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Novo álbum de Beyoncé é o mais sexy e pessoal da carreira da cantora

Beyoncé e o marido Jay Z protagonizam o clipe de "Drunk in Love", que integra o quinto álbum de estúdio da cantora - Reprodução
Beyoncé e o marido Jay Z protagonizam o clipe de "Drunk in Love", que integra o quinto álbum de estúdio da cantora Imagem: Reprodução

Patrícia Colombo

Do UOL, em São Paulo

19/12/2013 13h12

"We teach girls that they cannot be sexual beings in the way that boys are" ("nós ensinamos as mulheres quando crianças que elas não podem ser seres sexuais como os meninos e os homens são"). A frase proferida pela autora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie em uma conferência em abril deste ano foi sampleada na faixa "***Flawless", nova música de Beyoncé. Mas o trecho parece nortear parte do quinto álbum de estúdio da cantora, homônimo, que na sexta-feira (13) chegou de surpresa aos fãs e, certamente, é um dos destaques na discografia da texana.

O sucessor de "4" (2011) soma canções com temática sexual escancarada. "Sou uma mulher crescida e posso fazer o que eu bem quiser", ela canta em "Grown Woman" --uma das faixas do novo trabalho que saiu apenas como trilha para um clipe.

Se em "Drunk in Love", Beyoncé e o marido Jay-Z discorrem sobre o pega-pega quente entre os dois, no divertido soul setentista com pegada eletrônica "Blow" ela expressa confiante e sem vergonha sobre os prazeres de receber sexo oral. Há do que se envergonhar de ser mulher? Beyoncé garante que não. E já na balada R&B "Rocket" ela inicia com o verso "let me sit my ass on you" ("deixe-me sentar em você"). Nada discreto e esse é o ritmo.

Embora lenta e grooveada, "No Angel" --com participação de Caroline Polachek (integrante da banda indie nova-iorquina Chairlift) na composição--, Beyoncé força exageradamente no vocal sensual. "Yoncé/Partition", com partes instrumentais que remetem ao bhangra indiano e paquistanês muito usado por artistas como M.I.A., aparece como pote de pimenta na carreira da artista.



Maternidade e relações pessoais
A afirmação como mulher não é novidade na trajetória de Beyoncé. Há inúmeros hits no currículo dela que discursam sobre a importância de se impor perante a sociedade e contra o machismo, embora com alguns deslizes no suposto discurso feminista. Mas é interessante observar a liberdade e a segurança das quais ela se vale para falar abertamente sobre sexo neste trabalho.

Contudo, "Beyoncé" não trata só de transas e do fortalecimento feminino. É um álbum bastante pessoal, no qual a cantora aborda questões internas como a realidade das imperfeições humanas no cotidiano --algo que ela custou a aprender, desde criança se cobrando para ser a melhor artista. Em "Pretty Hurts", por exemplo, ela critica a valorização de padrões de beleza e a necessidade de ser bem sucedido. "Perfection is the disease of a nation" ("a perfeição é a doença de uma nação"), ela canta.

Há ainda temáticas de um relacionamento em crise ("Mine", com a participação de Drake) e sobre uma pessoa querida que se foi ("Heaven"). Mas um dos pontos mais coloridos do álbum está em "Blue", faixa que fala sobre a pequena Blue Ivy, primeira filha dela com Jay-Z. A música, que aborda o amor descoberto com a maternidade, traz falas da filha e o clipe, filmado no Brasil durante a recente passagem da cantora, é de doçura sem igual.



Em termos de sonoridade, "Beyoncé" traz representantes mais pop ("Pretty Hurts" e "XO", com cara de hino de estádio). Mas, sobretudo, investe em faixas construídas em cima do R&B moderno de nomes como Frank Ocean (que participa de "Superpower"), do hip-hop, da atmosfera de música ambiente e até do trapstep ("***Flawless"). Em formato, a mais experimental é "Mine": a música se inicia no piano e têm trechos com batidas eletrônicas e versos falados, com algumas partes mais marcadas em percussão e outras mais suaves.




Novo formato, novo caminho
"I'm climbing up the walls 'cause all the shit I hear is boring, all the shit I do is boring, all these record labels boring" ("Estou escalando as paredes porque tudo o que escuto é um tédio, toda a merda que faço é um tédio, todas as gravadoras são um tédio"). O trecho é proferido pela própria Beyoncé em "Ghost/Haunted", a segunda faixa do disco. Dito e feito. Na tentativa de se diferenciar dos outros nomes da indústria, conseguiu dar um baile na mídia e lançar seu quinto álbum de surpresa, na madrugada da sexta-feira (13), apenas no iTunes. Resultado: quebrou o recorde e vendeu 1 milhão de cópias mundialmente.

As informações que circulavam até então indicavam algumas das parcerias escolhidas pela cantora e davam a entender que o lançamento aconteceria em 2014. "Beyoncé" não apenas chegou aos fãs com antecedência como também saiu em um formato nunca então trabalhado por um artista: um projeto visual com 14 músicas e 17 vídeos. "Eu queria que as pessoas ouvissem as canções com as histórias que estão na minha cabeça. A visão no meu cérebro é o que eu quero que as pessoas experimentem pela primeira vez", disse em comunicado. "Eu não queria lançar minha música do que jeito que já fiz. Estou entediada com isso. Sinto que sou capaz de falar diretamente com os meus fãs."

No time de produtores figuram a própria cantora, o fantástico Pharrell, Hit-Boy, Key Wane, Timbaland e o até então desconhecido Boots (que se encarregou de boa parte do material), entre outros. E os vídeos não precisam servir necessariamente como uma muleta para que você compreenda o disco como um todo, porque figuram mais como um adicional interessante no sentido de conhecer a forma que a cantora enxerga cada uma daquelas canções. Tudo em clima de super produção e com figurino impecável, como era de se esperar de uma artista como Beyoncé. É o álbum pop do ano.