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Mesmo com plateia sentada, Caetano cria momento "micareta" em SP

Natalia Engler

Do UOL, em São Paulo

12/04/2013 00h19

A configuração do espaço não ajudou, mas Caetano Veloso conseguiu literalmente levantar o público no primeiro show da etapa paulista da turnê "Abraçaço", na noite desta quinta-feira (11).

Se na estreia da turnê, no Circo Voador, no Rio de Janeiro, os shows tiveram clima dançante, em São Paulo a apresentação foi predominantemente comportada, com todo o público que lotava o HSBC Brasil sentado.

Foi só no fim do show, já no bis, que o baiano conseguiu seu momento "micareta", colocando 1.800 pessoas para dançar com "A Luz de Tieta", canção em que Caetano pediu a participação do público no refrão e que fez com que boa parte da plateia se levantasse e se aproximasse do palco.

Focado no novo disco --dez das 11 canções de "Abraçaço" fazem parte do setlist--, o show foi recebido por uma plateia formada principalmente por cinquentões e sessentões, que pouco conheciam as novas canções e que fizeram coro apenas nos sucessos mais antigos, como "Eclipse Oculto", do disco "Uns" (1983), e "Reconvexo", conhecida na voz de Maria Bethânia.

Muito diferente do clima dos shows no Rio, onde um público jovem, principalmente na faixa dos 20 aos 30 anos, dançou e cantou praticamente todas as faixas apresentadas. A impossibilidade de uma interação maior com a plateia parece também ter deixado o próprio Caetano mais tímido, sem falar com o público em nenhum momento e sem saber muito bem o que fazer quando se aproximava da beirada do palco para cumprimentar os mais próximos.

Acompanhado no palco apenas pela banda Cê -- Pedro Sá (guitarra), Ricardo Dias Gomes (baixo e teclado) e Marcelo Callado (bateria e percussão)-- e quatro reproduções de obras do russo Kazimir Malevich, Caetano apresentou em cerca de 1h30 de show um repertório quase idêntico ao do Rio, com apenas uma exceção: substituiu "Alexandre" por "De Noite na Cama", escrita por ele especialmente para Erasmo Carlos, que a gravou no disco "Carlos, Erasmo", de 1971.

Se a ausência de vários sucessos, como "Odara", poderia ser uma decepção para os fãs mais saudosistas, o foco nas composições mais recentes demonstra que Caetano continua ativo, atual e ainda relevante, aproveitando a parceria com músicos mais jovens para se renovar. No show, as canções de "Abraçaço" não destoam em inventividade e poesia de trabalhos como "Triste Bahia", de "Transa" (1972), que integra o repertório.

Desafino
Ainda que tenha se provado musicalmente em forma aos 70 anos, Caetano não está imune a problemas vocais e mesmo nervosismo. Com uma leve rouquidão e com a voz ainda "fria", o cantor teve dificuldade para alcançar as notas mais altas em "Abraçaço", quarta música do show. Um pouco à frente, começou "Homem" cantando fora do tom, parou e desculpou-se antes de recomeçar: "Eu entrei no tom errado. Nunca aconteceu isso nessa música. A cabeça está desconjuntada".

Caetano ainda apresenta-se em São Paulo nesta sexta e sábado. Depois, a turnê segue para Petrolina (20/4), Porto Alegre (25/4), Belo Horizonte (27 e 28/4), Salvador (17/5), Recife (18/5), Uberlândia (30/5) e Goiânia (1º/6).

Veja o setlist completo do show:

"A Bossa Nova é Foda" ("Abraçaço")
"Lindeza" ("Circuladô")
"Quando o Galo Cantou" ("Abraçaço")
"Um Abraçaço" ("Abraçaço")
"Parabéns" ("Abraçaço")
"Homem" ("Cê")
"Um Comunista" ("Abraçaço")
"Triste Bahia" ("Transa")
"Estou Triste" ("Abraçaço")
"Odeio" ("Cê")
"Escapulário" ("Joia")
"Funk Melódico" ("Abraçaço")
"Alguém Cantando" ("Bicho")
"Quero Ser Justo" ("Abraçaço")
"Eclipse Oculto" ("Uns")
"Mãe" (gravada por Gal Costa em "Água Viva")
"De Noite na Cama" (gravada por Erasmo Carlos em "Carlos, Erasmo")
"O Império da Lei" ("Abraçaço")
"Reconvexo" (gravada por Maria Bethânia em "Memória da Pele")
"Você Não Entende Nada" (gravada por Gal Costa em um compacto)
Bis:
"Vinco" ("Abraçaço")
"A Luz de Tieta" (Tieta do Agreste)
"Outro" (Cê)