Uma das grandes damas da música country norte-americana, Loretta Lynn acaba de lançar seu primeiro álbum solo só com composições próprias - algo surpreendente, considerando sua extensa discografia e seus mais de 40 anos de carreira. Mais surpreendente ainda é que Loretta convidou Jack White, da banda de garagem que virou popstar
The White Stripes, para produzir "Van Lear Rose" (Interscope, 2004). Além de ser o produtor do álbum, White faz backing, toca sua guitarra bastante ruidosa em todas as faixas e assina todos os arranjos.
White resgatou em Loretta uma sintonia com suas raízes. O seu canto, no álbum novo, é uma volta ao início da carreira, quando cantava honky tonk, mais para um blues cru do que para o
lamento estilizado do country.
"Van Lear Rose" é um álbum curto, com menos que 40 minutos no total, que soa, em sua maior parte, como se tivesse sido gravado na garagem de Jack White e longe do estúdio de Loretta, localizado no
parque temático batizado com seu nome, nos arredores de Nashville, meca da música country. Mesmo com bastante "slide guitar", o álbum é mais rock do que country. A voz de Loretta é animada e afinada, e há algumas boas caídas no canto fanhoso particular do country.
Mas, diferente do estilo açucarado e cafona dos anos 60 e 70 -
décadas de ouro de Loretta -, a música mais country no sentido clássico de "Van Lear Rose" soa fresca e inspirada. "Mrs. Leroy Brown" traz uma marcação meio blues e uma bateria animadíssima. Ouça em
alta ou em
baixa velocidade.
Loretta apresenta letras inspiradas em temas do universo clássico do country, como a perda, a solidão e a vida na estrada. Ao mesmo tempo, mostra fé em um futuro melhor para todos. "Have Mercy" é uma música eficiente, de dois minutos e meio, que traz a guitarra rascante de Jack White e o baixo e a bateria dos seus comparsas de Detroit, Jack Lawrence e Patrick Keeler - todos com idade para ser netos da grande dama. O muito ágil "slide guitar" e o dobro ficou por conta de Dave Feeny. Ouça "Have Mercy" em
alta ou em
baixa velocidade.
A ligação com o country, porém, não é algo novo na vida de Jack White. Antes de formar The White Stripes, ele tocava guitarra e compunha músicas no Goober & the Peas, grupo meio country-punk, em sua cidade natal, Detroit. Formou The White Stripes em 1997, com sua irmã Meg, caiu nas graças da mídia e fez turnês de sucesso com o Pavement e, mais tarde, com The Strokes. A dupla dedicou o seu terceiro álbum, "White Blood Cells", de 2002, a Loretta Lynn. E um dos primeiros singles deste álbum, o mezzo country "Hotel Yorba", traz uma versão da música "Rated X", de Loretta, como lado B. Quando Loretta soube da dedicação, convidou The White Stripes para passar um tempo no seu rancho, com bons resultados.
Apenas uma das músicas contou com a colaboração de White como compositor. A faixa, "Little Red Shoes", traz Loretta sussurrando a letra acompanhada do violão acústico do autor. Ouça "Little Red Shoes" em
alta ou em
baixa velocidade.
Até o encontro com White, Loretta já tinha emplacado mais de 70 músicas nas paradas de sucesso nos EUA em sua extensa carreira, mas será difícil ela encaixar alguma faixa deste novo álbum nas FMs. O repertório de "Van Lear Rose" cai no mesmo limbo das músicas de
Lucinda Williams; é rock demais para country e country demais para rock. Ouça "Van Lear Rose" em
alta ou em
baixa velocidade.
A faixa título, "Van Lear Rose", uma potente homenagem a sua mãe, talvez pudesse achar um lugar na programação das rádios independentes, entre uma faixa de White Stripes e o "girlie pop" de Sleater-Kinney.
A mistura da experiência e das atitudes das diferentes gerações da música popular norte-americana - Loretta acaba de completar 70 anos e White faz 29 em julho próximo - criou muitos ruídos - no sentido rock'n'roll -, mas um bom e curioso produto pop.
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