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"Me sinto viúva de Emílio", diz Alcione em velório; Nana Caymmi lembra de formatura

Rodrigo Teixeira

Do UOL, do Rio

20/03/2013 15h20

Fãs, amigos e artistas compareceram no velório de Emílio Santiago, que acontece nesta quarta-feira (20), na Câmara Municipal do Rio de Janeiro.

Amiga próxima de Emílio, a cantora Alcione chorou muito ao se aproximar do caixão e teve que ser amparada por amigos. Na saída do velório, ela comentou: “Tenho horas que me sinto viúva do Emílio. Um grande irmão e amigo. Perdemos uma voz. O Brasil ficou sem voz. Agora só temos o Cauby.”

Mais cedo, ela relatou a última conversa que teve com Emílio, quando o cantor deu entrada na UTI do Hospital Samaritano, em Botafogo, no dia 7 de março. "Passei a mão no braço dele e disse ‘Eu estou aqui’. Ele respondeu: ‘Que bom, minha irmã’", afirmou.

A atriz Marília Pêra lembrou que Emílio chegou a ensinar uma técnica para sua voz. “Todos os espetáculos que eu fiz, eu via o Emílio na plateia. Eu acho que a maior lembrança dele é uma técnica vocal incrível que ele me ensinou. É a maior voz do Brasil, segundo Nana Caymmi, uma das maiores”, comentou.

Nana Caymmi, por sua vez, lembrou de ter dançado com Emílio a valsa de sua formatura. "Cantar com ele sempre era uma grande festa. Eu me lembro da valsa que eu dancei com ele na formatura, foi uma honra para mim, amiga dele na ocasião, saber do amor que ele tinha por mim como amiga. Era muito grande. E esse (amor) foi até ontem. O baile de formatura era uma coisa que ele queria muito nesse Brasil racista, era se formar. Ele, advogado negro. Era muito importante pra ele", recordou.

Já o compositor Marcos Valle lembrou de como conheceu o trabalho de Emílio. "Eu estava no júri do primeiro programa de calouros que ele participou", comentou. "Ele me impressionou, votei nele. O que mais marcava era o seu timbre e o tom aveludado na voz."

Elba Ramalho chegou ao velório às 16h10, carregando um livro. Ao se aproximar do corpo, a cantora fez orações pelo amigo. "Nesse momento, a melhor coisa a se oferecer são rezas", disse a artista. "Emílio era pessoa presente em minha vida. Meu grande amigo, vizinho de sítio em Araras, a gente se visitava."

Durante o velório, após uma oração conduzida pelo padre, Mart'nália cantou um trecho da música "Saigon", sendo seguida por Nana Caymmi, que rezou uma "Ave Maria".

Ao chegar ao saguão da Câmara às 14h, o caixão foi recebido com palmas, inclusive pelos fãs que aguardavam o início do velório. A cantora Zélia Duncan também está no local para prestar as últimas homenagens.

Emílio não resistiu às complicações do quadro clínico de AVC (Acidente Vascular Cerebral) isquêmico -- quando falta circulação de sangue no cérebro -- e morreu às 6h30 no hospital.

Trajetória
Nascido no Rio de Janeiro em 6 de dezembro de 1946, Emílio Santiago era formado em Direito, mas o vício em ouvir Nelson Gonçalves, Cauby Peixoto e João Gilberto em casa falou mais alto. Com o incentivo de amigos, participou de festivais e concursos musicais, chegando a se apresentar no programa "A Grande Chance", de Flávio Cavalcanti.

A voz marcante, que embalava de baladas a sambas cheios de swing, conquistou críticos e fãs e o primeiro LP, com seu nome, foi lançado em 1975, com canções de Ivan Lins, João Donato e Nelson Cavaquinho.

O sucesso chegou ao cantor de vez em 1988, ao lançar o disco "Aquarela Brasileira", primeira parte de um projeto de sete volumes, dedicado exclusivamente à música brasileira. A série de gravações ganhou uma versão ao vivo, "O Melhor das Aquarelas Ao Vivo", em 2005.

O último disco de Emílio Santiago foi "Só Danço Samba (Ao Vivo)", lançado em 2012, junto com um DVD. O cantor estava com quatro shows programados para o mês de março: dia 13 em Campinas (SP), dia 16 na quadra da Portela, no Rio, e nos dias 22 e 23 na capital paulista.

Sua última aparição ao vivo foi no programa "Encontro com Fátima Bernardes", no dia 4 de março, onde cantou um de seus maiores sucessos, "Saigon".