Filho de João Gilberto critica ex do pai e diz que quer levá-lo para os EUA
Ele sempre foi recluso e pouco se sabia de sua vida privada. Agora, aos 86 anos, João Gilberto vive uma pendenga envolvendo família e dinheiro que colocou em evidência o que ele sempre tentou resguardar.
De acordo com reportagem de junho da "Folha de S.Paulo", o pai da bossa nova assinou um empréstimo de R$ 10 milhões com o banco Opportunity, em abril de 2013. O músico estava enfrentando dificuldades desde o cancelamento de sua turnê de 2011, quando completou 80 anos. Ele não realizou os shows nem devolveu o dinheiro.
Na assinatura do empréstimo, o músico recebeu metade do valor e ainda não usufruiu da segunda parte. Como garantia, o banco ficou com 60% dos direitos autorais dos quatro primeiros discos de João.
“Problema é que o empréstimo não tem uma taxa de juros muito boa e, acima disso, distribuiu 60% de seus direitos. Ninguém consciente desses termos assinaria tal coisa. Ele poderia ter obtido um empréstimo padrão, em melhores condições. Foi aconselhado por Cláudia [Faissol] a fazer o acordo”, disse o primogênito do músico, João Marcelo Gilberto, 57, ao UOL.
Mãe da caçula de João Gilberto, que tem 12 anos, Cláudia Faissol cuida dos interesses pessoais e da carreira do músico.
Para Claudia, as finanças debilitadas do músico são consequência de administrações ruins de sua carreira e à falta de interesses de “governos” e do país.
“Ele não tinha empresário, ninguém registrou suas interpretações. Estou tentando organizar. Fui a estatais e ministérios no governo passado e não consegui ajuda. Ele não queria lei de incentivos para tirar impostos do povo. Houve falta de vontade política”, disse Cláudia sobre as tentativas de buscar patrocínio para o músico.
Ela afirma que, em 2011, JG recebeu pela turnê que não fez e não devolveu o dinheiro recebido (cerca de R$ 500 mil) porque a empresa não cumpriu o contrato, barganhou o valor e deveria ter um seguro de contrato.
“Ele não é um artista comum, se programa, se prepara muito, faz ginástica, se baseia na acústica. Trataram como um show de rock”, justifica ela.
“Descobri anos mais tarde que Cláudia fez acordos paralelos com o banco. Ela agiu de má-fé contra um idoso. Também me enganou e na época eu não tinha advogado”, acusa Marcelo.
O produtor a responsabiliza ainda pelo suposto derrame no patrimônio do músico. Mesmo com quase 60 anos de carreira, João Gilberto não mora em apartamento próprio. O tamanho de seu patrimônio, a família desconhece. A situação financeira do músico preocupa Marcelo, principalmente desde 2013.
“Ela [Cláudia] manda a filha para uma escola de R$ 11 mil por mês e acredito que ela não trabalha. Meu pai está perdendo sua casa, mas sua filha está bem. Ele está quebrado. Ela o sangrou até secar.”
A empresária foi vaga sobre as acusações de Marcelo. “Pergunte à família como ele chegou até aqui”, disse laconicamente.
"Dia desses, Paulo Jobim [músico, filho de Tom Jobim] me apontou, durante um jantar, que ele não produziu mais nada, desde que Cláudia apareceu na vida dele. Sinto que meu pai não pode mais se defender contra essas mulheres. Eu fico deprimido com isso”, queixa-se Marcelo.
Disputa para ser esposa
A outra mulher na vida de JG é a moçambicana Maria do Céu Harris, 53, sua namorada por cerca de 20 anos. Eles ficaram juntos até ele se envolver com Cláudia.
Recentemente, Maria do Céu se mudou para a casa do músico, no Leblon, zona sul do Rio, depois de ter sido despejada do apartamento onde vivia, no mesmo bairro, cujo contrato estava no nome de João. Solitário, o músico seria avesso à coabitação e, por isso, chegou a sair de casa, agravando a preocupação da família.
O ícone da bossa nova já retornou. Ao ser questionada sobre o paradeiro dele, na semana passada, Cláudia respondeu: “Ele não quer que diga onde está, não quer que eu dê entrevista sobre ele, tem direito à privacidade”.
A reportagem não localizou nenhum contato de Maria do Céu Harris.
Segundo o filho, João nunca quis se casar com nenhuma das duas, que na visão dele, “disputam” esse título.
“A coisa mais triste é observar Maria e Cláudia lutarem para serem percebidas como esposa quando ele sempre foi muito explícito sobre não ser casado. Ele é inflexível sobre isso."
O músico foi casado com Astrud Gilberto, mãe de Marcelo, e com Miúcha, mãe da outra filha de João, a também cantora Bebel Gilberto. O UOL tentou contato com Bebel, sem sucesso.
Filha de um dentista famoso no Rio, Cláudia Faissol era casada quando se aproximou de João, em 1999, para fazer um documentário. Na época, ele vivia o relacionamento com Maria do Céu. Luísa nasceu em 2004 e a paternidade do músico foi descoberta por exame de DNA, segundo a imprensa noticiou à época.
Desde então, Cláudia, que é considerada do high society carioca, representa os interesses financeiros da filha e representa João. Já Maria do Céu voltou à vida do ícone da bossa nova em meados de 2011, segundo reportagens daquele ano.
Marcelo agora quer levar o pai para viver com ele em Nova Jersey, nos Estados Unidos.
“Tem um estúdio em minha casa. Ele pode gravar mais uma vez, ainda pode tocar e cantar. Esse homem colocou todo o país no mapa da música criando bossa nova e agora acabar com menos do que nada, não está certo.”
Ainda de acordo com o primogênito, as duas ex-namoradas interferem no contato de João com a família.
“Maria foi ficar com ele quando perdeu seu apartamento. Logo ele perderá o seu também. Cláudia está desviando seu dinheiro. O condomínio não foi pago por vários meses, assim como o aluguel. Minha esposa ligou para ele há alguns dias e Cláudia pegou o telefone, começou a gritar, ameaçou os dois”, afirma Marcelo.
“Fico muito triste. Tenho dois filhos, um de 24 e uma de 1 ano e 5 meses, Sofia, que ele viu só uma vez. Maria do Céu impede [de ele ver]. Uma vez ela seguiu minha esposa, que estava com a criança em seus braços, quando tentamos visitá-lo”, contou o filho.
Amigos
Na rotina da atribulada de João Gilberto uma coisa nunca mudou em 42 anos: seus pedidos de almoço ou jantar no restaurante Degrau, no Leblon.
Sebastião Alves, o Tião, de 65 anos, começou a trabalhar no lugar há 40, como entregador. Hoje, subgerente do estabelecimento, que tem 50 anos de existência, é ele quem atende o músico.
“Sempre foi assim, ele nunca veio aqui não, só é atendido em casa. Pede pratos variados, de filé a frango, nada específico de preferência. Ele trata muito bem quem entrega, sempre dá boas gorjetas, ninguém tem do que reclamar”, diz o subgerente.
Em comum com o criador da bossa nova, Tião tem a paixão pelo Vasco, assunto de conversas ao telefone com o músico. “Sofremos pela mesma coisa”, afirma Tião, que o considera um amigo.
“Eu o vi faz uns seis meses. Fui levar o almoço só para dar um abraço. Para mim ele é especial. Nunca ficou chateado comigo [por falar sobre ele em entrevistas]. Me chama de Tiãozinho”, declarou o subgerente.
Apesar de não ouvir outro tipo de música que não a de cânticos de louvores evangélicos, Tião guarda uma certa inveja de um ex-colega de restaurante. “Tem uns dez anos que ele pediu para o Francisco [ex-funcionário do restaurante] entrar no apartamento e ouvir ele tocar uma música. Nunca tive essa sorte."
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