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Em viagem pelos EUA, Foo Fighters volta apenas com "lembrancinhas" em disco

Guitarrista e vocalista da banda Foo Fighters, Dave Grohl (com violão, à esquerda) aparece com o Preservation Jazz Band, de New Orleans, na série "Sonic Highways". Aventura musical decepciona no álbum - Andrew Stuart/Divulgação
Guitarrista e vocalista da banda Foo Fighters, Dave Grohl (com violão, à esquerda) aparece com o Preservation Jazz Band, de New Orleans, na série "Sonic Highways". Aventura musical decepciona no álbum Imagem: Andrew Stuart/Divulgação

Tiago Dias

Do UOL, em São Paulo

10/11/2014 11h46

Durante a produção de “Sonic Highways”, novo álbum do Foo Fighters, que chega às lojas físicas e digitais nesta segunda-feira (10) (ouça aqui), Dave Grohl brincou com a sonoridade das novas canções e a tentação de subverter a fórmula da banda, que após tantos discos chegara a um patamar popular. "Quando estávamos saindo do sucesso do último álbum, eu pensei: 'agora temos licença para soar estranho. Se quiséssemos, poderíamos fazer alguma loucura, como um disco do Radiohead sombrio, deixar todo mundo enlouquecido'. Mas então eu pensei: 'f***-se'", disse.

Capa de "Sonic Highways" reúne todos as oito cidades por onde a banda passou durante as gravações - Divulgação - Divulgação
Capa de "Sonic Highways" reúne todos as oito cidades por onde a banda passou durante as gravações
Imagem: Divulgação

Mesmo na estrada, conhecendo e gravando em oito cidades consideradas as grandes capitais da música nos Estados Unidos, com influências e colaborações distintas, o resultado do “f***-se” de Grohl se traduz em um álbum que mal tira a banda do torpor radiofônico do álbum anterior, “Wasting Light” (2011), e da fórmula do rock de arena, com seus refrões assobiáveis, riffs, solos e gritos rasgados do vocalista --usados como mandamentos a partir do álbum “In Your Honor” (2005). É, para o bem e para o mal, o mesmo Foo Fighters de sempre.

O que poderia soar como um “On The Road” musical, em referência ao clássico livro beatnik de Jack Kerouac, que descobre as raízes profundas dos Estados Unidos, o diário de viagem do Foo Fighters não é, assim, tão espontâneo.  “Sonic Highways” foi documentado em série pela HBO e mostra entrevistas, jams e a imersão dos Foo Fighters no clima musical e histórico de cada parada. No entanto, o comunicado para a imprensa, saudado antecipadamente, soa mais sedutor que o próprio álbum. E, segundo as críticas lá fora, onde a série já está na metade (no Brasil, o programa estreia no canal BIS, no dia 30 de novembro, às 20h30), o documento televisivo revela mais do que as oito canções.

Dave chegou a explicar que as cidades e seus personagens influenciaram a banda a explorar novos territórios, mas sem perder a identidade. Na realidade, é difícil identificar em quais estúdios e cidades cada uma das canções foram gravadas. O mesmo vale para os convidados. Rick Nielsen (Cheap Trick), Zac Brown (Zac Brown Band), Joe Walsh (Eagles), Gary Clark Jr. e a big band Preservation Hall Jazz Band são subutilizados.

É um disco excessivamente produzido e as referências de cada cidade passam quase desapercebidas, sufocadas --como em “Congregation”, um dos hits óbvios do álbum, que não traz na linha melódica ou na letra uma citação sequer do clima country e folk da cidade de Nashville. 

O pouco de frescor no álbum, como em “What Did I Do? / God as My Witness” e “Something From Nothing”, acaba ficando achatado, como se a mala de viagem ou o próprio objetivo da banda fosse menor que o aprendizado. São apenas lembrancinhas.

Confira o faixa a faixa de "Sonic Highways":

Something From Nothing 
A canção mais surpreendente da aventura musical do Foo Fighters abre o álbum em um crescente. Começa obscura, com Dave cantando apenas com uma guitarra, navega por referências funkeadas com um órgão e quase desemboca no stoner rock, com camadas de guitarras, riffs e solos.

The Feast and the Famine
Em Washington, Dave Ghrol bebe na fonte de Bad Brains e Fugazi, com guitarras mais sujas e o refrão em coro punk. Fora isso, ainda é o Foo Fighters em seu estado mais puro. A letra resgata a luta dos direitos civis dos negros que tremeu a capital nos anos 1960.

Congregation
Maior hit do disco, a canção traz os vocais rasgados de Dave Grohl e refrão grandioso, sobre o clima gospel de Nashville. A canção foi gravada no estúdio Southern, e conta com participação do músico Zac Brown, da banda country Zac Brown Band

What Did i Do? / God as My Witness
O power-pop do Foo Fighters é dividida em duas partes com andamentos diferentes e a guitarra de Gary Clark Jr. Um dos pontos altos do disco, foi gravada em Austin, Texas, mas soa como uma canção da banda Big Star – embora os americanos fossem de Tennessee.

Outside
Gravada em Los Angeles, a canção é preenchida por um tsunami de guitarras, que só dão sossego quando Joe Walsh, do Eagles, aposta em um solo meio blues e um tanto deslocado do rock de arena da banda

In the Clear
A Preservation Jazz Band, uma das big bands mais famosas da terra do jazz, New Orleans, não tem muito o que fazer na canção. Uma participação desperdiçada, a não ser pelas frases discretas dos metais. É (junto com “Outside”) um dos pontos baixos do álbum.

Subterreanean
Próxima parada: Seattle. Por razões óbvias, a bonita balada vem com uma carga sentimental e remonta a época do fim do Nirvana e da morte de Kurt Cobain. Foi gravado no mesmo estúdio onde o Nirvana pisou pela última vez. Com participação de Ben Gibbard, do Death Cab For Cutie,  um dos heróis das baladas indie rock.

I’m the River
Balada melodicamente bem construída, mas que escorrega no piegas com a entrada da orquestra. Em Nova York, ao invés de pisar na sujeira do punk do Bowery, do folk no Village ou no art-rock do Velvet Underground, a canção parece trilha sonora de um comercial de Natal na Times Square. Joan Jett toca guitarra, mas não imprime sua marca e fica escondida na excessiva produção.