Como é assistir ao show do Sepultura do Palco Sunset no Rock in Rio
Felipe Branco Cruz
Do UOL, no Rio
25/09/2017 00h03
Assistir ao show do Sepultura da plateia já é, por si só, uma experiência quase transcendental. Acompanhar de cima do palco todo o show da banda, em pleno Rock in Rio, certamente é uma experiência ainda mais poderosa. É só ali, bem pertinho do grupo, que entendemos porque o Sepultura é considerado uma das maiores bandas de metal do mundo.
Um relógio digital vermelho, instalado bem ao lado direito do palco marcava 20h02 e denunciava que o show já deveria ter começado. Um produtor da banda ouviu pelo rádio que o Sepultura só poderia entrar quando a apresentação do Capital Inicial acabasse no Palco Mundo. "Quando o som acabar lá, baixem as luzes e anunciem a atração", avisou.
Da plateia, era possível ouvir o arrepiante grito de guerra "Se-pul-tu-ra! Se-pul-tu-ra", que preenchia com ecos todo o espaço. Ao meu lado, o vocalista Derrick Green e o baixista Paulo Jr. aguardavam para entrar. Do outro lado do palco, aguardavam o baterista Eloy Casagrante e o guitarrista Andreas Kisser. Também na coxia estavam os integrantes da Família Lima, numa parceria que mesclou instrumentos clássicos com o peso do metal. Talvez lá da plateia fosse mais fácil ouvir esses instrumentos, mas dali do palco, eles passaram batidos.
Lá embaixo, o gramado estava completamente tomado com incessantes gritos do público. O show foi aberto com a nova música, que surge com ares de clássico, "I Am The Enemy", acompanhada a plenos pulmões pela plateia. Também na lateral dos palcos, só que um pouco mais nos fundos, um vulto verde se movimentava bastante e sorria prazerosamente. Era o cantor Supla (que mais cedo havia feito show ali) com uma jaqueta fluorescente vibrando com cada acorde de Kisser. Logo depois, chegou o vocalista do Ratos de Porão, João Gordo, que contornou por trás o palco e assistiu ao show do outro lado. Por fim, Fred, baterista do Raimundos, observava com atenção a desenvoltura de Eloy Casagrande.
Se lá debaixo, na plateia, já é impressionante testemunhar o virtuosismo de Eloy Casagrande na bateria, assistir ao show ao lado do instrumento é uma experiência completamente diferente. Só assim para entender por que o Sepultura contratou um baterista tão jovem para o lugar do insubstituível Iggor Cavalera. Mas o rapaz dá conta do recado. Tanto é que a todo o momento os outros integrantes interagiam com ele com olhares e risadas.
A troca de instrumentos usados por novos entre uma música e outra é frenética também. O tempo todo, Paulo Jr. troca olhares e faz sinal para seu roadie, que parece entender exatamente o que ele quer, seja um arranjo melhor no baixo ou mesmo ajustar um cabo que está no meio do caminho.
A apresentação seguiu com outras faixas do disco novo, mas ganhou uma força quase sobrenatural quando no final eles emendaram quatro clássicos: "Arise", "Refuse/Resist" e "Ratamahata". "Roots" encerrou o show com a banda deixando o palco de alma lavada. Lá atrás, todos comemoraram a apresentação. Kisser, no entanto, foi mais cauteloso. Bbaixinho ele perguntou para um técnico de som: "Deu certo, né?". Após a resposta afirmativa, só então que ele relaxou e deixou o palco.