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Romário quer levar Anitta ao Senado para debater criminalização do funk

18.jun.2017 - A cantora Anitta sobe em um dos trios elétricos que participam da Parada Gay, na avenida Paulista, São Paulo - Francisco Cepeda/AgNews
18.jun.2017 - A cantora Anitta sobe em um dos trios elétricos que participam da Parada Gay, na avenida Paulista, São Paulo Imagem: Francisco Cepeda/AgNews

Do UOL, em São Paulo

22/06/2017 14h02

O senador Romário Faria pretende realizar uma audiência pública em julho para debater a proposta de criminalização do funk carioca, feita pelo empresário Marcelo Alonso. "Eu fui escolhido para ser o relator, e é óbvio que vou rejeitar a proposta", disse Romário em seu Instagram.

Na audiência, no entanto, ele não quer estar sozinho e convocará um time de músicos para ajudá-lo, como Anitta, Mc Marcinho, Cidinho e Doca (compositores do "Rap da Felicidade"), Mc Koringa, MC Bob Rum (compositor do "Rap do Silva"), Valesca Popozuda, Bochecha, Tati Quebra Barraco.

"Eu, como um carioca nato e um eterno funkeiro, sou totalmente contra essa proposta. Além de ser inconstitucional, por atentar contra a liberdade de expressão, o funk tira pessoas do desemprego, gera renda e movimenta a economia", disse ele no Senado esta semana.

Anitta já tinha usado o Twitter para dizer que é contra a proposta. "Vinte e dois mil desinformados que estão precisando sair do conforto de seus lares para conhecer um pouquinho mais do nosso país", escreveu.

No Facebook, Romário usou uma animação que emula um chat no WhatsApp para explicar o andamento do projeto.

Entenda o caso

O empresário paulista Marcelo Alonso, autor do relatório, reuniu mais de 20 mil assinaturas no site do Senado com a proposta legislativa de criminalizar o funk.

No texto descritivo da ideia, Marcelo define: "São somente [o funk] um recrutamento organizado nas redes sociais por e para atender criminosos, estupradores e pedófilos a prática de crime contra a criança e o adolescente, venda e consumo de álcool e drogas, agenciamento, orgia, exploração sexual, estupro e sexo grupal" (sic).

A ideia de lei não significa que o funk já foi proibido. O que ocorreu foi o seguinte: qualquer pessoa pode entrar no site do Senado e sugerir uma ideia de lei, e, se em quatro meses ela receber 20 mil assinaturas, é encaminhada para a relatoria que pode dar andamento à lei ou não.

O jornalista Renato Barreiros, diretor do documentário "O Fluxo" (2014), sobre os bailes funk de rua de São Paulo, e estudioso da cultura da periferia, ironizou a ideia. "Para início de conversa: os principais bandidos do Brasil nunca frequentaram um baile funk. Basta ver as delações premiadas".

"O funk fala de crime porque ele está inserido naquela realidade. Ele é espelho de um problema social muito maior", completou. "O funk nunca foi o problema. O problema é a realidade que ele mostra, de uma parcela da população sem perspectiva, com uma taxa de desemprego alta entre jovens. Não adianta matar o mensageiro. E, se proibirem o funk, vai surgir o reggaeton, a cumbia, enfim, as manifestações culturais vão continuar."

O funkeiro carioca Mr. Catra, autor dos chamados funks "proibidões" e que lançou recentemente o clipe de sua nova (e polêmica) música "Pepeka Chora", também criticou a proposta. "Eu fico sem reação com alguém simplesmente cogitar a ideia de criminalizar o funk", reclamou. "O rap americano tem letras muito piores. Em vez de brigar com o funk, por que não briga contra o rap?", sugeriu.

"Milhões de pessoas no Brasil vivem do funk. Ele gera empregos e é um movimento cultural legítimo da favela. O problema não é o funk, mas, sim, a educação que os pais não dão para seus filhos. O funk é a cultura do trabalhador. Deixo a sugestão: vamos fazer a mesma coisa lá no Senado. Tenho certeza que teremos milhares de assinaturas apoiando o funk", finalizou.

Ao UOL o autor da ideia de lei, Marcelo Alonso, 46, afirmou que está democraticamente tentando salvar a juventude. "O funk faz apologia ao crime, fala em matar a polícia. Sou pai de família, e, se eu não me preocupar com o futuro, amanhã só teremos marginais", disse.

Alonso revelou que teve a ideia de criminalizar o funk após o Facebook suspender duas vezes a página que mantém na rede social contra o estilo. "O Mark [Zuckerberg, criador do Facebook] mandou fechar a minha página por causa das coisas que postamos lá. Mas, se o funk for crime, eles vão ter que obedecer, porque é lei. Estou apenas defendendo o ECA [Estatuto da Criança e do Adolescente]", disse.

Para o empresário, o funk apela para a vulgaridade. "O axé e o forró também estão indo nesse ritmo. A cultura paulista sempre foi do rock e do hip hop. O paulista não tem esse apelo musical do funk. A música eleva seu estado de espíritom e o funk te irrita e provoca", concluiu.