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Antes do Rock in Rio, Iron Maiden faz São Paulo reviver uma noite em 88

Daniel Buarque

Do UOL, em São Paulo

21/09/2013 01h23

Era a noite de sexta-feira, 20 de setembro de 2013, mas parecia que a Arena Anhembi, em São Paulo, e as milhares de pessoas que estavam ali presentes haviam sido transportados no tempo e levados para 25 anos atrás, a uma nostálgica noite em 1988. Durante 1h40, o Iron Maiden recriou aqui, no tempo presente, uma clássica apresentação gravada naquele ano, em Birmigham, na Inglaterra, e fez com que o público revivesse muito do que foi a fase de ouro de uma das bandas mais importantes da história do rock pesado.

O show da turnê “Maiden England”, o mesmo que deve ser apresentado no Rock in Rio no domingo (22), é seguramente o melhor espetáculo da “Donzela” na última década, com excelente repertório, interpretação impecável e uma excelente interação entre o grupo de músicos “coroas” se comportando como adolescentes e seu público fiel.

Além de um repertório de 17 músicas com mais de 20 anos de idade, a sensação de volta ao passado é reforçada pelo comportamento da banda. Assistidos paralelamente, o show de 1988 e o desta noite repetem muitas cenas. A maior diferença é a tecnologia, que faz o show esbanjar de efeitos efeitos de luz, palco (com bonecos gigantes e mudança de pano de fundo a cada música) e fogos de artifício. “Quem sabe não colocamos fogo em tudo”, brincou o vocalista, Bruce Dickinson.

Em muitos momentos, os músicos que hoje já passaram dos 50 anos parecem não ter envelhecido nada ao longo dos últimos 25 anos. O clima de brincadeira entre eles domina. Além de pulos, corridas de um lado ao outro do palco, dancinhas e brincadeiras, eles parecem se divertir com o show como se também fossem fãs da banda - dá para ficar cansado só de olhar tanta agitação no palco.

O vocalista, Bruce Dickinson, continua com sua voz potente e com os mesmos trejeitos, gesticulando, flexionando os joelhos, levantando as mãos e correndo de um lado para o outro do palco - só os cabelos mudaram radicalmente. Os outros músicos também repetem a postura e malabarismos com os instrumentos.

No show de São Paulo, até mesmo o som, que muitas vezes não funciona tão bem no Anhembi, fez bonito. O público na pista “comum” até reclamou durante os shows de abertura, pedindo que o volume fosse elevado, mas ficou satisfeito na hora da apresentação principal.

Ouro Maiden

A exemplo do que aconteceu em 2009, quando a banda veio ao Brasil na turnê "Somewhere back in time" e fez um show para mais de 60 mil pessoas debaixo de forte chuva em Interlagos, a proposta da apresentação deste ano é de fato valorizar a nostalgia. O show faz parte da turnê “Maiden England”, apresentada pela primeira vez no país, e prioriza músicas dos anos 1980, refletindo era de ouro da Donzela de Ferro e ignorando tudo o que veio depois de 1993, quando o vocalista Bruce Dickinson resolveu deixar o grupo que surfava no enorme sucesso do álbum "Fear of the Dark".

Vinte anos, uma reconciliação e seis álbuns de estúdio mais tarde, parece que nada mudou, e o fã que assistiu à apresentação dos ingleses em São Paulo nesta sexta-feira, teria dificuldades em saber se o show aconteceu em 2013 ou mais de duas décadas antes.

A supremacia de clássicos dessa fase de ouro do Maiden é uma constante, mas não é tão comum que todos os discos lançados depois dela sejam ignorados. Em 2011, por exemplo, o grupo tocou canções mais recentes na turnê Final Frontier, que passou pelo Brasil. Desta vez, entretanto, consolida-se uma nova tradição da banda, que desde o final da década passada alterna show “novos” com turnês “comemorativas”, como é o caso desta “Maiden England”, iniciada no ano passado e que a banda encerra nesta passagem pela América do Sul.

Rock in Rio em miniatura, e em São Paulo

Já perto do final do show, em uma de suas “conversas” com o público, Bruce Dickinson pareceu se confundir e chamou o show de “Rock in Rio”. Alertado pelos gritos de reprovação do público, ele logo se corrigiu. “Rock em São Paulo”, disse. “Isso soa até melhor de que Rock in Rio”, completou.

A confusão podia até ser justificada. O Iron Maiden fechou na noite de sexta uma versão em miniatura de uma noite de heavy metal do Rock in Rio. Além da clássica banda inglesa, se apresentaram os suecos da Ghost e uma das maiores referências em thrash metal extremo, o Slayer.

O grupo sueco já havia chamado a atenção do Brasil ao se apresentar no festival carioca na quinta-feira. Vestidos com “fantasias” fantasmagóricas e cantando canções com referências a satanismo, o Ghost até que faz um som pesado competente. A banda foi vaiada e xingada pelo público antes mesmo de subir no palco, mas a apresentação com grande qualidade (especialmente na parte instrumental) acabou ganhando parte do público, que aplaudiu ao final da curta apresentação (não passou de 35 minutos).

A noite teve ainda a volta do Slayer a São Paulo. A banda é uma das favoritas dos metaleiros mais tradicionais, e parece uma metralhadora giratória de riffs, com música rápida e agressiva sem parar ao longo da apresentação.

O grupo toca frequentemente no Brasil, mas este foi o primeiro show desde a morte do guitarrista Jeff Hanneman, em maio deste ano. O guitarrista do grupo Exodus Gary Holt, que já havia substituído Hanneman em shows no passado, voltou a assumir o posto na banda desde a morte do músico do Slayer. Hanneman foi homenageado com uma grande bandeira com seu nome no fundo do palco, e um vídeo no telão mostrava cenas dele em shows do Slayer enquanto a banda tocava ao vivo.

Veja o repertório completo do Iron Maiden

Moonchild

Can I Play with Madness

The Prisoner

2 Minutes to Midnight

Afraid to Shoot Strangers

The Trooper

The Number of the Beast

Phantom of the Opera

Run to the Hills

Wasted Years

Seventh Son of a Seventh Son

The Clairvoyant

Fear of the Dark

Iron Maiden

Bis:

Aces High

The Evil That Men Do

Running Free