UOL Música

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03/07/2006 - 21h39
Mais relaxado e cínico, Belle & Sebastian está no topo da carreira com "The Life Pursuit"

FERNANDO KAIDA
Editor-assistente de UOL Música


Sempre acompanhado de adjetivos como "delicado", "suave" e até mesmo "fofo", o grupo escocês Belle & Sebastian dá uma guinada na carreira com o mais recente trabalho, "The Life Pursuit", já editado no Brasil.

Neste sexto álbum (sem contar a trilha sonora "Storytelling", de 2002), a música da banda de Glasgow continua com a influência do pop dos anos 60, do indie pop e do folk que lhe deram fama, mas recebe forte injeção de soul, glam rock e do soft rock setentista como em nenhum outro disco de sua carreira. Com "The Life Pursuit", a banda formada na metade dos anos 90, e que não deveria durar mais do que um disco, consolida um novo caminho para sua carreira sem perder a identidade.

"Estamos mais relaxados do que antes. E também mais cínicos", afirmou o baterista Richard Colburn em entrevista a UOL Música. O cinismo, diz ele, é resultado da experiência adquirida em mais de uma década na indústria musical. "Estamos mais conscientes de como as coisas funcionam".

A nova direção do septeto pode ser ouvida principalmente nas faixas mais animadas e dançantes, como "White Collar Boy" e "The Blues Are Still Blue", com sua levada à la T-Rex, "Funny Little Frog", "Sukie in The Graveyeard" e "We Are The Sleepyheads". O lado indie e mais tranquilo do começo da carreira continua presente em canções como "Another Sunny Day" e na balada "Dress Up In You". A diferença agora é que mesmo em músicas que remetem ao passado, a banda soa melhor do que nunca, nas melodias, arranjos e na qualidade da gravação, graças também ao trabalho do produtor Trevor Hoffer, que já trabalhou com nomes como Beck e Supergrass. "Este é nosso disco mais bem realizado e completo", completa o baterista.

Dez anos depois do lançamento do disco "If You're Feeling Sinister", que projetou o nome do Belle & Sebastian pela primeira vez, os então tímidos músicos sentem-se mais confortáveis do que nunca na posição de integrantes de uma banda de rock.

"É uma daquelas coisas que quanto mais tempo você faz, melhor fica", diz Colburn sobre a carreira.

Veja abaixo os melhores momentos da entrevista com o baterista do Belle & Sebastian, Richard Colburn.

UOL - Em "The Life Pursuit" vocês soam mais felizes do que nunca em sua carreira. Vocês se sentem assim?

Richard Colburn - Sem dúvida. Todos estão felizes no momento porque a gravação do disco foi uma ótima experiência. Também estamos em uma boa gravadora, a Rough Trade. Em todos os lugares, mesmo no Brasil, nossa gravadora (representada pela Trama) cuida de nós de uma maneira fantástica. Este ano acabamos de fazer a maior turnê de nossa carreira, então as coisas estão melhorando. Com o último disco, "Dear Catastrophe Waitress" (2003), nós fomos indicados a alguns prêmios --não que sejamos preocupados com prêmios-- mas isso signifca que você fez algo certo, pelo menos. Todos estão curtindo o momento, vamos ver o que acontece.

UOL - Este é o primeiro disco do Belle & Sebastian no qual outras influências, como o rock dos anos 70 e o soul, aparecem com a mesma intensidade do indie pop e folk, por exemplo. Você concorda?

RC - Algumas das influências estão mais óbvias neste disco. Acho que a forma como ele foi gravado também ajudou. O cara que produziu o disco, Tony Hoffer, é influenciado pelas mesmas coisas que nós, por isso elas ficaram bem claras.

UOL - Há muito de soul, glam rock e soft rock dos anos 70 no CD

RC - Sim, algumas das músicas são bem ecléticas. Certamente "White Collar Boy" é uma das mais óbvias presenças do glam rock, T-Rex e coisas dessa época. Para mim, muitas das influências são subconscientes, você não as percebe imediatamente. Alguém toca um trecho de guitarra, uma parte de piano, e dispara uma espécie de gatilho. Em seguida você está adicionando algo a isto. É comum não ter idéia de como o disco vai soar até que esteja pronto. Alguns meses depois você ouve o CD e pensa: "Ah, certo, é isso".

UOL - Vocês buscaram esta sonoridade desde o início das gravações?

RC - Nós tinhamos 18 músicas escritas e cortamos cinco para o disco ficar com 13 faixas. Enquanto escrevíamos as músicas, queríamos um disco mais direto, com uma maior presença pop e talvez com uma sonoridade um pouco mais pesada. Acho que conseguimos isso.

UOL - O que vocês ouviam durante a composição do disco?

RC - O processo de composição durou uns seis meses em Glasgow. Não me lembro o que eu estava ouvindo na época, mas provavelmente não era muita coisa, pois estávamos tocando tanto que a última coisa que eu queria quando chegava em casa era ouvir música. No estúdio, o som da bateria foi muito influenciado pelo som de Al Jackson Jr, o baterista do Booker T. & MGs.

UOL - Você vê "The Life Pursuit" como uma possibilidade de virada na carreira da banda?

RC - É possível que sim. Quando começamos nossa carreira tivemos ótimas resenhas, mas nada aconteceu. Então, em 1999 ganhamos o Brit Awards (de revelação britânica), que foi mais um ponto alto na carreira. Muitas bandas poderiam ter utilizado isso como uma plataforma para subir, mas nós não fizemos isto e caímos novamente. Esta é a terceira vez que conseguimos criar esse tipo de momento. Espero que a partir de agora possamos fazer mais turnês, um bom próximo disco e ver se conseguimos continuar assim.

UOL - O novo disco é o melhor da carreira da banda?

RC - Eu acho que é o mais bem realizado e completo. Não sei se é o melhor ou não. Eu gosto muito do primeiro, "Tigermilk" (1996). O novo é certamente o mais bem tocado, é o que tem a melhor sonoridade. Está entre os melhores, com certeza.

UOL - Vocês já estão pensando em um novo disco?

RC - Ainda temos alguns shows para fazer, mas um novo disco nunca está muito longe de nossas cabeças. Em algum momento vamos começar a pensar nisso, mas ainda levará um tempo. Temos shows agendados até setembro e também queremos ir até a América do Sul, visitar o Brasil novamente e ir a outros lugares. Talvez aconteça no final do ano, não há nada certo. Ainda há trabalho a ser feito (com "The Life Pursuit"), mas em algum momento teremos de sentar para conversar e começar a compor canções. Na verdade, não me surpreenderia se Stuart (Murdoch) e Stevie (Jackson) ou outros integrantes estivessem compondo agora de qualquer forma. No futuro próximo estaremos de volta ao estúdio.

UOL - Este ano completam-se dez anos do disco "If You're Feeling Sinister". Como você vê a banda hoje, em comparação com 1996?

RC - Estamos mais relaxados do que antes, pois já fazemos isso há um bom tempo. Provavelmente também estamos mais cínicos, pois quanto mais tempo você faz algo, mais descobre como as coisas são na verdade. Estamos mais conscientes de como a indústria musical funciona. Depois de um tempo, instintivamente você sabe que se vai assinar um contrato com uma gravadora, parte dele será bom e parte será ruim, pois gravadoras são como bancos. Além disso, somos melhores músicos --individualmente e como banda. Estamos muito felizes e animados de ainda poder fazer isso dez anos depois.

UOL - Pelo fato de estarem mais cínicos e relaxados, vocês se sentem mais confortáveis como uma banda de rock hoje em dia?

RC - Com certeza. Quando começamos éramos um projeto que não deveria durar mais do que um disco, mas a Jeepster apareceu, e fizemos mais um disco. Hoje, depois de perder e ganhar alguns integrantes, estamos em uma situação no qual todos estão satisfeitos e confortáveis com o que fazemos. É uma daquelas coisas que quanto mais tempo você faz, melhor fica.

UOL - Mais de dez anos depois do início, como você imagina a banda no futuro?

RC - Seria ótimo pensar que continuaremos a fazer bons discos nos próximos anos. Desde que os integrantes estejam se divertindo, as idéias sejam boas e a música seja boa, vamos continuar. É bom ter sempre um controle de qualidade naquilo que você faz, mas assim que essa qualidade cai, você deve ser honesto...

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