O grande mérito da Brazil Music Conference (BMC), evento anexo do Skol Beats, foi conseguir, ainda que modestamente, estreitar a distância entre iniciantes e profissionais da música eletrônica, DJs e produtores.
Modestamente porque a abrangência da BMC, com um público de 500 pessoas em três dias de palestras e worshops, ficou aquém do que se esperava de um evento ligado ao Skol Beats, que este ano teve um público de 57.500.
O ponto alto da conferência foram os workshops, que tiveram melhor resposta de público do que as palestras, e encheram, nos três dias de BMC, uma sala para 100 pessoas.
As oficinas tematizaram questões técnicas de produção musical e proporcionaram ao público, formado principalmente por novos DJs e produtores, um espaço para troca de experiências sobre o cotidiano da criação musical e da utilização de recursos tecnológicos na música.
"Ninguém podia imaginar, nos anos 70, que chegaríamos ao que é hoje. Quando eu toquei Kraftwerk em 1978, os caras trabalhavam com um equipamento de 250 mil dólares. Hoje, com um computador de R$ 5 mil, um moleque já pode produzir e tocar suas músicas", ressaltou o veterano DJ Grego, que iniciou sua carreira tocando disco music nos anos 70.
Foi também em um workshop, que abordava um assunto técnico de produção de áudio, que o DJ alemão Anthony Rother lembrou que nem só de tecnologia vive a música eletrônica: Há também a força da indústria independente.
Rother afirmou que ele não faz promoção ou marketing para os seus discos. "Acredito que a música encontra seu próprio caminho", declarou o DJ que aposta nas pistas como melhor local para divulgação de suas gravações.
Na contramão dos workshops, em que ficou evidente a proximidade entre público e convidados, as palestras sobre rádio e gravadoras mostraram que o discurso da grande indústria musical está cada vez mais distante do que representa essa pujança da música eletrônica independente.
O diretor de marketing da Warner Music, Marcelo Maia, foi muito claro em assumir que, hoje, as grandes gravadoras não conseguem acompanhar o panorama da música eletrônica: "As músicas e os estilos mudam muito rápido e as majors são grandes demais para acompanhar essa mudança", disse. Segundo Maia, são as gravadoras independentes que devem cumprir o papel de acompanhar essas novas tendências.
O resultado da BMC indica que essa discussão sobre a música independente e as questões relacionadas à sua distribuição e difusão em rádio merece ganhar mais espaço em eventos como este. Esse debate parece mais premente do que a mera repetição do discurso "oficial" da grande indústria, que insiste em dizer que a pouca variedade no casting das gravadoras se deve à falta de novos talentos.