Dono de 4,5 milhões de vinis, colecionador tem discos que valem US$ 3 mil
José Roberto Alves Freitas, 60, tem a vida que qualquer apaixonado por música sonha em levar. Milionário, um dos donos de uma transportadora e sócio de uma empresa de iluminação para shows e peças de teatro, ele investe boa parte de seu dinheiro em discos. Entre os 4,5 milhões de LPs, compactos e 78 rotações, ele é dono de uma coleção com raridades vistas em poucas lojas no mundo.
Apelidado de Zero Freitas, ele teve sua história repercutida nacional e internacionalmente depois que o jornal norte-americano "New York Times" publicou, no dia 8 de agosto, um perfil sobre sua vida. Mas poucos tentaram ir a fundo na coleção do empresário, que tem álbuns estimados em até US$ 3 mil por unidade, como as três cópias de "Louco por Você", primeiro disco de Roberto Carlos, lançado em 1961 com apenas 500 cópias e renegado até hoje pelo cantor.
À parte dos 4,5 milhões de discos guardados em dois galpões, Zero Freitas guarda outros cem mil em uma coleção particular, armazenados no porão de sua casa. De todo seu acervo, cerca de 250 mil são álbuns nacionais, número que ele visa aumentar ao longo dos anos. "Quem vai comprar um disco de um seresteiro de Itanhaém? Quase ninguém, mas ele lançou o disco, se dedicou durante a sua vida para aquilo. São coisas que também me interessam", disse ele ao UOL.
Entre as raridades está uma edição de "Piano Concerto", lançado em 1949 por Heitor Villa-Lobos, e autografado pelo maestro e compositor. A dedicatória data de agosto de 1953 e diz: "Ao amigo Paulo Santos, lembrança grata de Villa-Lobos". Santos, que comandou os programas "Tempo de Jazz" e "Encontro com o Jazz" na rádio MEC, era bastante respeitado pela classe artística. Zero tem ainda um outro álbum da cantora de jazz Ella Fitzgerald com autógrafo dedicado ao radialista brasileiro.
Colecionador
Os discos de Zero ficam divididos em dois galpões: em um deles está a maior parte das entregas e em outro se encontram 500 mil cópias -- 250 mil já catalogados e 250 mil para entrar na fila. É neste segundo onde trabalham os 16 estagiários do empresário, em turnos alternados entre manhã e tarde. Lá, eles assumem as tarefas de limpar, fotografar capas e registrar informações sobre cada um dos materiais no software utilizado.
A vasta coleção de Zero era pouco conhecida até recentemente, já que ele dificilmente trocava ou vendia seus vinis. Mas foi uma de suas grandes compras que chamou a atenção dos vendedores norte-americanos: além de outras aquisições em larga escala e altos valores, ele encomendou de uma só vez 1 milhão de compactos de um ex-dono de loja nos Estados Unidos.
Acumulador por natureza e com o signo de Touro como ascendente (que ele acredita dar o toque "materialista" em sua personalidade), começou a coleção aos 11 anos, quando recebia mesada do pai. O primeiro álbum que comprou foi "Roberto Carlos Canta para a Juventude", no início de 1965; nas duas semanas seguintes, veio "Beatlemania" ("With the Beatles", na edição inglesa, e "Meet the Beatles", na edição norte-americana), edição brasileira do segundo álbum de estúdio do quarteto de Liverpool, e "Meus 18 Anos", da cantora italiana Rita Pavone.
Tímido, evitava dançar nas festinhas dos amigos, o que acabou o levando aos toca-discos, descobrindo uma outra fonte de renda: ser DJ. "Comecei a tocar em todas as festas e montei um equipamento de som aos 15 anos, mas desconhecia o termo DJ. Para mim, DJ ainda era o cara do rádio. Tenho até os discos do [radialista] Walter Silva comigo, que comprei da viúva dele". Aos 17 anos, ele já era dono de mais de 3.000 vinis.
Para fazer pesquisas de álbuns no exterior, Zero -- que é formado em música pela USP (Universidade de São Paulo)-- conta com assistentes que o auxiliam nas negociações em diversas lojas de discos. No Brasil, onde atuou como sonoplasta em peças de teatro desde os anos 70, sempre foi procurado para doações de vinis.
Nos anos 90, a chegada do CD fez com que muitos se desfizessem de seus vinis, mas Zero ia na direção contrária e conseguia comprar LPs a preços cada vez mais baixos. Entre suas aquisições estão coleções que pertenceram a figuras como a atriz Eva Wilma, aos radialistas Paulo Santos e Walter "Pica-Pau" Silva, e a Murray Gershenz, um dos mais conhecidos colecionadores dos Estados Unidos, que morreu aos 91 anos em agosto do ano passado.
Assista abaixo ao documentário "Music Man Murray", sobre Murray Gershenz:
O próximo passo que fará valer a coleção do empresário em benefício de outros adoradores será o Emporium Musical, um futuro site que ele pretende abrir no ano que vem para a comercialização de algumas cópias repetidas de seu acervo. Na página, Zero também vai disponibilizar um serviço de digitalização gratuita por demanda, como forma de auxiliar a perpetuar alguns discos raros. "Aceitaremos pedidos pela internet de digitalização de todos os álbuns que já tivermos catalogado".
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.