UOL Música

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21/02/2006 - 00h12
U2 promove catarse com noite de sucessos no Morumbi

LUIZ CESAR PIMENTEL
UOL Música


Este texto poderia ter sido escrito antes das 21h39 da segunda-feira (20), horário em que os quatro integrantes do U2 pisaram o palco do estádio do Morumbi, em São Paulo, no primeiro dos dois shows brasileiros da turnê "Vertigo". Afinal, todos os passos da maior banda pop do mundo na atualidade, que encerra a perna brasileira da turnê nesta terça, no mesmo local, seguem um roteiro muito bem-escrito.

Mas, apesar da preparação e produção impecáveis, seria injusto com a banda, que promoveu histeria coletiva, e com o público, que cantou cada uma das 23 músicas do show como se fosse a derradeira do bis - tipo de noite que, no cenário musical pop, apenas John, Paul, George e Ringo devem ter conhecido no auge da Beatlemania.

Da corrida desenfreada por um dos 73 mil ingressos para cada uma das noites, que esgotaram em poucas horas, do set-list básico da apresentação, dos detalhes cenográficos, conhecidos por cada fã pela recente apresentação em Chicago lançada em DVD ("Vertigo 2005"), dos discursos e palavras de ordem do Messias da música pop, o frontman Bono Vox, e dos sorrisos satisfeitos dos espectadores às 23h57, ao final da apresentação --tudo é previsível. Mas a diferença que o U2 apresenta não é a imprevisibilidade, mas a qualidade.

A balzaquiana banda irlandesa não precisa entrar na praxe dos dinossauros do rock, de modo geral acompanhados em uníssono em um hit de décadas passadas e por aplausos de estímulo, do tipo "essa-é-fraquinha-mas-por-todo-o-seu-passado-eu-aplaudo-para-dar-aquela-força" quando tocam alguma canção dos discos mais recentes.

O SHOW
Iniciaram a apresentação no Morumbi, por exemplo, com o estádio inteiro urrando três músicas recentes --"City of Blinding Lights", "Vertigo" e "Elevation"--, voltaram um pouco no tempo com "Until the End of the World", de 1991, e emendaram com uma música de 23 anos atrás, "New Year's Day", do disco War, de 1983. Apesar do pulo de quase um quarto de século no tempo, o entusiasmo do público permaneceu inalterado, e muitas vezes os gritos deste superaram a massa sonora que emanava do palco.

Uma fã percebe que sou jornalista e grita no meu ouvido: "Escreve que o U2 é a oitava maravilha do mundo".

Bono agradece do palco à banda de abertura, Franz Ferdinand, e brinca que da próxima vez serão eles a abrir o concerto dos escoceses.

"Copa do Mundo. Vamos ganhar o hexa. U2 é irlandês, mas Deus é brasileiro", fala em inteligível português, e a banda começa "I Still Haven't Found What I'm Looking For".

O cantor brinca mais uma vez em português puxando o coro de "Ai, ai, ai, ai, tá chegando a hora" como introdução para "Beautiful Day".

O baterista Larry Mullen e o baixista Adam Clayton descansam enquanto Bono faz duo com o guitarrista The Edge em uma versão acústica de "Stuck in a Moment (You Can´t Get Out Of)".

À memória do pai do vocalista, morto recentemente, é dedicada "Sometimes You Can´t Make it on Your Own".

A banda inteira caminha em passarelas no meio do público e no meio dos fãs tocam "Love and Peace on Earth". Na seqüência, a música mais famosa da banda, "Sunday Bloody Sunday". Bono puxa o coro anti-intolerância religiosa com uma faixa com a estrela-de-davi e a cruz católica na cabeça.

Após "Bullet the Blue Sky", Bono (sem a cooperação de Luciano Pavarotti) puxa um fã da platéia, Enrique, para ajudar-lhe a cantar "Miss Sarajevo", enquanto o telão mostra a Declaração dos Direitos Humanos --a deixa para "Pride" para o público cantar com fé o refrão "in the name of love".

Após "Where the Streets Have no Name", Bono pede que todos levantem os telefones celulares, as luzes se apagam e o estádio é tomado pelas luzes dos aparelhos. O vocalista faz um discurso pela igualdade e contra a pobreza e canta os primeiros versos de "One".

A banda sai de cena.

Mas em poucos minutos voltam com três músicas do disco de 1991, "Achtung Baby": "Zoo Station", "The Fly" e "Mysterious Ways".

Bono canta "With or Without You" abraçado à fã Patrícia, escolhida da platéia para subir ao palco. Depois da música, a banda deixa o palco mais uma vez.

Mais alguns minutos e retornam com "All Because of You". Tocam ainda duas músicas --"Original of the Species" e "40"-- e deixam o palco na virada para a madrugada de terça-feira, às 23h57 após duas horas de 18 minutos de espetáculo e sob um coro da platéia que insiste para que voltem mais uma vez. Mas desta vez o show termina e as luzes se acendem.

TRAJETÓRIA DE SUCESSO
A explicação para tamanha comoção é que a banda soube se reinventar no decorrer de três décadas. Em cada uma, lançou pelo menos um dos dez melhores discos do período. Nos anos 1980, a contribuição veio com "Joshua Tree", de 1987, que os transformou em megastars. Nos anos 1990, remodelaram o pop com "Achtung Baby", de 1991, para muitos o melhor trabalho deles. E abriram as portas do século 21 com "All That You Can't Leave Behind", de 2000.

Além disso, o grupo chega a seus trinta anos de carreira com um perfil invejável:

- Eles completam três décadas de carreira sem uma baixa sequer na formação;

- Venderam mais de 120 milhões de cópias dos seus 12 discos (um deles ao vivo, "Under a Blood Red Sky", de 1983);

- Dos 12 discos, apenas um é considerado quase que unanimemente fraco, "Pop", de 1997;

- Em 2005, o vocalista Bono Vox foi eleito "Pessoa do Ano" pela revista americana "Time" e foi indicado ao prêmio Nobel da Paz por sua cruzada pelo perdão da dívida dos países pobres e pelo combate à disseminação do HIV na África.

O carisma de Bono e seu prestígio junto a líderes políticos foi comprovado no último domingo (19), quando o cantor foi recebido em Brasília pelo presidente Lula. Logo no aeroporto, Bono foi recebido por fãs e uma faixa que pedia sua indicação a secretário-geral da ONU.

O próprio cantor declarou, no final do ano passado, que já chegou a ter medo de que seu engajamento atrapalhasse sua carreira com a banda e que ele acabasse sendo expulso do grupo. Mas, ao fim, seus companheiros de banda entenderam que para Bono o palco é pequeno demais.

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