Quarentão e desencanado, John Mayer propõe show para "geração Netflix"
Muita coisa mudou na vida de John Mayer desde a rápida passagem do americano ao Brasil em 2013. O mais simbólico de todo esse movimento talvez esteja nessa volta ao país, onde faz cinco shows a partir desta quarta-feira (18), em São Paulo. Mayer embarcou em Los Angeles com 39 anos e pisou no Rio de Janeiro já com 40, exalando tranquilidade no visual despojado, com roupa estampada e chinelão com meia.
Até pouco tempo atrás, o virtuoso guitarrista e galã geracional estampava capas de revistas por seu namoro com a cantora Katy Perry (cujo término em 2015 lhe foi traumático), encarava as entrevistas como terapia em um estilo franco e autodestrutivo (chegou até mesmo discorrer sobre sua anatomia e potência sexual) e tinha na bebida um auxílio diário para relaxar.
O álcool foi trocado pela maconha e a fase de exposição ficou para trás – talvez por isso sua equipe tenha vetado qualquer pergunta que não fosse estritamente sobre “The Search of Everything”, ótimo disco que Mayer também apresenta em Belo Horizonte (na Esplanada do Mineirão, no dia 20), em Curitiba (na Pedreira Paulo Leminski, no dia 22), em Porto Alegre (no Anfiteatro Beira-Rio, dia 24) e no Rio de Janeiro (na Jeunesse Arena, no dia 27).
Uma fresta para a vida mais desencanada do astro só é aberta mesmo nas entrelinhas do álbum, repleto de reflexões sobre o tempo, como em “You're Gonna Live Forever in Me” (“Um grande big bang e dinossauros / Chuva ardente de meteoritos / Tudo termina, infelizmente / Mas você vai viver para sempre em mim”).
“O que aconteceu quando escrevi essas canções foi que eu estava esquecendo quem eu era e quem eu não sou mais”, observa sobre o tema ser tão recorrente com a nova idade.
Com tranquilidade e longas pausas entre as respostas, o cantor conversou com o UOL direto de sua casa em Los Angeles sobre como vê a música pop atual e sua adoração por Ed Sheeran, apontado como uma evolução natural do seu dom de conquistar multidões com virtuose: "Eu não poderia escrever uma canção tão boa quanto ele. Mas eu estou bem com isso", pondera.
De olho no comportamento de uma nova geração, ele também explica que desmembrou o show da nova turnê em “capítulos”: Começa com a banda completa, passa por covers, um set acústico e se encerra com apresentação especial em trio, dedicado ao blues. Um aceno para quem se acostumou com a era do streaming e da playlist, em que o próprio interesse do público é fracionado. Ele conta que não foge à regra. "Duas horas é uma experiência extrema, está cada vez mais e mais raro", explica. "Eu acho que esse é o caminho do futuro do entretenimento."
Confira os principais trechos da conversa:
Quatro shows em um
É realmente para acompanhar a maneira como as pessoas querem ouvir e ver um show. Duas horas é muito tempo até para mim. É muito fácil para eu me manter comprometido com a música, na verdade. Então você não vai ver um show de duas horas, mas você vai ver quatro. A ideia é que quando o show acabar você não perceber o quanto ele demorou. Eu saio do palco, entro novamente e é como o relógio voltasse ao zero. É um pouco como a forma que as pessoas assistem ao Netflix, a maneira como elas ouvem um podcast. Duas horas é uma experiência extrema, está cada vez mais e mais raro. Eu assisti na noite passada um filme de duas horas e 15 minutos. Chega um momento que fico inquieto: “Posso fazer alguma outra coisa?” E eu amei o filme, sabe? Eu acho que esse é o caminho do futuro do entretenimento. É o jeito que eu acho que as pessoas querem continuar a assistir os shows. Como se fosse um festival, mas sou eu em todos os shows.
O que eu aprendi com as lendas...
(Antes de voltar à estrada com uma turnê própria, Mayer se embrenhou em uma experiência nova. Ele acompanhou a turnê de verão do Dead & Company, formado pelos remanescentes do Greatful Dead)
Foi uma ‘masterclass’. É realmente impressionante. Não há nada igual. A música me pareceu estar mais conectada com a natureza, a um tipo de natureza americana. Eu poderia ficar falando sobre isso por horas, mas acho que a principal coisa é que eu comecei a tocar guitarra por mim mesmo. Fiz tudo sozinho, desenvolvi as composições, aprendi instrumentos, mas senti que fazer parte de uma banda, entrar com eles no palco e todos tocar a mesma canção, é uma coisa que eu nunca vou sentir isso de novo. É diferente de tocar com uma banda que você contrata.
O que eu aprendi com os novatos...
Se eu enxergo que sou inspiração para cantores como Ed Sheeran e Shawn Mendes? Sim e não. A questão sobre a influência é que nem sempre precisa ser musical, pode ser de sensibilidade, pode ser outra coisa. Eu sou influenciado por pessoas que você nunca saberia, mas que estão na minha cabeça. Eu os vejo como algo diferente, e não tenho ouvido muito rádio ultimamente, mas acho que eles fazem uma coisa que eu ainda não fiz na minha carreira, eu consigo ouvi-los exatamente como uma evolução. Eu não consigo escrever uma melodia como as do Ed Sheeran. O senso melódico que ele tem é perfeito para este tempo. Ele é melhor do que eu nessa parte. Os pais dele são professores, e o conceito do ensino é que se aprenda melhor que o professor. Ed é melhor que eu. Eu não poderia escrever uma canção tão boa quanto ele. Mas estou bem com isso.
O mundo pop hoje
Aí está uma boa questão. Muitas coisas mudaram, mas, além disso, eu não acredito que tenha sido mudanças ruins, são coisas que vêm e você abraça. O que mudou é quão rápidas as canções são escritas, feitas e lançadas. Eu acho que tem canções que se sustentam sem passar por processos de produção, de trabalho – que às vezes realmente é uma merda – e ainda assim são boas canções. Eu acho isso totalmente excitante. Eu me imagino se conseguiria fazer algo tão rápido e excitante.
O tempo e o amor nas novas canções
Eu não penso nessas coisas durante o processo, acho que são aspectos mais intrínsecos. Há algumas questões que tento entender, mas ainda não consigo: o tempo e o amor. A ideia de alguém não estar mais. O que aconteceu quando escrevi essas canções foi que eu estava esquecendo quem eu era e quem eu não sou mais. Qual era o meu mundo e como eu me relaciono com esse mundo.
SERVIÇO:
John Mayer, “The Search for Everything World Tour”
São Paulo
Quarta, 18/10, 21h15
Allianz Parque (Francisco Matarazzo, 1705 - Água Branca)
Abertura dos portões: 17h
Ingressos:
Pista Premium BudZone – R$ 640 (R$ 320 meia-entrada)
Pista – R$ 320 (R$160 meia-entrada)
Cadeira Nível 1 – R$ 440 (R$ 220 meia-entrada)
Cadeira Superior – R$ 240,00 (R$ 120 meia-entrada)
Belo Horizonte
Sexta, 20/10, às 21h
Esplanada do Mineirão (Av. Presidente Carlos Luz - São Luiz)
Abertura dos portões: 17h
Ingressos:
Pista Premium BudZone 1º lote – R$ 500 (R$ 250 meia-entrada)
Pista 1º lote – R$ 240 (R$ 120,00 meia-entrada)
Curitiba
Domingo, 22/10, às 19h15
Pedreira Paulo Leminski (Parque das Pedreiras, R. João Gava, 970)
Abertura dos portões: 15h
Ingressos:
Pista Premium BudZone – R$ 640 (R$ 320 meia-entrada)
Pista – R$ 400 (R$ 200 meia-entrada)
Camarote – R$ 1.000 (R$ 500 meia-entrada)
Deck – R$ 400 (R$ 200 meia-entrada)
Porto Alegre
Terça, 24/10, 21h
Anfiteatro Beira Rio (Avenida Padre Cacique, 891)
Abertura dos portões: 16h
Ingressos:
Pista Premium BudZone – R$ 400 (R$ 200 meia-entrada)
Cadeira Inferior – R$ 420 (R$ 210 meia-entrada)
Cadeira superior– R$ 230 (R$ 115 meia-entrada)
Lounge – R$ 700 (R$ 350 meia-entrada)
Tribunas – R$ 520 (R$ 260 meia-entrada)
Rio de Janeiro
Sexta, 27/10, 22h30
Jeunesse Arena (Av. Embaixador Abelardo Bueno, 3401 - Barra da Tijuca
Abertura dos portões: 19h30
Ingressos:
Pista Premium BudZone – R$ 590 (R$ 295 meia-entrada)
Pista – R$ 290 (R$ 145 meia-entrada)
Cadeira Nível 1 lateral –R$ 400 (R$ 200 meia-entrada)
Cadeira Nível 1 central –R$ 360 (R$180 meia-entrada)
Cadeira nível 3 – R$ 240 (R$ 120 meia-entrada)
Camarote – R$ 540 (R$ 270 meia-entrada)
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