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Ana Vilela e o segredo de "Trem-Bala", a música que está longe de acabar

Ana Vilela e sua galinha dos ovos de ouro - Elisa Freiria/Divulgação
Ana Vilela e sua galinha dos ovos de ouro Imagem: Elisa Freiria/Divulgação

Tiago Dias

Do UOL, em São Paulo

30/06/2017 13h23

No comercial de TV, na fila do mercado, no provador de roupa e até na balada, a mensagem que chega aos ouvidos é que “a vida é trem-bala, parceiro, e a gente é só passageiro prestes a partir.”

A tímida Ana Vilela leva a sério o recado da própria canção. Escrita despretensiosamente há menos de um ano, para superar uma barra bastante mundana “um chifre nervoso”, “Trem-Bala” pegou velocidade própria e, mesmo com apenas três minutos de duração, parece ainda estar longe de terminar.

“Graças a Deus”, comemora Ana. Com apenas 19 anos e muitos sonhos, só restou à paranaense pegar carona neste comboio.

Nos trilhos desse trem

Com dedilhados no violão e versos sobre a efemeridade da vida, a canção tem sido disputada a tapa por gravadoras e agências de publicidade.
Já serviu de tema de Natal para um shopping center, ganhou letra para a campanha de Dia das Mães de um banco, e integra a trilha sonora da nova temporada de “Malhação”.

A canção oficial, com o aporte de uma grande gravadora, chegou às rádios em abril, com uma versão em dueto com Luan Santana. Há semanas, é a mais baixada no iTunes e só perde para o fenômeno “Despacito”.

Ganhou também dois remixes para as pistas, embora ela confesse, com jeito de interiorana: “Sou muito caseira, não frequento muito”.

A versão recém-lançada pelo Padre Fábio de Melo é o favorito da compositora, fã do clérigo. “Já trocamos mensagem por redes sociais. Ele achou linda e disse que tem uma mensagem profunda”, conta.

A letra motivacional também estará em breve impressa em livro, com participação integral de Ana na escolha da edição e do formato. Viabilizado via crowdfunding, a cantora ofereceu pocket shows como recompensa para as doações e não teve dificuldade em angariar R$ 70 mil para a publicação.

Foi o tio de Ana, hoje seu empresário, quem deu o toque de que a canção poderia ser uma verdadeira galinha dos ovos de ouro. “Vamos fazer”, sugeriu ao receber a primeira proposta comercial.

Ainda se acostumando com a rotina intensa de shows e a entrada em um mercado que nunca sonhara para si, Ana decifrar o sucesso. “Acho que a letra, por ser muito sincera, conversa com as pessoas de uma maneira universal e atemporal”. E conclui, aos risos: “Não tem nenhum segredo, ‘Trem-bala’ é o que todo mundo vê”.

Conversa com avô

“Trem-Bala” chegou a esse tamanho sem muito esforço e nasceu de uma conversa com o avô sobre relacionamentos. “Não que ele tivesse dito algo absurdamente tocante, mas ele me direcionou em alguns sentidos sobre relacionamentos, meus amigos, família, como eu deveria agir”, conta. “Até então eu era uma compositora de sofá”, define.

Como era de praxe, enviou a gravação amadora para os amigos via Whatsapp. Três dias depois, caiu para trás ao receber a própria música, agora postada no YouTube sem título e crédito. A canção havia se espalhado espontaneamente. Teve uma única reação: “Comecei a chorar”.

Em dois meses, Ana deixava de ser aquela cantora que andava com violão por Londrina, conhecida por um projeto social sobre música, para aparecer no “Caldeirão do Huck” e fazer Deborah Secco, a convidada do dia, chorar no palco.

A comoção só aumentou quando a uber model Gisele Bündchen resolveu mostrar os dotes no violão justamente com “Trem-Bala”.

Ana grava as últimas vozes do primeiro disco, na semana passada, no Rio - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Ana grava as últimas vozes do primeiro disco, na semana passada, no Rio
Imagem: Reprodução/Facebook

One hit wonder, não!

É inegável que Ana tem outra vida, mas ela garante que a mudança foi mais espiritual do que financeira. “Não que eu esteja louca comprando tudo, só estou me divertindo um pouco mais”, revela.

Com a pouca idade, ela mantém os pés no chão e se diz preocupada em se tornar a cantora de apenas uma canção.

A prova dos noves sai no segundo semestre. Com a mesma pegada folk e “algumas brasilidades”, o primeiro disco, ainda sem título, foi finalizado nesta semana sob elogios do produtor Juliano Cortajah (que já trabalhou em um projeto com Roberto Carlos): “A Ana é uma Cantora que tem uma carga emocional diferenciada e tem o poder de expressar isso em cada frase que interpreta”, observou.

A pegada nas letras não será “sobre chegar no topo do mundo e saber que venceu”, como diz a letra de “Trem-Bala”, e sim “sobre escalar e sentir que o caminho te fortaleceu”. Fora algumas outras composições sobre relacionamentos, “os antigos e os novos”, ela diz, sem disfarçar o riso tímido.