Músicas de protesto do rock nacional que poderiam ter sido escritas em 2017
Mesmo com algumas sendo escritas há 30 anos, muitas músicas de protesto do rock nacional continuam com temas atuais. O Rock in Rio uniu certos hinos da música brasileira com o momento conturbado que vivemos na política, e em diversos momentos o grito "Fora, Temer" foi ouvido na Cidade do Rock tanto pelo público quanto pelos artistas.
De Legião Urbana e Titãs a O Rappa, a lista a seguir analisa 10 faixas que poderiam ter sido escritas em 2017 no atual cenário político e social do Brasil.
"Que País É Este?" - Legião Urbana
Renato Russo escreveu a música em 1978, quando ainda pertencia ao Aborto Elétrico. "Havia a esperança de que algo iria realmente mudar no país, tornando-se a música então totalmente obsoleta. Isto não aconteceu", analisou Renato sobre o motivo de demorar para gravar a canção. Passados quase 40 anos, a situação parece continua a mesma e o hit ainda é lembrado como sinônimo de protesto contra a classe política brasileira e a situação dos índios no Brasil: "Nas favelas, no Senado/Sujeira pra todo lado/Ninguém respeita a Constituição/Mas todos acreditam no futuro da nação".
"Luiz Inácio (300 Picaretas)" - Os Paralamas do Sucesso
O ex-presidente Lula afirmou no início da década de 90, que havia 300 picaretas no Congresso Nacional. Herbert Vianna usou a frase para construir a música de 1995. O compositor destrincha Brasília e aponta a corrupção dos políticos: "Luiz Inácio falou, Luiz Inácio avisou/ É lobby, é conchavo, é propina e jeton/Variações do mesmo tema sem sair do tom/ Brasília é uma ilha, eu falo porque eu sei/ Uma cidade que fabrica sua própria lei". Por outro lado, 22 anos depois, Luiz Inácio Lula da Silva é reu pela Lava Jato acusado de corrupção e lavagem de dinheiro, e os 300 podem ser a quantia em milhões de reais que o político é acusado de receber de propina.
"Vossa Excelência" – Titãs
À época do mensalão, em 2005, o Titãs apresentou esta faixa inédita escrita por Paulo Miklos, Tony Bellotto e Charles Gavin. "Estão nas mangas dos senhores ministros / Nas capas dos senhores magistrados / Nas golas dos senhores deputados / Nos fundilhos dos senhores vereadores", vociferava Miklos antes de chegar para o refrão, em que chama de "ladrão" e "filho da p***" figuras importantes envolvidas em escândalos de corrupção. Apesar do mensalão já ter entrado para a história -- e muitos terem esquecidos -- os políticos continuam sendo julgados e novos atos ilícitos aparecem quase diariamente.
"Saquear Brasília" - Capital Inicial
Em 2012, o Capital lançava "Saquear Brasília", um tema anárquico em que Dinho conclama para reunir todas as pessoas -- "amigos", "pais, "filhos" e "filhas"-- e tomar o que é nosso em Brasília. A música continua autêntica e poderia ter sido escrita neste ano pelos motivos para que seja necessário tal intervenção popular na capital federal: "Eles mentem e não sentem nada / Eles mentem na sua cara". "Se os brasileiros não percebem os políticos como confiáveis e votam neles, é porque não veem alternativas. Acredito que se houvesse uma opção na cédula para anular a eleição, muitos poderiam optar por isso", disse Dinho na época em entrevista ao UOL.
"Inútil" - Ultraje a Rigor
Independente de qual lado político você seja, o fato é que a ex-presidente Dilma Rousseff sofreu impeachment e Michel Temer, que ocupou o cargo vago, sofre com uma reprovação de 77%, pior resultado desde a ditadura. Roger Moreira, líder do Ultraje, já inicia a faixa com o verso "A gente não sabemos escolher presidente", mas também introduz diversas críticas sociais, como os empréstimos a juros exorbitantes dos bancos, a falta de infraestrutura e as burocracias que cercam o país. Tudo isso com o humor ácido do compositor, que ainda brinca: "A gente joga bola e não consegue ganhar"
"Pátria Amada" – Inocentes
"Pátria Amada, de quem você é afinal? Do povo das ruas ou do Congresso Nacional?", perguntou o Inocentes em 1987 no álbum "Adeus Carne", uma adaptação do hino nacional. As questões para o Brasil vem de uma voz cansada de tanta desilusão, já que "cantei hinos em seu louvor mas tudo o que fiz nada adiantou". A pátria ainda amada por uns e odiada por outros segue decepcionando os brasileiros com "palavras vazias e promessas no ar", onde a pobreza cresceu pelo segundo ano consecutivo, segundo pesquisa da FGV. Como termina a música, "Pátria Amada, idolatra, salve, salve-se quem puder".
"Até Quando Esperar" - Plebe Rude
A roubalheira enraizada pelo alto comando do Brasil já foi discutida no hino do Plebe Rude. Joel Gutje e Philippe Seabra esmiuçaram a desolação do brasileiro em "O Concreto Já Rachou", de 1985, apontando "cadê sua fração?" com "Tanta riqueza por aí". O grupo punk ainda define que até quando vamos esperar a "plebe ajoelhar esperando a ajuda de Deus"?. O tema fez parte da trilha sonora de "Os Dias Eram Assim", série produzida pela Rede Globo neste ano.
"Não Devemos Temer" - Garotos Podres
Gritos de "Fora, Temer", mensagens no Rock in Rio como "Amar sem Temer" e faixas cujo alvo é o presidente da república poderiam ser descritas em "Não Devemos Temer", música do Garotos Podres de 1993. Um dos nomes mais importantes punk nacional celebra a união do povo -- "Eles são um / Nós somos milhões -- para que o sistema caia. "Não devemos temer os que detêm o poder", afirma a banda. Versando sobre os ataques constantes pelos quais a gigantesca população brasileira é acometida, a faixa anárquica prega uma revolução no Brasil para uma sociedade justa.
"Miséria S.A" - O Rappa
Tantas crianças que pedem dinheiro nos semáforos são lembrados por essa música d'O Rappa no álbum "Rappa Mundi". Composta por Marcelo Yuka, ex-baterista da banda, em 1995, a canção traz um depoimento comum das pessoas que enfrentam sol e chuva para tentar tirar um troco no farol. "Senhoras e senhores estamos aqui / Pedindo uma ajuda por necessidade / Pois tenho irmão doente em casa / Qualquer trocadinho é bem recebido". A música também é uma crítica àqueles que não tratam bem os pedintes de rua, colocando a miséria como uma grande instituição.
"Desordem" - Titãs
"Os presos fogem do presídio/ Imagens na televisão / Mais uma briga de torcidas / Acaba tudo em confusão / A multidão enfurecida / Queimou os carros da polícia". Os versos parecem ter saído de algum jornal noturno da televisão, mas na verdade completam 30 anos neste 2017. A faixa é tão atual que impressiona, questionando se ainda temos futuro como sociedade e "O que mais pode acontecer / Num país pobre e miserável?". Violências nas ruas, caos político em Brasília e população enfurecida querendo seus direitos. O que mudou no Brasil dos anos 80 para agora?
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