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As patroas atrás das cortinas: o que rola antes do show de Maiara e Maraisa

Maiara e Maraisa dão entrevista antes de show no Villa Country, em São Paulo - Neffer Wisley/Villa Country
Maiara e Maraisa dão entrevista antes de show no Villa Country, em São Paulo Imagem: Neffer Wisley/Villa Country

Renata Nogueira

Do UOL, em São Paulo

01/09/2017 15h26

Da primeira maquiagem ao último retoque da noite pelo menos 7 horas se passaram. Não é simples ser Maiara e Maraisa. Mas o tamanho do sucesso compensa. A dupla sertaneja formada por irmãs gêmeas experimenta o auge da carreira há pelo menos dois anos, depois que a música "10%" explodiu junto com a força do movimento feminino dentro do ritmo.

O UOL acompanhou os bastidores de uma noite de show de Maiara e Maraisa em São Paulo. A apresentação na capital paulista aconteceu na noite desta quinta-feira (31), um dia depois de elas voltarem da primeira turnê nos Estados Unidos. As patroas, como são conhecidas no meio, conseguiram lotar o Villa Country mesmo em uma noite fria de dia de semana e na cidade com uma das vidas noturnas mais agitadas do continente.

Com uma agenda que as obriga a serem nômades (serão 26 shows apenas no mês de setembro), as irmãs mato-grossenses formadas em Música seguem criando seus próprios hits e assinando parcerias de sucesso. Entre as mais recentes, "Sorte Que Cê Beija Bem" e "Esqueci Como Namora", colaboração com o funkeiro Nego do Borel, aparecem uma atrás da outra entre as 20 músicas mais tocadas no ranking Top 50 Brazil do Spotify.

Os números expressivos geram interesse na mesma proporção. O movimento que acontece bem antes das cortinas se abrirem trata de suprir ao menos um pouco a paixão e a curiosidade por um mundo tão cativante quanto movimentado. É justamente esse interesse coletivo que bota as irmãs já vestidas e maquiadas com o figurino do show para atender as TVs, sites e jornais que vão tirar um pouco mais de informação de cada uma das duas.

"Como foi a recepção dos fãs nos Estados Unidos", "como está seu inglês", "vocês estão solteiras"? Elas contam da responsabilidade de matar a saudade da terra dos fãs brasileiros que vivem fora, dos fãs gringos que tentam cantar em português, do inglês que funciona no tranco e, sim, confirmam que as duas estão solteiras no momento. A primeira hora em pé passa como 10 minutos.

Perrengue? Que nada. "Já atravessei três estradas sem tomar banho, já fiz três shows direto", lembra Maiara. "Nem é mais perrengue, para a gente já virou rotina. É muito difícil chegar de um lugar a outro, mas a gente tenta fazer o melhor. Se trocar no carro por exemplo é fichinha", completa Maraisa.

"Já atravessei três estradas sem tomar banho, já fiz três shows direto"
Maiara

Separadas por uma portinha do camarim e após algumas canjas para as equipes de TV, o ar condicionado da saleta sobe para os 25ºC para preservar a voz das meninas. Apesar da correria, a dupla que emprega até 200 pessoas com sua superprodução conta o cuidado de uma equipe que está sempre de olho no que elas precisam. A pedido de Maraisa, a água com gás e limão espremido é trocada por um copo de energético.  O cuidado com a temperatura e a hidratação são alguns dos artifícios para manter as vozes impecáveis até a hora do show. Mas a garantia mesmo, segundo elas, é "uma boa noite de sono".

A noite de sono, que no caso das artistas acontece de manhã ou a tarde, ganha um aditivo com os itens indispensáveis no camarim: o primeiro deles é o café, mas energético e água também ajudam a manter o pique. O álcool que aparece tanto nos modões só está liberado depois do show, para não atrapalhar a voz.

Um rápido retoque na maquiagem e mais uma hora se passou entre fotos e atendimento aos fãs. Apesar de todo o esforço, o atraso para o início do show já é inevitável, ainda mais com vips e amigos de profissão chegando para cumprimentar antes de assistir à apresentação da dupla.

Mariana Belém e Tiago Abravanel - Neffer Wisley/Villa Country - Neffer Wisley/Villa Country
Mariana Belém e Tiago Abravanel tietam Maiara e Maraisa antes de show
Imagem: Neffer Wisley/Villa Country

Enquanto isso uma equipe de pelo menos 50 homens trabalha em cima e em volta do palco para deixar som e equipamentos no ponto para a hora da apresentação. Marcados com adesivos que levam seus nomes, os microfones e retornos de Maiara e Maraisa são separados e testados um a um. São dezenas de pequenos aparelhinhos que serão usados não apenas pelas cantoras, mas também pelos sete músicos que compõe a banda com bateria, guitarras, violão, baixo, sanfona, teclado e percussão.

Maiara e Maraisa estão prontas 10 minutos depois de a banda se posicionar e aquecer. Abrem-se as cortinas pretas e o lugar é tomado por uma gritaria domada pelo tom de voz alto e marcante das irmãs. As posições no palco e os gestos são mais livres ou ensaiados dependendo música. As músicas são entregues sem enrolação com o hit "10%" já abrindo a apresentação que começa na madrugada.

É no cantinho do palco onde só a técnica pode ver que as meninas correm nos quase imperceptíveis intervalos para secar o suor, tomar uma água ou um energético e mais uma vez retocar a maquiagem. A beleza é crédito de Andre Ribeiro, maquiador que as acompanha há pelo menos um ano. Com pincéis em mão, ele fica a postos esperando o momento certo de atenuar o suor causado pelo calor das luzes do palco. "A Maraisa é mais vaidosa", diz, contando que leva no mínimo uma hora e meia para arrumar as duas.

Maiara e Maraísa - Neffer Wisley/Villa Country - Neffer Wisley/Villa Country
Maiara e Maraísa agradecem o público durante show no Villa Country, em São Paulo
Imagem: Neffer Wisley/Villa Country

O momento mais emocionante chega quando toca "Se Olha no Espelho", parceria delas com Cristiano Araújo. O operador de som que comanda a mesa na lateral do palco é Cícero, o mesmo que trabalhava para o sertanejo antes do acidente que tirou a vida do cantor há dois anos e meio. Cristiano surge no telão em sua parte da música e parte do público chora.

É justamente com Cícero que Maraisa conversa discretamente por sinais quando chega na perto da lateral direita do palco. Um olhar, um leve balanço das mãos e dos dedos é interpretado com destreza pelo experiente técnico. Ela pede ajustes para deixar perfeito o som da sua guitarra que toca em várias canções acompanhando a banda enquanto Maiara faz quase um culto com discursos empoderadores voltados para a mulherada.

O fim da noite é na verdade quase a manhã do dia seguinte. E horas depois todo o ritual vai ser repetir. Dessa vez já longe de São Paulo. Em São Sebastião da Bela Vista, Minas Gerais, onde as irmãs iniciam a agenda de setembro nesta sexta (1º).