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25 anos sem Raulzito: Entenda por que o "maluco beleza" continua entre nós

O cantor Raul Seixas, que nesta quinta (21) completa 25 anos de morte - Reprodução
O cantor Raul Seixas, que nesta quinta (21) completa 25 anos de morte Imagem: Reprodução

Do UOL, em São Paulo

19/08/2014 15h49

A cena é comum e independe de quem estiver no palco. Basta o primeiro intervalo entre músicas para surgir o brado, sempre impositivo e a plenos pulmões: “Toca Raul!”. Seja por brincadeira ou desejo sincero, o pedido reinante das plateias mostra que a figura do cantor baiano, cuja morte completa 25 anos na próxima quinta-feira (21), ainda permanece perene na música e no imaginário do brasileiro.

Nascido em Salvador, em 1945, Raul Santos Seixas foi uma dos nomes mais importantes na popularização do rock no Brasil. Eclético e adepto da filosofia ocultista de Aleister Crowley, trouxe um olhar ao mesmo tempo reverente e iconoclasta sobre ritmo de Elvis Presley. Ao rock clássico, que dominava como ninguém, fazia questão de adicionar elementos regionais, como o balanço nordestino do baião e os acordes da música caipira e ate do choro.

Mesmo 25 anos depois de morrer, Raul é um dos artistas mais queridos e regravados do Brasil. Tem uma legião de seguidores e coleciona fãs famosos. Desde os desafetos Lobão e Caetano Veloso –que brigaram por sua causa–, passando por Lucas Santtana, Pitty e os sertanejos Zezé di Camargo e Luciano. Até Bruce Springsteen já rendeu homenagem a Raulzito, ao abrir sua última turnê no Brasil, em 2013, com “Sociedade Alternativa”.

Nos cinemas, Seixas foi tema de um documentário do diretor Walter Carvalho, em 2012, sucesso de crítica. Atualmente, pode ser visto no longa “Não Pare na Pista”, cinebiografia do amigo e parceiro espiritual Paulo Coelho, na pele do ator Lucci Ferreira.

Clássicos da música brasileira e também de uma mudança de paradigma geracional, "Ouro de Tolo", "Mosca na Sopa", "Metamorfose Ambulante" e “Maluco Beleza” jamais deixaram de encontrar ecos nas rádios, nos discos físicos e nas playlists da internet –e dificilmente um dia deixarão. Entenda a seguir por que o pai da Sociedade Alternativa continua entre nós.



Documentário
Dirigido por Walter Carvalho, "Raul, o Início, o Fim e o Meio" (2012) reconta em minúcias o percurso de Raul Seixas por meio de depoimentos de parentes, amigos, parceiros e jornalistas. Foram 200 horas de entrevistas com 94 pessoas. Em uma entrevistas, com Paulo Coelho, uma mosca pousa solenemente na face do escritor, entrevistado em sua casa na Suíça. "Interessante, não há moscas em Genebra. É Raul", brinca.

Bruce toca Raul
Bruce Springsteen havia se apresentado pela última vez no Brasil em 1988, um ano antes da morte de Raul Seixas. A espera teve fim em outubro de 2013, simplesmente ao som de “Sociedade Alternativa”, executada com acento gospel e com direito a um macarrônico –porém esforçado—português do autor de “Born to Run”. Bruce, que tem o costume de tocar músicas de artistas locais, pediu sugestão ao jornalista Álvaro Pereira Júnior, que sugeriu Raul após consultar o amigo e também jornalista André Forastieri.

Filme sobre Paulo Coelho
Dirigido por Daniel Augusto, o longa “Não Pare na Pista" estreou nesta quinta, com a história do escritor e parceiro musical de Raul Seixas, um dos vendedores de livros do mundo. Focado na adolescência, juventude e atualidade do autor carioca, o filme mostra o encontro dos dois, nos anos 1970, amizade com tons de misticismo que teve como frutos músicas como "Al Capone", "Sociedade Alternativa" e "Eu Nasci Há 10 Mil Anos Atrás". Nas telas, Raul é interpretado pelo ator Lucci Ferreira.

O bloco Toca Rauuul recebe milhares de foliões na Praça Tiradentes, no Centro do Rio - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
O bloco Toca Rauuul recebe milhares de foliões na Praça Tiradentes, no Centro do Rio
Imagem: Reprodução/Facebook

Bloco Toca Rauuul
Criado por um grupo de amigos em 2011, o bloco carioca Toca Rauuul faz, no Carnaval no Rio, releituras de Raul Seixas em ritmos como frevo, samba, marchinha e maracatu. A festa reúne cerca de 20 mil foliões na Praça Tiradentes, centro da capital fluminense. Com um forte apelo visual, com figurinos, adereços, bonecos e efeitos visuais, os foliões atravessam todas as fases da carreira do músico. Jimi Hendrix, Bob Marley e até Carlos Gomes também entram na dança.

Tributo no Rock in Rio
O show em homenagem a Raul Seixas mostrou a vitalidade dos versos do artista na última edição do festival Rock in Rio, em 2013. Com ares de culto, a apresentação no palco Sunset reuniu Detonautas, Zeca Baleiro e Zélia Duncan, que emularam clássicos e o espírito do baiano. “Se ele estivesse vivo estaria nas ruas se manifestando com o povo brasileiro", disse no palco o vocalista Tico Santa Cruz, do Detonautas, em um exercício de adivinhação referente à onda de protestos que tomou conta do país no ano passado.

Cena da peça "Mania de Explicação" - Nana Moraes/Divulgação - Nana Moraes/Divulgação
Cena da peça "Mania de Explicação", com músicas de Raul Seixas
Imagem: Nana Moraes/Divulgação

Musical infantil
Atualmente em cartaz em São Paulo, o musical "Mania de Explicação", adaptação do livro homônimo da escritora Adriana Falcão, é um mergulho em um mundo lúdico de contos de fada, palhaços e colombinas. A peça, que tem Luana Piovani no elenco, traz Raul Seixas na trilha sonora. A ideia foi do diretor Gabriel Villela, que deu caráter lúdico a canções como “Caubói Fora da Lei”, “Medo da Chuva” e “Metamorfose Ambulante”, retomando a ideia de "Carimbador Maluco", composta por Raul para o especial “Plunct, Plact, Zuuum”, da Rede Globo.

Show de Lucas Santtana
Nome da nova geração da MPB, Lucas Santtana apresentou no Sesc Santo André, em janeiro deste ano, o repertório consagrado de Seixas, mas convertido em ritmos jamaicanos. Nas novas versões, “Cowboy Fora da Lei", "Carimbador Maluco" e "Mosca na Sopa" ganharam a malemolência do dub, ska, reggae e dance hall. “Como todo adolescente, passei por fases em que ouvi muito alguns ícones, como Raul e Bob Marley. Não tem como não ser influenciado por essas referências eternas. Tive certo medo dos fãs do Raul, mas muitos entram na onda”, disse o cantor na época.

Capa do álbum "Teorias de Raul", de Zezé di Camargo e Luciano - Reprodução - Reprodução
Capa do álbum "Teorias de Raul", de Zezé di Camargo e Luciano
Imagem: Reprodução

Homenagem de Zezé di Carmargo e Luciano
Zezé di Camargo nunca escondeu sua admiração por Raul Seixas. Em sua casa, mantém uma coleção que inclui todos os álbuns do baiano em vinil. Nos anos 1990, ao lado do irmão Luciano, chegou a incluir “Tente Outra Vez" no repertório da dupla. Este ano, os sertanejos foram além, lançando a faixa “Teorias de Raul”, que também dá nome ao seu álbum mais recente. “Não diga que a canção está perdida/Porque tudo pode ser melhor do que já foi/Pra renascer você de novo em minha vida/Eu hoje vivo o ontem esperando o depois”, cantam no tributo, de ar mais romântico.

Abertura de novela

A versão original de "Tente Outra Vez"  foi escolhida para ser o tema de abertura da novela "Vitória", da Rede Record, que estreou em junho. Uma espécie de homenagem aos 25 anos da morte do baiano. Assim como a música de Raul, incluída no álbum "Novo Aeon" (1975), o folhetim é centrado em histórias de superação. O restante da trilha sonora, no entanto, vai por outros caminhos, um tanto truncados, com músicas de Jorge Vercillo, Fábio Jr., Engenheiros do Hawaii e Dr. Sin.