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"Passaram a conhecer mais o funk", diz MC Gui um ano após morte de Daleste

Mariane Zendron e Thays Almendra

Do UOL, em São Paulo

06/07/2014 06h00

Um ano após a morte de Daniel Pellegrine, o MC Daleste, funkeiros acreditam que o caso ajudou a disseminar o gênero e torná-lo menos "discriminado" no meio musical. Para MC Gui, que desde a morte do amigo o homenageia com três música em seus shows, "as pessoas passaram a conhecer mais o funk". 

Daleste não foi o primeiro funkeiro a ser assassinado, mas protagonizou umas das mortes mais chocantes da música. No dia 6 de julho de 2013, o jovem de 20 anos subiu ao palco de uma quermesse no bairro de San Martin, em Campinas, e foi baleado com dois tiros durante sua apresentação. Na mesma noite, ele morreu no Hospital Municipal de Paulínia.



Nos dias que se seguiram, o caso ganhou as páginas dos jornais brasileiros e internacionais e foi destaque na programação da TV aberta. Amigo pessoal de Daleste, Gui contou ao UOL que a morte do funkeiro fez com que a mídia desse mais atenção ao ritmo. "Hoje a discriminação com o funk caiu bastante. Eu faço shows para o público de C ao A, onde o funk não entrava antes. Posso cantar outros gêneros musicais sendo um funkeiro", contou o jovem de 16 anos, que viu sua vida mudar de sapo a príncipe em menos de um ano.

O pai de MC Gui, Rogério Alves, relembrou a amizade entre eles e ressalta que o que ficou de Daleste foi uma "boa imagem". "O Daleste era como mais um funkeiro de hoje. A forma como ele foi assassinado deixou um legado bonito porque ele era de uma boa família. Deixou uma boa imagem de um funkeiro perante a tragédia que foi".

Mesmo com tanta divulgação, MC Léo da Baixada, outro dos principais nomes do funk ostentação, disse ao UOL que atualmente a segurança nos bailes piorou. "Na época em que o Daleste morreu, a segurança aumentou. Existiu essa preocupação por parte da polícia e era tudo monitorado. Hoje em dia, eles raramente aparecem para saber como o baile está. Agora estão nem aí. Está do mesmo jeito de antes de Daleste morrer: sem segurança".

Para MC Bio G3, o assunto voltaria à tona se Neymar comprasse a ideia de homenagear Daleste durante a Copa do Mundo. "Se ele falasse sobre o assunto, ajudaria a lembrar a Justiça sobre o caso", disse ele, acrescentando que o craque da seleção brasileira tem boa relação com os cantores.

Desde maio deste ano, o caso foi transferido de Campinas para o DHPP, em São Paulo, mas o processo corre em sigilo.

O assassinato

Em 6 de julho do ano passado, MC Daleste foi baleado dez minutos após o início de um show no CDHU do bairro San Martin, em Campinas. O cantor chegou a ser socorrido e levado para o Hospital Municipal de Paulínia, mas morreu no centro cirúrgico à 0h55. Logo após o ocorrido, fãs publicaram vídeos do momento do disparo na internet.

Segundo Pegolo, Daleste ainda levou um tiro de raspão, que atingiu sua axila direita, momentos antes do disparo fatal. "Ele sentiu, mas, sem ver o ferimento, prosseguiu com a apresentação", disse Pegolo. As investigações continuam.

"Meu irmão não tinha inimigos, ele era da paz. Não consigo imaginar quem possa ter feito isso com ele. Quero justiça. O criminoso tem que ser preso", afirmou ao UOL Rodrigo Pellegrine, 26 anos, irmão e parceiro musical de Daleste. Rodrigo estava no palco no momento em que o MC foi baleado.

Daleste, que começou a carreira no bairro da Penha, em São Paulo, fazia parte do grupo de funkeiros que canta "funk ostentação" ou "funk paulista", em que temas de preocupação social dão lugar a letras sobre dinheiro, marcas de roupa, carros, bebidas, joias e mulheres.

O funkeiro cantava os hits "Gosto Mais do que Lasanha" e "Mais Amor Menos Recalque", esse último já foi reproduzido mais de 1 milhão e 600 mil vezes no YouTube. Em outra canção, "Apologia", o MC escreveu "Matar os policia é a nossa meta / Fala pra nois quem é o poder / Mente criminosa coração bandido / Sou fruto de guerras e rebeliões".