Acaba de sair "Louie Vega, Choice, A Collection of Classics" (Azuli, 2004), que traz 31 faixas que o super-DJ norte-americano considera antológicas em sua formação musical. A seleção do CD duplo inclui faixas que beiram motown, latin jazz, disco, house e acaba com - surpresa - The Clash! Há pérolas das pistas, como "Going Back to My Roots", com Lamont Dozier, "Standing In Line", do mítico
ESG, e "No Way Back", de Adonis.
Metade da poderosa dupla de produtores
Masters At Work, "Little" Louie Vega fez uma seleção que não apenas movimenta os pés, mas também mostra as muitas nuanças e influências que o DJ usou em seu mix nas pistas dos clubes Funhouse, Heartthrob, Studio 54 e Sound Factory Bar - todos em Nova York, onde morou. Segundo ele, era uma época em que a tribo que freqüentava suas pistas era uma só -
hedonista.
Segundo o encarte de "Louie Vega, Choice", na época (pós-disco, no meio da revolução punk e ainda pré-Aids), no início dos anos 80, a preocupação dos DJs era mais com a música e com o que ela provocava na pista, não tanto com seguir um estilo. A revolução punk liberou as pistas da linha dura do disco e injetou
novos elementos - do rock, da música latina e do reggae em particular. Vega foi um desses libertadores.
A seleção mostra bem este movimento libertário. "Choice" intercala o épico "Standing Right Here", da diva soul Melba Moore, com o sintético latin jazz dos italianos da Keytronics Ensemble, criando uma curiosa tensão entre as duas. Além de trazer comentários do próprio Vega sobre a escolha de cada faixa, o encarte também traz informações detalhadas sobre a trajetória do Vega, as influências e o clima de seu bairro nativo, o Bronx, assinadas pelo escritor
Tim Lawrence.
Além da exímia seleção, os CDs marcam pela mixagem suave, não linear. Algumas faixas são remixadas, outras trazem overdubs de instrumentos tocados por cima da música - técnica que Vega utilizou e ainda utiliza em suas apresentações. Vega discoteca ao lado de percussionistas, vocalistas, guitarristas ou tecladistas que tocam ao vivo em cima das mixagens de Vega. Os CDs mostram um blueprint das pistas nova-iorquinas, dos anos 70 pra cá em particular, e da cultura clubber mundial em geral. Som na caixa e mãos ao alto!
Veja a seguir uma seleção das melhores faixas, com comentários do próprio Vega, traduzidos do encarte. As palavras-chaves são disco, house e rare groove.
Ouça
"Standing Right Here" com Melba Moore em
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baixa velocidade.
"Ouvi um monte das músicas desta seleção em casa ou no rádio. "Standing Right Here" era uma música de rádio. (...) A música traz uma ótima sensação. Ela cresce o tempo todo, desde o começo até a parte em que Melba Moore começa o ad-lib no final. A ginga desta música é contagiosa."
Ouça
"Going Back to My Roots" com Lamont Dozier em
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baixa velocidade.
"Era uma música que eu ouvia no Garage (Paradise Garage) e no Zanzibar. Tem um toque latino no piano, a bateria é bem afro, a melodia é sensacional, e aí há aquela parada épica com a seqüência de canto tribal. "Going Back to My Roots" era uma musica fundamental para Nuyorican Soul."
Ouça
"You Can Do It (Baby)" com Nuyorican Soul featuring George Benson em
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baixa velocidade.
"Quando gravei esta música, fiquei com lágrimas nos olhos. A versão original era mais afro que essa, mas, quando George Benson topou tocar e cantar scat, Kenny ("Dope" Gonzalez, a outra metade da Nuyorican Soul) e eu tomamos um outro rumo. A versão em 12" durou 16 minutos, e no auge da música havia só a voz e a guitarra do Benson, sem nenhum acompanhamento."
Ouça
"Standing In Line" com o mítico ESG em
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baixa velocidade.
ESG era do Bronx, como também o Savannah Band (de August Darnell e Coati Mundi). Eles misturaram punk com rock e disco. "Standing In Line" foi lançado após "Moody". Era um disco do Larry (Levan, residente do Paradise Garage) e me deixou louco. No Paradise Garage, você percebia o efeito total de uma música, e isso influenciou muito o que toco.
Ouça
"Time Warp/Nobody's Got Time" com Eddy Grant em
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baixa velocidade.
Esta música está na lista de minhas cinco favoritas de todos os tempos. "Time Warp" é uma instrumental interessantíssima, e "Nobody's Got Time" é uma música incrível com um solo sensacional de harmônica. Estava muito à frente do seu tempo. Um monte de grupos de reggae estava experimentando com disco no final dos anos 70 e início dos anos 80, e Eddy Grant era um pioneiro desse som.
Ouça a sequência de
"No Way Back" com Adonis,
"Din Daa Daa" com George Kranz e
"It's you" com ESP, em
alta ou em
baixa velocidade.
Seguem observações sobre cada uma das três músicas:
"Quando a música house foi lançada era assim, geente, que é isso? A pista delirava. De uma certa forma, a house de Chicago era mais simples que a música para pista que veio antes."
"Tocava "Din Daa Daa" quando comecei a discotecar nas festas de rua. Todo mundo a tocava. É um tipo de música que sempre anima a pista."
"Essa é uma das minhas músicas favoritas do início da house. (...) Costumava entrar com ela através da linha de baixo, e o povo da pista sempre gritava loucamente."
"Louie Vega, Choice, A Collection of Classics" é o sexto lançamento da série "Choice", da gravadora Azuli, que traz seleções de DJs como Frankie Knuckles, Françoise K e Derrick Carter. A próxima da série "Choice" é uma seleção de Jeff Mills, que deve sair ainda neste junho.
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Azuli Comprei o CD duplo nesta loja e recebi-o em menos de duas semanas. "Little" Louie Vega