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No velório de Emílio Santiago, fã de 66 anos leva rosa e relembra: "ele era cheiroso"

Rodrigo Teixeira

Do UOL, do Rio

20/03/2013 13h57Atualizada em 20/03/2013 16h12

O corpo de Emílio Santiago chegou às 14h em ponto na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, após o traslado sofrer atraso. O caixão foi recebido com palmas, inclusive pelos fãs que aguardavam o início do velório.

 

Entre as primeiras da fila de admiradores do cantor, Vera Lúcia dos Santos, 66 anos, segurava uma rosa de cor laranja e, com voz embargada, lamentou a morte do ídolo. "Levei um choque muito grande quando soube da morte dele. Tenho os CDs, ia aos shows, sou fã de verdade", disse.

Vera, que mora na Ilha do Governador, pegou um ônibus direto para o centro do Rio ao saber da notícia.

Emílio não resistiu às complicações do quadro clínico de AVC (Acidente Vascular Cerebral) isquêmico -- quando falta circulação de sangue no cérebro -- e morreu às 6h30 no Hospital Samaritano, em Botafogo, na zona sul, onde estava internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) desde o dia 7 de março. Ela relembra a ocasião em que conversou com o cantor.

"Um show inesquecível foi quando ele me recebeu em seu camarim. Percebi que ele era muito cheiroso", revelou.

Também na fila -- e emocionada -- Cléia Ferreira, 70 anos, veio prestar a última homenagem. "Sou jornalista e trabalhei com ele na gravadora Philips. A música que eu tenho uma história é 'Saygon'".

A emoção tomou conta do saguão quando a cantora Alcione se aproximou do caixão. Chorando muito, a cantora teve que ser amparada por amigos. O mesmo aconteceu com o secretário pessoal de Emílio, Soca, que ajudou a segurar o caixão na chegada a Câmara.

Repercussão

Nas redes sociais, a morte de Emilio Santiago teve uma repercussão instantânea. Artistas, músicos, políticos e outras celebridades lamentaram a morte do cantor, de apenas 66 anos.

"Morreu Emílio Santiago, o último cantor de verdade do Brasil", disse o novelista Aguinaldo Silva.

"O maior cantor do Brasil Emilio Santiago partiu para o plano espiritual. Que tristeza meu Deus", lamentou o músico Ed Motta.

Veja outras declarações

 

"Era um homem forte"
Antes de ser internado, Emílio Santiago estava bem e tinha apenas diverticulite, doença inflamatória do intestino. "Tínhamos esperança de que ele se recuperasse. Há três anos ele foi diagnosticado com diverticulite, mas era só. Ele era um homem forte, não bebia, não fumava", afirmou a assessora e amiga do cantor, Eulália Figueiredo.

Emocionado, Márcio Tadeu, amigo do cantor, afirmou que Emílio foi internado após ser encontrado caído em casa. "Foi tudo de repente", disse.

"O diagnóstico foi um AVC isquêmico e depois hemorrágico, as complicações foram se dando, foram mais de dez dias de internação. Aconteceram agravantes, preservamos (Emílio), mas não escondemos nada", afirmou Tadeu.

Amiga próxima de Emílio Santiago, Alcione afirmou nesta quarta-feira (20) que foi uma das últimas pessoas a falar com o cantor.

"Passei a mão no braço dele e disse "Eu estou aqui". Ele respondeu: "Que bom, minha irmã"", afirmou Alcione, muito abatida e chorando.

Trajetória
Nascido no Rio de Janeiro em 6 de dezembro de 1946, Emílio Santiago era formado em Direito, mas o vício em ouvir Nelson Gonçalves, Cauby Peixoto e João Gilberto em casa falou mais alto. Com o incentivo de amigos, participou de festivais e concursos musicais, chegando a se apresentar no programa "A Grande Chance", de Flávio Cavalcanti.

A voz marcante, que embalava de baladas a sambas cheios de swing, conquistou críticos e fãs e o primeiro LP, com seu nome, foi lançado em 1975, com canções de Ivan Lins, João Donato e Nelson Cavaquinho.

O sucesso chegou ao cantor de vez em 1988, ao lançar o disco "Aquarela Brasileira", primeira parte de um projeto de sete volumes, dedicado exclusivamente à música brasileira. A série de gravações ganhou uma versão ao vivo, "O Melhor das Aquarelas Ao Vivo", em 2005.

O último disco de Emílio Santiago foi "Só Danço Samba (Ao Vivo)", lançado em 2012, junto com um DVD. O cantor estava com quatro shows programados para o mês de março: dia 13 em Campinas (SP), dia 16 na quadra da Portela, no Rio, e nos dias 22 e 23 na capital paulista.

Sua última aparição ao vivo foi no programa "Encontro com Fátima Bernardes", no dia 4 de março, onde cantou um de seus maiores sucessos, "Saigon".