Ultraje a Rigor atrasa, mas segura plateia em show conturbado
A noite já havia começado errada desde a configuração da casa. Segundo sua assessoria, a pedido da produção do show (duas rádios patrocinaram), o HSBC Brasil recebeu o público do Ultraje a Rigor, nesta quinta-feira (21), com mesas e cadeiras na pista. A apresentação, marcada para começar às 22h, só teve início às 23h20. Com uma hora de atraso, o público já vaiava. Mesmo avisada de que o grupo havia se atrasado por conta de uma gravação, a plateia só sossegou nas vaias porque o DJ que fez o “esquenta” aumentou o som a ponto de ficar difícil conversar. Até que a banda finalmente entrou e abriu o show da forma habitual, com “Zoraide”. Nenhum pedido de desculpas foi feito ao público. Ao contrário, o vocalista Roger Moreira reclamou do som. “Não tivemos tempo de ajustar”, disse. A plateia só animou a partir da terceira música, “Independente Futebol Clube”, mas seguiu aplaudindo. Foi a salvação do Ultraje para não transformar a noite em um desastre.
O repertório consistente e cheio de hits do grupo foi repassado dividido por temas. “Fiz essa música quando era inocente. Achei que ia mudar alguma coisa, mas não deu certo”, falou o cantor, antes de “Inútil”. O segmento de crítica política teve continuidade. “Vi que ‘Inútil’ não tinha servido para nada, e resolvi dar uma incrementada. Daí fiz essa”, disse Roger, emendando com “Filha da P...”. Mais adiante, “Sexo”, “Pelado” e “Eu Gosto de Mulher” formaram um set de músicas sobre sexo. Entre uma parte e outra, Roger recebeu dos roadies duas guitarras desafinadas. “Inventaram uma nova afinação”, comentou o baixista Mingau, mostrando nítida irritação. Em certo momento, Roger pareceu cansado da situação. “Reclamaram que o show ia ser com mesa, mas bem que eu queria uma mesa aqui, agora”, soltou o cantor, que ao menos tentou manter o humor durante os 90 minutos em que a banda esteve no palco. “Obrigado pela paciência”, falou, em outro momento.
Quando o show continuava, a banda parecia tocar com raiva, o que, direta ou indiretamente, dava um tom bem rock and roll à apresentação. Entre uma seleção e outra de músicas, o grupo mandava covers “nervosos” como “Sheena is a Punk Rocker”, do Ramones, e “Paranoid”, do Black Sabbath. Após set de canções com palavrões (“Chiclete”, com o refrão “bum bum bundão”, e “Nada a Declarar”, em que público e banda gritam juntos “c...”), o Ultraje tocou “Nós Vamos Invadir Sua Praia”, se despediu e saiu, mas avisou que voltaria. O público, nesse ponto, até estava gostando bastante. Várias pessoas já assistiam em pé, ao lado das mesas.
No intervalo, a dupla Ozdois, cujo cantor e baixista faz vocais de apoio para Roger, se apresentou. Na volta do Ultraje ao palco, Marcos Kleine cedeu o lugar ao guitarrista Heraldo Paarmann, ex-integrante convidado. O grupo improvisou um blues como introdução para “Marylou” e, na hora de cantar a letra, Roger entrou errado. “Vamos dar uma ensaiadinha para não acontecer de novo”, brincou o cantor, já demonstrando muita tensão. A banda tocou “Ciúme” e se despediu mais uma vez. Mingau foi ao microfone e ironizou a participação do técnico de som. “Queria agradecê-lo pelo som maravilhoso”, falou. Ainda teve “Terceiro”, ao final da qual Mingau destruiu o baixo, sob os olhares espantados da plateia e do resto da banda.
É o segundo episódio tumultuado em que o Ultraje a Rigor se envolve recentemente. Em 2011, durante a apresentação no SWU, e também por conta de atraso no horário da apresentação, Roger encrencou com a equipe de produção do cantor inglês Peter Gabriel que, segundo ele, queria reduzir a duração do show da banda brasileira.
É uma pena que não aconteça com o Ultraje o que se viu recentemente com Titãs e Barão Vermelho. O repertório é invejável como o das outras duas bandas. Há músicas que, mesmo escritas há quase 30 anos, soam atuais, caso de “Inútil”. Mas o grupo parece um pouco atrapalhado com seu legado precioso.
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