e no dia seguinte contrataram outro guia.
“Seu nome era Jefferson. Ele convidou nós três para uma refeição em sua casa, para discutir a nossa visita”, escreveu Harket. “Assim que terminamos de comer, Jefferson quis ampliar sua generosidade como anfitrião: debruçando-se sobre a mesa, perguntou se eu gostaria de ficar com sua mulher à noite. Jefferson não entendia minha recusa. ‘Ela é muito boa’, ele insistia, oferecendo de novo toda vez que eu recusava”, lembrou o cantor.
Até aquele momento, no entanto, Harket não tinha sido reconhecido. Ele era apenas um gringo estranho. Mas o sossego não durou. No dia seguinte, após a canoa em que eles estavam aportar na margem de um rio, ele ouviu um som familiar. “O calafrio percorreu minha espinha. Escutei ruídos surdos de passos e gritos histéricos e vi um grupo de trinta, quarenta, cinquenta mulheres correndo em nossa direção”, escreveu. “Tudo o que tinha atrás de mim era o rio. Não tinha como escapar. Naquele momento me pareceu que não restara mais nenhum lugar para ir”.
O “causo” aconteceu dois anos antes do histórico show que o A-ha fez no Rock in Rio em 1991 para aproximadamente 200 mil pessoas no Maracanã. O recorde de público em shows do A-ha, até hoje não superado, marcou os noruegueses a ponto de Harket abrir a sua autobiografia com histórias sobre o Brasil e, no final do livro, encerrá-lo também lembrando do país.
Anos 80
É difícil não associar a trilha sonora dos anos 1980 ao A-ha. O hit “Take on Me” dominou o mundo, inclusive o Brasil. Hoje aos 57 anos, Harket relembra que por pouco não sucumbiu ao turbilhão da fama em que foi jogado naquele tempo. “Como músico, meu objetivo jamais foi virar celebridade. Além disso, o A-ha não era uma banda que criava factóides ou dava declarações bombásticas para ganhar manchetes”, escreveu.
Ainda sobre o Rio de Janeiro, Harket se lembra do contraste entre o calor tropical das ruas com o frio do ar-condicionado ligado no nível máximo. “Sempre me impressionou, e continua a me impressionar, a repercussão alcançada pelo A-ha no Brasil”, analisou o cantor na primeira página do livro. “Tudo era extremo: o calor e a umidade da noite, o frio de gelar do ar-condicionado. A gente entrava e saída dos carros e dos espaços fechados e era como se alguém estivesse girando rapidamente um botão de controle de temperatura”.
A autobiografia, no entanto, não traz nada de bombástico. Harket revela pouco sobre sua intimidade. Fala muito pouco da família, dos filhos ou de qualquer outra polêmica em sua vida. Ao lê-la, o fã da banda terá a impressão de que tudo foi perfeito na vida do cantor norueguês, desde a ascensão meteórica à fama, até o encontro romântico e perfeito com sua mulher.
Vale o destaque quando Harket revela os desentendimentos que teve com seus colegas de banda, Magne Furuholmen e Paul Waaktaar-Savoy e que levou a separação do grupo nos anos 90. Ainda, os bastidores das gravações dos videoclipes de “Take On Me” e “The Sun Always Shine on TV”, inovadores para a época e feitos sob medida para a MTV.
Por fim, por toda a obra, Harket demonstra carregar uma enorme frustração da mídia, de alguns fãs e dos críticos por enxergarem o A-ha apenas como uma banda pop radiofônica e não com qualidade musical.
Para o fã do A-ha, o livro servirá quase como um bate-papo descompromissado com o seu ídolo. Mas, para quem realmente quiser descobrir como a banda se tornou aquele fenômeno pop dos anos 80, a obra para quase nada servirá.
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