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Lady Gaga brilha ao abrir mão de coreografias para mostrar voz no show que chegará ao Brasil

Lady Gaga durante show da turnê "Born This Way Ball" - Josh Olins/Divulgação
Lady Gaga durante show da turnê "Born This Way Ball" Imagem: Josh Olins/Divulgação

Mariana Tramontina

De San Juan, Porto Rico*

31/10/2012 06h00Atualizada em 05/11/2012 12h05

Seja lá quais aulas tenha frequentado, Lady Gaga aprendeu bem como se faz entretenimento. A turnê que passará pelo Brasil na próxima semana --no Rio de Janeiro (Parque dos Atletas) no dia 9, São Paulo (Estádio Morumbi) no dia 11 e Porto Alegre (Estacionamento da Fiergs) no dia 13-- é uma mistura de musical da Broadway com espetáculo pop e show de rock. Mas dentre diversas coreografias que permeiam a apresentação --nem todas brilhantes--, o realce vem quando Gaga dispensa dançarinos e pré-gravações para mostrar o poder de sua voz.

O ponta pé inicial da "Born This Way Ball Tour" pela América do Sul será dado ao final dos dois shows na cidade de San Juan, em Porto Rico, que começou nesta terça-feira (30). Na terra dos Menudos de Ricky Martin, a estrela do pop iluminou Lady Gaga, que angariou cerca de 15 mil pessoas apenas na primeira noite para entrar em seu mundo obscuro e tão peculiar.

Ao vivo, Gaga reforça o que já se espera dela: provocativa, excessiva, esquisita e com o propósito de incomodar. Da famosa "roupa de carne" à cena em que simula seu próprio nascimento em "Born This Way", Gaga se divide entre uma ousadia já prevista e discursos que giram sempre em torno de temas comuns: mensagens contra a discriminação de qualquer espécie –"é seu direito ser feliz, seja gay ou hétero", ela prega. O falatório soa piegas e cheio de clichês, mas seu público, formado em grande parte por crianças e adolescentes, vibra. Vale lembrar: Gaga também é apenas uma jovem de 26 anos.

Em menos de cinco anos sob os holofotes, desde o lançamento do álbum "The Fame" (2008), Gaga se transformou em um modelo para outros jovens que a idolatram com vigor febril, os quais apelidou de "little monsters". Meninas e meninos não economizam no figurino que reproduz diversas fases da cantora. E às vésperas do Halloween, o show em Porto Rico se transformou também em uma grande festa à fantasia, dividida por roupas de bruxas, fadas ou personagens de games. Mas a rainha da festa era mesmo aquela que, em forma de alien, cantou "Government Hooker".

O espetáculo, de pouco mais de duas horas, passa por variadas mudanças de figurinos – foram quase 20 trocas de roupa –, mas há sempre uma performance de dançarinos para entreter o público. Gaga, por outro lado, parece correr o risco de se perder dentro do próprio show: em "Just Dance" e em "Paparazzi", por exemplo, dois de seus maiores hits, ela passa mais tempo cantando escondida atrás do misterioso castelo medieval que serve de cenário do que na frente do palco e desperdiça ótimos potenciais para a apresentação.

Gaga representa a si mesma em múltiplas personalidades. Ela fragmenta sua identidade em tantas versões e homenagens – de Madonna a ecos David Bowie e Freddie Mercury – que, por vezes, parece faltar justamente ser a sua própria referência. Por isso certos quadros de seu show se equilibram entre o excitante, como seu renascimento no megahit "Born This Way", e o dispensável, como "Love Game".

A primeira parte do show é claramente influenciada por musicais e pelo tipo de espetáculo criado por Madonna nos anos 80 – em "Alejandro" há até mesmo o sutiã pontiagudo usado pela veterana de 54 anos. Uma ininterrupta frequência de batidas sincronizadas e coreografias elásticas são mantidas por músicas como "Black Jesus + Amen Fashion" ou a perturbadora cenografia de "Blood Mary". Mas o destaque vem na segunda parte, quando Gaga abre mão de dançarinos e coreografias e, sozinha ao piano montado em cima de uma motocicleta, exercita suas extravagâncias vocais numa bela versão para "Hair", acompanhada de um fã escolhido na plateia.

A ópera-pop de Gaga segue poderosa da metade para o final, quando emenda "You and I" junto apenas com quatro músicos no palco, como se ela fosse um astro do rock. O número se complementa quando pega uma guitarra em "Electric Chapel", ainda que não a toque efetivamente. A banda que a acompanha na turnê fica posicionada em lugares estratégicos do castelo, e pouco aparece -– equer é apresentada ao público –, mas tem destaque fundamental ao dar mais peso e corpo às canções.

Respeitosa com seus admiradores, Lady Gaga chamou ao palco, durante o bis, um grupo de fãs para cantar "Marry the Night" e improvisar um número dançante, como se ensaiassem um episódio de "Glee". Com eles, ela sumiu de cena, numa plataforma móvel que os levou para debaixo do palco e, de lá, para seu camarim.

Tão próxima e ao mesmo tempo tão distante daqueles que ela chama de seus "monstrinhos", Gaga parece apenas uma jovem rebelde que grita, provoca gestos obscenos e quer chamar a atenção dos mais velhos, aqueles que estavam discretamente na plateia acompanhando filhos ou parentes – o show tem classificação indicativa de 12 anos. Nada que ela não seja capaz de fazer também fora de seu espetáculo.

Veja as músicas que Lady Gaga cantou em San Juan:

“Highway Unicorn (Road To Love)”
"Government Hooker"
"Born This Way"
"Black Jesus + Amen Fashion"
"Bloody Mary"
"Bad Romance"
"Judas"
"Fashion of His Love"
"Just Dance"
"Love Game"
"Telephone"
"Heavy Metal Lover"
"Bad kids"
"Hair"
"You & I"
"Electric Chapel"
"Americano"
"Poker face"
"Alejandro"
"Paparazzi"
"Scheibe"

bis
"The Edge of Glory"
"Marry the Night" 

*A jornalista Mariana Tramontina viajou a convite da produtora Time For Fun

Lady Gaga
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