Segue um apanhado dos melhores álbuns do pop lançados em 2003. O Pulso, como o título da coluna indica, só trata artistas que em algum momento carregam o funk.
Outkast - "Speakerboxx/The Love below"
(Arista/BMG, 2003) Outkast é a dupla de rappers e produtores norte-americanos mais quente do hip-hop atual. A dupla acaba de lançar, também no Brasil, um álbum duplo com o título "Speakerboxx/The Love Below", que já vendeu acima de um milhão de copias só nos EUA. Quantidade não é sinônimo de qualidade, mas neste caso, o sucesso é merecido.
Embora a maior parte do material seja feita pela dupla, "Speakerboxx" é um álbum solo de Big Boi e "The Love Below" é uma viagem sonora muito particular de André 3000. Na verdade, pouco importa a divisão. O importante é que são dois álbuns que quebram barreiras e abrem o horizonte do hip-hop atual. Os dois carregam elementos experimentais absurdos, na linha Frank Zappa, além de uma boa dose de psicodelia e do bom e velho funk - que revigora o hip-hop, transformando-o em algo novo e instigante.
"Speakerboxx" tem o lado mais tradicional da linha Outkast de antigamente, mais hip hop. Mesmo assim, há referências de rock e de música gospel tão enraizada no sul dos EUA. Ouça "Reset" em
alta ou
baixa velocidade. No meio da faixa, a música para e Cee-Loo cantarola um poema. Há também participação nos vocais de Khujo Goodie. Tanto ele como Cee-Loo são integrantes de um grupo também sulista Goodie Mob.
O álbum solo de André 3000, "The Love Below", que em muito lembra o Prince, traz a música "Hey Ya" que, até a penúltima semana de dezembro, manteve a primeira posição de singles da revista Billboard. Ouça em
alta ou
baixa velocidade. Aliás, na semana passada, os dois primeiros lugares da parada de singles eram do Outkast. Ouça aqui o segundo colocado, "The Way you Move" em
alta ou
baixa velocidade. Para ter uma idéia da variedade, há colaboraçãos vocais que vai de Norah Jones a Kelis.
Rickie Lee Jones - "The Evening of My Best Day"
(V2, 2003) Após muitos álbuns e pouco reconhecimento, a cantora e compositora norte-americana Rickie Lee Jones lança o seu 12º álbum de carreira, "The Evening of My Best Friend". Rickie Lee Jones é considerada a herdeira de Joni Mitchell, só que a sua voz é mais suingada, mais elástica e menos pretensiosa do que a de Mitchell.
O fato é que o álbum traz uma dúzia de canções intimistas, meio folk, meio jazz, com um leve toque de eletrônica e, em algumas faixas, do funk. A maioria fala, com muito sentimentalismo, de amores - familiares e amigáveis - mal-resolvidos.
A estrutura do álbum é bem parecida com os seus dois primeiros e excelentes, "
Rickie Lee Jones" e "Pirates", lançados em 1979 e 1981, respectivamente. Ouça a levemente jazzistica "Ugly Man" em
alta ou
baixa velocidade.
Na avalanche de cantoras sem voz e com nenhuma expressão, Rickie Lee Jones é um achado. Diferentemente de Joni Mitchell, Rickie Lee Jones raramente fez declarações políticas, mas há neste álbum um pedido de cancelamento do "Lei de Patriotismo" convocada pelo presidente Bush filho na sua guerra contra o terrorismo. Ouça "Tell Somebody" em
alta ou
baixa velocidade.
Massive Attack - "100th Window"
(Virgin, 2003) O bom do mais recente álbum do Massive Attack, "
100th Window", é que a banda - na verdade só há um único integrante do trio original neste álbum - continue relevante após dez anos e quatro álbuns.
A sua fusão de batida hip-hop, sinuosas melodias, efeitos dub e samples primorosos continua a impressionar. Não considerando a fraca colaboração de Sinead O'Connor, o álbum tem oito faixas de beleza paranóica. Em "Antistar", Robert Del Naja, o único atacante original, lamenta os problemas do abuso de álcool e drogas e confessa os prazeres e as paranóias que os mesmos causam. Ouça "Antistar" aqui em
alta ou em
baixa velocidade.
O destaque, como em todos os seus álbuns, fica por conta da participação do regueiro Horace Andy. Ouça sua curiosa voz, com vibrato natural que destoa da massa sonora eletrônica e pesada de Del Naja, em
alta ou em
baixa velocidade.
Erykah Badu - "World Wide Underground"
(Universal, 2003) O mais recente álbum de
Erykah Badu é uma punhetagem sobre como é legal entrar no estúdio e fazer música, inventar grooves, programar teclados e criar linhas de baixo e loops que podem tocar infinitamente. Há pouco do soul e rhythm & blues convencional neste álbum que mais parece um apanhado de improvisações feito no estúdio, embora tudo seja muito bem planejado.
Erykah Badu não chega a ser uma cantora de jazz, embora ela tente bastante; porém, suas inflexões soul e gospel não deixam. Ouça a experimental "Bump It" em
alta ou em
baixa velocidade. No lado mais funkeada há "Woo", que de repente pára no meio de sua extensão para depois retomar o groove. Ouça aqui em
alta ou em
baixa velocidade.
Além da sua banda, Freakquanecy, responsável por todas as produções neste álbum de 50 minutos de bom som, Badu chamou Lenny Kravitz para ajudar em uma música que lembra como era bom ser jovem e poder fumar maconha sem preocupações. Ouça "Back In The Day" em
alta ou em
baixa velocidade.
Natacha Atlas - "Something Dangerous"
(Mantra Records/Sum, 2003) A diva de etno pop, a belga egípcia Natacha Atlas, lançou o seu quinto álbum em 2003. Atlas, que sempre trabalhou na vanguarda, entre a música tradicional e eletrônica, se rendeu a pop, ao canto em inglês e as batidas eletrônicas em "
Something Dangerous".
No caso de Atlas, essa rendição é muito boa. Há de belíssimas baladas até canções com batidas viajantes para incendiar qualquer pista. O álbum não é todo cantado em inglês, mas há uma excelente interpretação do clássico de James Brown, "It's a Man's World". Nesta, a cantora exibe toda a sua exuberância vocal fazendo a sofrida canção original virar uma lânguida e confortante música de ninar. Ouça "Man's World" em
alta ou em
baixa velocidade.
Outra música memorável neste álbum é em colaboração de Sinead O'Connor (no que O'Connor foi infeliz no álbum de Massive Attack mencionado acima, aqui ela acertou) na música "Simple Heart". Ouça em
alta ou em
baixa velocidade. O melhor de 2003