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Eric Clapton está ficando surdo, e isso é bem comum no mundo da música

Eric Clapton no Festival de Cinema de Toronto, onde divulgou o documentário sobre sua vida "Life in 12 Bars" - Fred Thornhill/Reuters
Eric Clapton no Festival de Cinema de Toronto, onde divulgou o documentário sobre sua vida "Life in 12 Bars" Imagem: Fred Thornhill/Reuters

Do UOL, em São Paulo

10/01/2018 14h40

Eric Clapton deu um susto nos fãs ao revelar, em uma entrevista à BBC Radio, que está ficando surdo. "A única coisa que me preocupa agora é continuar competente em meus 70 anos, porque eu estou ficando surdo, sofro com zumbido, e minhas mãos apenas funcionam", disse ele à emissora, ao promover seu documentário "Eric Clapton: A Life in 12 Bars" no Reino Unido.

Mas o que pode ter sido recebido com espanto pelos adoradores do músico é, na verdade, um problema bem comum no mundo da música. "Existe uma tabela que mostra o quanto nosso ouvido pode aguentar certos casos. Por exemplo, você pode ficar apenas 2 minutos em uma sala com 100 decibéis [antes de lesionar o ouvido]. Em um show, os músicos ficam cerca de 1h30, 2h expostos em um palco, o que equivale a até 120 decibéis", explica ao UOL a fonoaudióloga Janaína Pimenta, que trabalhou como vocal coach de Ivete Sangalo e outros grandes nomes da música brasileira.

A especialista afirma que o zumbido incessante, conhecido como tinnitus, não atinge somente os músicos mais experientes, caso de Clapton, já com 72 anos. Quem está começando também corre esse risco, e Janaína garante que tudo depende da intensidade sonora da apresentação e do estilo musical. "Alguém que está em cima de um trio elétrico ou que costuma tocar rock corre um risco muito maior do que quem é da MPB, por exemplo".

"A questão é que muitos músicos não têm como hábito usar retorno [aparelho usado no ouvido em que eles ouvem apenas os instrumentos e a própria voz]. O problema é que esse recurso não possibilita ouvir o público, por isso muitos não se adaptam, porque gostam do calor dos fãs", completa Janaína.

E o zumbido não é a única complicação para os músicos. "Tem gente que começa a ouvir dois tons, e aí desafina. Trabalhei com uma banda em que o vocalista tinha exatamente isso. E quando o cantor, por exemplo, começa a lesionar o ouvido e decide cantar com maior intensidade, isso ainda gera rouquidão".

The Who e seu paredão sonoro - Reprodução - Reprodução
The Who e seu paredão sonoro
Imagem: Reprodução

Músicos (e quase surdos)

Eric Clapton não é o único mestre da música que sofre do temido tinnitus. Phil Collins declarou que perdeu parte da audição e por isso diminuiu as turnês. Outro guitar  hero que também sofre do mesmo mal é o virtuoso Eric Johnson, que sempre costumou usar inúmeros amplificadores no palco. 

Pete Townshend, do The Who, sofre de surdez parcial desde os anos de 1980 e ainda ajuda na divulgação de distúrbios auditivos para os colegas de profissão.

"Imagina você ficar com um zumbido o tempo todo, que não para? É enlouquecedor. Trabalhei com um músico que tomava antidepressivo por causa desse problema, em qualquer lugar que estiver você acaba ouvindo o chiado no ouvido", conclui a fonoaudióloga.

Outros músicos que também já disseram sofrer com zumbido no ouvido:

Jeff Beck

O meu é no ouvido esquerdo, é excruciante. É verdade quando os médicos dizem que não vai embora [o chiado]
para a revista "Rolling Stone". Beck ainda foi obrigado a cancelar uma apresentação em 1993 ao lado do Guns N' Roses porque o amplificador de Slash atacava seu tinnitus.

Noel Gallagher (ex-Oasis) 

Passei por um exame no cérebro e eles [os médicos] encontraram. Eu tenho zumbidos estranhos no ouvido. Eu acho que é por tocar guitarra pelos últimos 20 anos
em entrevista ao DJ britânico AndrewGoldstein em 2013.

Chris Martin (Coldplay)

Prestar atenção na sua audição é algo que infelizmente você só começa a fazer quando tem um problema. Gostaria de ter pensado nisso antes
para o "Daily Mail".

Will.i.am (Black Eyed Peas)

Eu não sei mais o que é o silêncio
em entrevista ao tabloide "The Sun".

Anthony Kieds (Red Hot Chili Peppers)

Chad [Smith, bateria da banda] e eu saímos do palco e percebemos que nossos ouvidos estavam tinindo. Depois daquela turnê [ao lado do Nirvana], eu tive uma lesão, que é uma das coisas mais difíceis para curar
em sua biografia "ScarTissue".