Músico do Bon Jovi diz que brasileiros "cantam mais alto do que a banda"
Tico Torres, baterista do Bon Jovi, tem uma opinião peculiar sobre o público brasileiro: é um povo barulhento. "Como seus jogos de futebol, vocês são mais barulhentos do que qualquer coisa quando estão cantando", disse o músico, por telefone, ao UOL. "Sempre achei que nossos fãs do Brasil cantam mais alto do que a banda".
Não é uma crítica de Torres, pelo contrário. Especialmente se levar em conta a "má fase" vocal em que o vocalista Jon Bon Jovi se encontra --ele interrompeu um show recentemente, admitindo que estava "cantando feito m****", e ainda cancelou outras datas por problemas na voz. "Ele estava doente na época, foi só isso mesmo. Para mim, ele ainda canta bem pra caramba", disse, aos risos. "Acho que a banda está mais forte do que nunca".
Isso o público vai poder comprovar quando o Bon Jovi desembarcar em setembro no Brasil para três shows: o primeiro em Porto Alegre (dia 19), o segundo no Rock in Rio (dia 22) e o terceiro no festival São Paulo Trip (dia 23). "Estou ansioso para o Rock in Rio, porque eu perdi da última vez", falou Torre, lembrando que não veio com a banda em 2013 por causa de uma crise de vesícula.
Tantos anos de estrada e um novo mercado musical
Formado em 1983, o Bon Jovi já vendeu impressionantes 134 milhões de álbuns no mundo todo. Mas os parâmetros musicais acabaram mudando muito e o quinteto teve que se ajustar ao streaming e ao novo modo de produzir conteúdo.
"Hoje, muitas pessoas estão comprando apenas um single e não recebem o efeito do que a banda realmente quer passar. Eu gosto de ouvir o trabalho inteiro para saber sobre a história que os integrantes estão fazendo".
O último álbum do grupo, "This House is Not For Sale", alcançou o topo entre os mais vendidos dos Estados Unidos, mas não chegou nem a fazer cócegas dos clássicos "Slippery When Wet" e "New Jersey", os projetos mais bem-sucedidos do grupo com os hits eternos do hard rock "You Give Love a Bad Name", "Livin' on a Prayer" e "I'll Be There For You".
"Depois de trinta e poucos anos voltamos a ficar em 1º lugar nas paradas. Mas não é nada comparado à década de 1980, quando um álbum precisava vender 7 milhões, 15 milhões para figurar no topo da lista", ponderou Tico.
Tico poderia ser do Kiss
Tico Torres começou no jazz, mas deve tudo à cidade de Nova York, que fervia nas décadas de 60 e 70 quando o músico deu os primeiros passos na carreira. "Fui abençoado por crescer nessa cidade. Os melhores músicos sempre vão para Nova York e pude assistir e tocar com alguns deles. Mas chegou um ponto da vida que não conseguia mais pagar as contas com o jazz. Por isso fui para o pop".
Tico ganhou fama como músico de estúdio antes de explodir com o Bon Jovi e chegou a tocar com Cher, Chuck Berry, Alice Cooper e Stevie Nicks. "Para mim, música é música e você vai fazer de tudo para que ela brilhe. É maravilhoso fazer o que ama por 49 anos. Nem é trabalho, na verdade", contou o baterista.
Mas uma banda que fez questão de passar longe foi o Kiss. Durante gravação com T. Roth and Another Pretty Face, "uma boa banda que tocava jazz rock", Gene Simmons e Ace Frehley, baixista e guitarrista do Kiss, deram uma passadinha no estúdio. Os maquiados estavam sem baterista após a saída de Peter Criss e fizeram um convite a Tico em 1980.
"Eu disse para eles, 'Vocês querem que eu use maquiagem? Vou ser honesto com vocês, estou ralando há 16 anos para que as pessoas me conheçam, não quero me esconder agora", relembrou o bem humorado músico.
Raízes cubanas e Donald Trump
Filho de cubanos, Tico Torres falou sobre o momento político dos Estados Unidos, comandado desde o começo deste ano pelo novo presidente Donald Trump. "Se você tenta ir ao México, por exemplo, sem a identificação, podem te expulsar. Nos Estados Unidos é a mesma coisa. E a questão nem é sem imigrante, todo mundo aqui é imigrante. O país foi construído na imigração", falou o baterista.
"O que o governo está fazendo é tentar controlar as fronteiras para não deixar que o terrorismo não entre a hora que quiser. Não sou tão voltado à política, mas sinto que os imigrantes que estão aqui não estão com medo. O que o governo quer dizer é, "Se você é do bem e está aqui, sem problemas. Mas se você for um criminoso, então tome cuidado", concluiu.
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