Dinho Ouro Preto brada contra Feliciano e pede "revolução" frente a 6 mil em SP
Com as bandas de sua geração acomodadas, e as posteriores desinteressadas, Dinho Ouro Preto, do Capital Inicial, parece ter virado o único guerreiro do rock contra a corrupção. Neste sábado (23), em São Paulo, o cantor bradou contra a presença do deputado federal Marco Feliciano (PSC – SP) à frente da Comissão de Direitos Humanos, xingou este e outros políticos, e clamou por uma “revolução” durante show para 6 mil pessoas, no Credicard Hall. O show, que o vocalista dedicou a Chorão, vocalista do Charlie Brown, Jr., morto no dia 6 de março, teve os ingressos esgotados e serviu para o grupo promover seu novo disco, “Saturno”.
O desabafo de Ouro Preto começou após a banda tocar “O Cristo Redentor”, uma das faixas de “Saturno”. O cantor se dirigiu ao público dizendo achar absurda a presença de Feliciano na CDH. “Um racista, homofóbico”, falou. “É de revolução que a gente precisa”, completou. A ira contra os políticos foi adiante. Antes de “Saquear Brasília”, outra do disco novo, Dinho colocou um nariz de palhaço, e uma camiseta com a mesma imagem, e falou sobre a eleição de Tiririca, que levou “todo um bando” ao poder. “Estou longe de ser ufanista. Não temos ainda nada a celebrar. E acho que o ‘x’ do problema está no Congresso, aquele balcão de negócios”, disse o vocalista.
Tal atitude é o que hoje diferencia Dinho dos outros cantores de sua época, e até da nova geração. Além de expor sua crítica, o cantor interagiu com o público durante todo o tempo. Foi constantemente à frente do palco, e ficou o mais próximo que pôde da plateia. Por duas vezes mergulhou no meio dos fãs e pediu para ser carregado. “Quero ir até lá no fundo e voltar. Vocês topam?”, perguntou. Na primeira tentativa não deu certo. “Só dois metros? Vocês me engolem. Quero passear por aí”, pediu. Na segunda vez, conseguiu. “Circulou” pelo público, de costas, carregado pelos fãs e cantando “Música Urbana”.
A conexão com o público foi ainda mais longe. Em momentos distintos, Dinho colocou dois rapazes da plateia para tocar guitarra com o grupo. O primeiro, inclusive, foi aplaudido pelo guitarrista Yves Passarell, que cedeu seu instrumento para o garoto tocar “Fátima”.
Dinho também deixou que uma garota subisse ao palco e o abraçasse. Como resposta, a plateia compartilhou a energia da banda e, principalmente, do cantor. Ouro Preto conquistou o público desde o início, quando agradeceu a presença dos fãs. “Estava nervoso. Semana que vem tem (o festival) Lollapalooza, com um monte de bandas legais. Achei que não viria ninguém”, disse.
Bem mais rouco do que o normal, Dinho cantou e comandou coros das 6 mil pessoas por cerca de duas horas e meia. “Este é, oficialmente, o show mais longo da carreira do Capital”, falou, ao final. O repertório teve várias canções de “Saturno”; hits como “À Sua Maneira” e “Veraneio Vascaína”; e covers de White Stripes (“Seven Nation Army”) e Raimundos (“Mulher de Fases”), além de “Primeiros Erros” (Kiko Zambianchi) e “O Passageiro” (versão de “The Passenger”, de Iggy Pop”).
Dinho ainda soltou, à capella, os refrões de “I Love Rock and Roll” (Joan Jett), “We Will Rock You” (Queen) e “Smoke on the Water” (Deep Purple). Quando, para aniversariantes, cantou o verso "feliz aniversário", de “Envelheço na Cidade”, do Ira, pediu a volta deste grupo. “Nasi e Edgard (Scandurra) bem que poderiam se entender."
Ficou nítido que, na comparação com outras grandes bandas da mesma geração, como Titãs, Barão Vermelho e Ultraje a Rigor, e independentemente de ter repertório mais fraco ou não, o Capital Inicial amadureceu como um grupo de garotos que ainda tem paixão pelo que faz, e tenta se manter atual, não apenas viver das glórias do passado e faturar com elas.
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