Sem "Like a Virgin", Madonna reitera em SP fraqueza de repertório da turnê "MDNA"
Madonna deu vida própria a tantos hits, ao longo de 30 anos, que nada mais justo que ela mexa, troque e destroque as músicas que entram em seus shows. Mas tirar um sucesso como "Like a Virgin" de um repertório já insípido como é o da turnê "MDNA" é apenas um exemplo da coragem que só Madonna poderia ter. A mesma que ela demonstrou ao renegar a canção em sua apresentação nesta terça-feira (4) no estádio do Morumbi, em São Paulo, deixando mais enfático a má escolha de seu repertório.
A nova turnê de Madonna é um belo e impecável espetáculo visual. Ela funde universos, mistura religião com erotismo e recicla o passado no presente numa apresentação auto-referente. Ao longo de 1h40 de duração frente a 58 mil pessoas, segundo a organização, a rainha do pop faz sua própria reverência --como se não bastassem as homenagens e a dedicação dos fãs que a acompanham.
Mas o ponto fraco do show, paradoxalmente, é o repertório. Sem muitos sucessos, a apresentação demora a engatar. A introdução com "Girl Gone Wild", "Revolver" e "Gang Bang" soa apenas como pano de fundo para sua --ótima, diga-se-- atuação em um teatro de cenas violentas, em que ela enfrenta uma gangue e atira em todos eles como um personagem de videogame. Pesado, mas milimetricamente pensado para ser bonito de se ver.
Pouco para cantar junto
O disco "MDNA", lançado em março deste ano, é que dá o tom do espetáculo (das 12 faixas do álbum, apenas quatro ficaram de fora). Durante o show, Madonna ainda pedia ajuda: "Estão prontos? Quero ouvir todo mundo cantar alto". Mas a tarefa não era das mais fáceis. O primeiro grande sucesso a aparecer foi "Papa Don't Preach" que, para desespero de muitos, foi cantada pela metade.
"Express Yourself", de um longínquo 1989, foi o primeiro trunfo do show, embalada por um visual colorido com Madonna vestida de líder de torcida. É quando ela emenda discretamente no refrão um trecho de "Born This Way", de Lady Gaga, inserida estrategicamente para deixar clara toda e qualquer semelhança. O público vibrava com a ironia e celebrava a presença de um sucesso.
"Vogue" também foi recebida com entusiasmo pela plateia, que viu Madonna aparecer com uma releitura de seu famoso sutiã pontiagudo e um desfile de figurinos com seus bailarinos. A sessão veio acompanhada por "Candy Shop" (e citações a "Erotica") e finalizada com "Human Nature", todas com roupagens tão diferentes que soavam como lounge music, bem diferente da última vez que a cantora veio ao Brasil, em 2008, com sua dançante "Sticky & Sweet Tour".
E foi com "Like a Prayer", penúltima música do show, que o estádio veio abaixo. Acompanhada do trio basco Kalakan e de todos seus dançarinos fazendo coro, Madonna interpretou a canção sem qualquer artifício visual que pudesse chamar mais atenção do que a própria música. Enquanto isso, grandes temas como "Holiday", "Ray of Light", "Music" e "Into the Groove" foram relegados a poucos segundos em um mix de clipes.
"Não quero falar mal da Madonna, mas senti falta de várias músicas para dançar. O show foi lindo, mas seria bem melhor se ela tivesse cantado 'Like a Virgin' ou 'Holiday'", comentou a administradora de empresas Larissa Bicalho Santos, de 31 anos. "Ela poderia ter substituído alguma do disco novo, tipo "Masterpiece", por 'Music' ou 'Into The Groove', mas mesmo assim foi 'mara'", disse o arquiteto Renato Fernandes, 24, num morde e assopra.
Houve rumores de que Madonna tirou "Like a Virgin" do show por problema técnicos. A assessoria de imprensa da turnê, Time For Fun, não confirmou a informação, e ressaltou ainda ao UOL que não houve qualquer restrição de horário --o show terminou a 0h15 ao som de "Celebration" e uma anticlimática despedida. A mudança de característica é louvável, Madonna parece até mais elegante em seus novos papeis, mas o show acaba sendo muito mais um espetáculo para assistir e contemplar as belas montagens do que para cantar junto e dançar, como ela mesma pedia.
Espetáculo
Por outro lado, Madonna se aprefeiçoou na arte de fazer entretenimento. No palco, tudo é teatral e ela é um personagem. Ou vários. A cada ato, uma nova Madonna surge em cena. Seu manifesto pop é engajado em mensagens de paz e amor. "Não existe diferença no mundo. Hétero, gay, negro, branco... Somos uma só alma", ela pregou, enquanto demonstrava seu aprendizado de português em palavrões como "caral***" --sua versão paulista para o "periguete" usado em seu show no Rio de Janeiro, no domingo.
Depois de tantos anos desfilando seu corpo em trajes mínimos, a forma física de Madonna já nem chama mais tanta atenção. É clichê falar do pique que a cantora mantém aos 54 anos, seja se contorcendo em movimentos elásticos ou se equilibrando literalmente em cordas bambas (em "Hung Up"). E ainda que as cordas vocais não tenham acompanhado os outros músculos, ela solta a voz e encanta. E dança como só Madonna pode dançar --agora, junto com o filho Rocco, de 11 anos, como parte do elenco de bailarinos no palco.
O cenário do show limita-se a quatro enormes telões modulares que projetam imagens tão realistas que tudo parece de fato que está no palco. As dezenas de bailarinos que a acompanham ganham destaque em performances tão perturbadoras (por exemplo, quando deslocam os ombros e contorcem os braços para todos os lados) quanto impressionantes. Por baixo de tanta encenação e efeitos visuais, o espetáculo vale o preço que custa, mas ainda assim fica o gostinho amargo da falta de sucessos com os quais Madonna conquistou gerações.
Madonna volta a se apresentar nesta quarta-feira no estádio Morumbi em São Paulo (ainda há ingressos à venda). Depois, a cantora segue para Porto Alegre, onde encerra no dia 9 sua turnê brasileira de "MDNA".
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